Nascido a 7 de agosto de 1958, Paul Bruce
Dickinson já pode ser considerado uma grande lenda viva do Heavy Metal. Bruce
nasceu em Worksop, cidade que fica ao norte da Inglaterra. Ele foi criado por
seus avós e costuma dizer que foi um “acidente de nascimento” (qualquer
semelhança com o título de um de seus álbuns não é simplesmente coincidência).
“Meu avô sempre trabalhou muito duro”. Na verdade, o avô de Bruce é seu grande
modelo de homem, pois ficou praticamente toda a sua infância e adolescência com
ele.
Fez o primário em uma escola da pequena cidade antes de se mudar
com seus pais para uma cidade próxima a Sheffield. Ela um aluno sempre muito
presente e aplicado. Terminou a parte primária e o ginásio em uma escola pública
chamada Dundle. Aqui cabe contar a vocês um episódio que é no mínimo
imprevisível para quem não conheceu Bruce quando era adolescente. Com 16 anos,
sabemos como é mais ou menos a cabeça de um garoto, e Bruce estava naquela fase
do “sou revoltado, mas não sei bem por quê”. Bruce, para quem não sabe, era um
feroz simpatizante e membro declarado do National Front, partido popular de
extrema direita semelhante ao nazismo de Hitler, que cultuava a violência e o
ódio aos estrangeiros. O ex-professor de História de Bruce que o então garoto
chegou a interromper uma aula sobre política agitando uma bandeira e calando os
colegas aos gritos e que, mais tarde, teria incluído o nome do professor em uma
lista de “subversivos” do National Front.
Shots
(1ª banda de Bruce)
Aos 17 anos, Bruce foi estudar
História na Universidade de Londres e serviu à infantaria, apesar de sua altura
o tirar alguns privilégios. De volta à Sheffield, Bruce entrou em sua primeira
banda, mas não como vocalista; ele na verdade tocava bateria. Na época era uma
grande fã do movimento punk e escreveu algumas letras sobre o assunto, mas logo
em seguida decidiu que não era exatamente essa a direção musical que queria
tomar. Ainda teve tempo de
tocar em bandas como Xero, Speed e Shots, já nos vocais. Esta última banda foi o
trampolim de Bruce para sua carreira como vocalista, pois foi durante uma
apresentação no pub Prince of Walls que Paul Samson, guitarrista de uma das
bandas pioneiras do NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), o convidou para
tomar o posto de vocalista. Bruce, obviamente, aceitou o convite e com o Samson
gravou dois álbuns: “Survivors” e “Head On”. O Bruce Dickinson que conhecemos
hoje era conhecido por Bruce Bruce... Tudo bem, porque numa banda como o Samson,
esse tipo de nome mais “bizarro” era permitido mesmo... Em 1981, quando Bruce já
estava muito bem estabelecido como cantor, surgiu a grande oportunidade: Steve
Harris, baixista do Iron Maiden o convidou para um teste. Se conseguisse,
estaria aceitando a árdua tarefa de substituir Paul Di´Anno nos vocais. “Quando
passei, não estava exatamente preparado para o que iria acontecer. Ainda fiz
exigências para ficar na banda, do tipo não tocar com aquelas roupas de couro
que o Paul costumava usar”. Deu-se mal, porque foi exatamente o que ele fez,
como todos vocês sabem. Bruce terminou a turnê do Killers debaixo de muitas
vaias e desaprovação por parte dos fãs da Donzela. Mas todo esse rancor passou
logo depois do lançamento de “The Number of the Beast”. Bruce tornou-se uma
grande celebridade da cena nos anos 80 e acompanhou o Iron Maiden em seus
chamados “golden years”. Ele compôs diversas canções, das quais as mais
conhecidas provavelmente sejam “Flight of Icarus”, “Powerslave”, “Two Minutes to
Midnight” e “Can I Play With Madness”. Bruce muitas vezes opinou musicalmente no
Maiden. Falando menos de Iron Maiden e mais da vida pessoal do Bruce, ele passou
pelo casamento exatamente nessa época. Mas durou muito pouco. “Eu morava numa
enorme mansão. Sofri muito com a perda dessa pessoa, mas todos passam por essa
fase”. Bruce é um amante de esgrima. Praticava com muita freqüência e chegou a
representar o Reino Unido em alguns campeonatos. Já esteve em ótima posição no
ranking mundial, mas com o passar dos anos e com a diminuição no espaço de sua
agenda devido aos compromissos com o Maiden, a esgrima foi deixada um pouco de
lado. “Mas nunca deixei de praticar”. Por conta da esgrima, Bruce arranha um
pouco de francês e para a decepção daqueles que sempre ligaram seu nome ao gosto
pelo futebol, a decepção: Bruce nunca gostou de futebol. “O Steve é quem gosta.
Eu aprecio hugby e automobilismo, mas não pratico nenhum dos dois esportes, tão
pouco futebol”.
Em 1989, Bruce foi convidado para fazer a trilha sonora
do filme “Nightmare on Elm Street”, ou como conhecemos, “A Hora do Pesadelo”. A
música “Bring your Daughter to the Slaughter” integrou a trilha do filme e deu
uma brecha para que Bruce alcançasse seu primeiro vôo solo. Foi convidado a
gravar um disco sozinho, sem os companheiros do Iron Maiden. Para isso, convidou
Andy Carr para o baixo, Janick Gers, que estava assumindo o posto que era de
Adrian Smith no Maiden e Dickie Fliszar na bateria. Foi um disco mais cru do que
os fãs estavam acostumados a ouvir, com um vocal um pouco mais rasgado e
composições com menos “fundo histórico”. Surgiu assim, o “Tattooed Millionaire”,
e foi seguido de uma pequena turnê local para sua promoção e para reunir seus
amigos. Para a surpresa de Bruce, o álbum até que vendeu bem e superou as
expectativas. Entre as faixas mais conhecidas estão “Tattoed Millionaire”, “Born
in 58” e “All the Young Dudes”, clássico de David Bowie que Bruce pegou
emprestado.
Na mesma época, o Maiden entrou em estúdio para gravar o “No
Prayer for the Dying”, que foi um sucesso no mercado americano, mas que deixou
muitos fãs desapontados. O que era para ser uma “volta às raízes” do Iron,
acabou sendo uma alça que mais tarde detonaria a bomba de 1993: a saída de
Bruce. Já em “No Prayer...” ele não se sentia tão à vontade com os outros
músicos. Bruce queria fazer modificações no som da banda, que mantinha há anos o
mesmo tipo de sonoridade. Quando lançou “Fear of the Dark”, Bruce já havia
anunciado que estaria gravando mais um trabalho solo, mas sem ainda falar muito
de sua saída da banda. Nesse meio tempo, o baixinho casou-se pela segunda vez:
Paddy, a segunda esposa, está com ele até hoje. Ele tem três filhos, todos
aniversariantes no mês de maio: Austin, Griffin e Kia Michelle.
Mas aí
não teve mais jeito: quando os fãs se deram conta, Bruce Dickinson, que estava
no Maiden há mais de dez anos, finalmente deixa o grupo. Muda-se para Los
Angeles, onde conhece Roy Z e o Tribe of Gypsies e com eles começa seu trabalho
de composição e reciclagem de algumas músicas antes engavetadas por Steve Harris
e sua trupe.
Em 1994 sai o “Balls to Picasso”, que foi muito bem aceito.
Esse álbum ficou marcado pelas experiências musicais que Bruce fez juntamente
com Roy. “Cyclops”, “Sacred Cowboys” e “Tears of the Dragon” são faixas
completamente diferentes, tanto liricamente como musicalmente. Bruce consegue
finalmente o que queria: iniciar sua busca por uma identidade musical só sua.
Segundo ele, no Maiden, todos se prendiam a um determinado método de composição
e sozinho, ele finalmente teve liberdade de explorar outros temas que não
poderiam ser explorados antes. A turnê desse álbum passou pelo Brasil em 1995,
quando saiu também o “Alive in Studio A”, um duplo que na verdade não teve muito
a ver com os planos de Bruce.
Em 1996, de cabelo curto e banda nova,
Bruce lança o “Skunkworks” e prova que sua criatividade é muito maior do que
os preconceitos contra o
então bem sucedido estilo grunge. Os músicos que Bruce escolheu eram bem mais
novos do que ele e seguiam uma linha de som muito diferente da que Bruce estava
mais acostumado. Chris Dale ficava no baixo, Alex Dickson na guitarra e Alex
Helena na bateria; eles formavam o Skunkworks. Isso mesmo. Não era só o disco
que tinha esse nome. Bruce deixou de ser um artista solo e passou a integrar
esse quarteto, que durou apenas um ano em que foi gravado o álbum. A faixa mais
conhecida foi “Inertia”, que ganhou um vídeo clip e execuções nas rádios
brasileiras. De modo geral, Skunkworks não foi bem aceito pela cena de Metal e
nem pelos fãs. Chegou a ser taxado como “versão ruim de Soundgarden”.
Em
1997, Bruce voltou a trabalhar com Roy Z e chamou para dar uma forcinha Adrian
Smith, que estava envolvido com seu projeto solo. Nasceu o “Accident of Birth”,
álbum que marca a volta da sonoridade mais pesada e que chegava a soar como Iron
Maiden devido a participação de dois ex-membros do grupo. Faixas como “Accident
of Birth”, “Road to Hell” e “Darkside of Aquarius” trouxeram à tona a veia de
grande compositor e músico que Bruce definitivamente é. Ele tratou de
diferenciar o som, com a volta das baladas ao disco e com uma turnê incrível que
inclusive passou pelo Brasil.
Em 1998, Bruce continua seguindo a linha
do Heavy Metal e lança o “The Chemical Wedding”, aclamadíssimo pelo público e
pela crítica e que teve duas músicas ocupando as primeiras posições das rádios
brasileiras. Sua turnê passou pelo Brasil no ano seguinte, quando Bruce estava
decidido a gravar um álbum ao vivo e acabou nos escolhendo para tanto. Antes da
tão sonhada volta do Maiden, ele veio ao nosso país para gravar uma série de
shows para seu álbum. Foi de onde saiu o “Scream for Me Brazil”. “Escolhi o
Brasil para gravar esse álbum porque é o país que mais me acolheu aos meus
outros trabalhos. Amo o Brasil, e seus fãs são os mais fiéis do mundo” conclui
Bruce. Em 1999, Bruce volta ao Maiden e lança o Brave New World em 2000. Sua
última passagem pelo Brasil foi durante o Rock in Rio dia 19 de janeiro de 2001,
onde deixou claro que, pelo menos até 2003, ele é membro oficial do Iron.
Bruce Dickinson, além de músico e cantor, é esgrimista, escritor, piloto
de avião (ele é totalmente apaixonado por aviões; tem até seu próprio
instrumento de vôo e já pilotou aqui no Brasil algumas vezes), DJ em uma rádio
em Londres, além de pai de família e um dos maiores nomes da história do Heavy
Metal. Seu último lançamento é o duplo “Best of Bruce Dickinson”, que consiste
em um apanhado de faixas de seus melhores discos, além de músicas que foram
gravadas aqui e as novas “Silver Wings” e “Broken”. Elas já nos dão uma pequena
noção do que vem pela frente...
Retirado de: Jornal Rock News Ano II
– Ed. 20 – Nov 2001