
Ainda em 1997, o jornalismo investigativo manteve a sua prestigiada posição, destacando-se o "Na Rota do Crime", "Operação Resgate", "24 Horas" e "Câmera Manchete". No setor de variedades, "Uma História de Sucesso" mostrava o dia a dia de personalidades famosas da música e da televisão. A cobertura nacional da Manchete encontrava-se bastante debilitada devido aos grandes desfalques promovidos principalmente pela Rede Record, uma concorrente que havia crescido bastante desde os últimos dois anos e que naquele mesmo ano subiu para a terceira posição no ranking das redes brasileiras, lugar ocupado pela Manchete durante vários anos.
O início de 1998 foi marcado pela estréia de novas atrações na emissora. A transmissão do carnaval mais uma vez já tinha o seu espaço garantido, inclusive servindo como uma prévia para a Copa do Mundo da França. O motivo era justificado nas diversas vinhetas especiais produzidas, afirmando que aquele seria o "Carnaval da Copa". Não foi um show de bola, mas a Manchete deu uma goleada na cobertura dos desfiles, concursos de fantasias e bailes.
Em junho, toda a equipe da emissora instalou-se na França para a cobertura da última Copa do Mundo do século XX. De acordo com o que foi visto na estrutura de todas as redes de televisão do Brasil, os sorteios de 0900 reinaram bastante neste período, sorteando prêmios valiosos para os telespectadores que concorriam através de ligações telefônicas.
Analisando a sua posição diante do mundial da França, a Manchete infelizmente não obteve o sucesso esperado. Um grande prejuízo foi calculado, agravando-se cada vez mais com a proibição dos sorteios telefônicos, estes que contribuíam para um bom faturamento da emissora. Mas nada impediu a estréia de "Brida", novela baseada no best seller de Paulo Coelho. Apesar de abordar o esoterismo, uma temática bastante original dentro da teledramaturgia brasileira, a novela não alcançou as esperanças de conquistar elevados índices de audiência, obtendo apenas dois pontos no IBOPE. Sua situação agravou-se ainda mais com uma greve que se instalou na emissora no mês de outubro, motivada pelo atraso no pagamento de seus funcionários. Cada vez mais enfraquecida e sem esperanças para reerguer sua audiência, a novela "Brida" teve que ser encerrada às pressas diante do estouro da nova crise na rede, que demitiu cerca de 600 funcionários e extinguiu seis programas.
No lugar de "Brida", a Manchete colocou no ar a reprise da novela "Pantanal", o seu maior sucesso na área de dramaturgia. Uma grande quantidade de programas de televendas ocupou boa parte da programação da emissora, juntamente com desenhos animados japoneses e programas de videoclips. Nos finais de semana ainda ia ao ar o "Mexe Brasil", um animado musical que não retratava o grande drama que a emissora estava sofrendo naquele período. Em setembro de 1998, funcionários da Manchete de São Paulo colocaram no ar slides exigindo soluções para o caso, pois chegavam a passar fome diante da falta de salários.
Os problemas de dívidas que a Rede Manchete tinha com a recém privatizada Embratel passaram a ser descontados através dos cortes diários de seu sinal no satélite, entre as 23 horas da noite e 6 horas da manhã. O ato não apenas prejudicou o andamento das poucas emissoras que ainda continuaram a retransmitir a sua programação, como também contribuiu em seu faturamento publicitário, que naquele ano foi entre 20 a 30% menor que o do ano passado. Em 1997, a Manchete faturou cerca de 80 milhões de dólares.
Em janeiro de 1999, a situação permaneceu inalterada, mas tendeu a piorar ainda mais com a suspensão do "Jornal da Manchete" durante alguns dias. Diante do grave quadro, uma boa proposta surgiu para aliviar a crise na emissora. Nas pessoas de Sônia e Estevam Hernandez, a Igreja Renascer em Cristo, que possuía diversos espaços comprados na grade da Manchete, demonstrou um grande interesse em assumir o seu controle, da mesma maneira que havia feito com as rádios das empresas Bloch em 1998. Através de um contrato de arrendamento, a Renascer se responsabilizaria pelas finanças e pela programação da Manchete durante um período de 15 anos. A proposta foi aceita por Pedro Jack Kapeller, sobrinho de Adolpho Bloch e um dos herdeiros do grupo.
Mas a situação não obteve sucesso e após um mês nas mãos da Renascer, a Rede Manchete retornou ao comando da família Bloch em busca de soluções urgentes para o caso. O proposta de arrendamento com os representantes da entidade religiosa foi desfeito devido à falta de pagamento da primeira parcela do contrato e poucos funcionários que se encontravam com salários atrasados foram beneficiados.
Alguma providência deveria ser imediatamente tomada para solucionar não apenas os problemas de dívidas da emissora como também o destino de suas cinco concessões, que deveriam ter sido renovadas desde 1996 e corriam o risco de serem cassadas se nenhuma providência fosse tomada até o dia 18 de maio de 1999. Diante do quadro, diversos grupos se pronunciaram sobre o futuro da Rede Manchete, surgindo inclusive alguns boatos, como por exemplo o interesse dos Diários Associados assumir o seu comando da emissora como uma tentativa de ressuscitar a Rede Tupi de Televisão.
Antes desta data, a programação da emissora continuava bastante debilitada, com uma farta exibição de televendas, desenhos animados japoneses, séries, video-clips, o semanal "Mexe Brasil", além do "Jornal da Manchete", do "Prá Valer" com Celso Russomano e do "Se Liga Brasil", uma mesa de debates sobre a política nacional comandada por Carlos Chagas.
Nas proximidades do dia 18 de maio, diversas brigas judiciais marcaram os bastidores da Rede Manchete. O Grupo IBF, que já chegou a assumir o seu controle entre 1992 e 1993, entrou com uma ação judicial impedindo a venda da emissora, afirmando que ainda tinha algum poder sobre a mesma. Recorrendo do caso, o Grupo Bloch ganhou a causa e definitivamente pôde colocar a Rede Manchete em negociações, aguardando um eventual comprador.
Finalmente, após várias e demoradas reuniões, confirmou-se no dia 8 de maio de 1999 a venda da Rede Manchete para o Grupo TeleTV, organização presidida pelo empresário Amilcare Dallevo Júnior. O ato marcou o fim de uma novela que completaria 16 anos de existência em junho daquele mesmo ano e que sempre continuará presente na memória daqueles que foram os seus mais fiéis telespectadores.
Apesar das diversas crises enfrentadas ao longo de sua existência, a Rede Manchete não foi simplesmente mais um veículo de comunicação que existiu em nosso país. Foi uma verdadeira "história de sucessos" e uma fábrica de novos talentos que terá um capítulo bastante especial dentro da trajetória da televisão brasileira.
