Fábula
É uma fábula muito antiga e cada um a conta a seu modo. A mim foi contada assim.
Era uma vez uma multidão de peregrinos à cuja retaguarda deixou-se seguir, por parecer inofensivo, um estranho que haviam encontrado no deserto.
Certo tempo depois, chegando à encosta de uma grande montanha de aparência inexpugnável o líder da caravana voltou-se e com o braço erguido exclamou: "É aqui. Este é o lugar em que construiremos nossa cidade. Descarreguem os camelos!".
Os anos que se seguiram foram dedicados à construção de um grande palácio circundado por uma muralha e os peregrinos que haviam chegado irmanados na poeira do longo êxodo, agora se dividiam entre senhores e escravos.
Por isto alguns, insatisfeitos, por entenderem que aquele não era o país que tinham sonhado, reuniam-se, à noite, secretamente , liderados pelo estranho que surgira no deserto e decidiram, por fim, atravessar a montanha.
"Estão loucos!", murmuraram alguns e os mais intransigentes, senhores de muitas propriedades, ouvindo estes rumores, diziam que deviam ser postos a ferros e executados. Mas estavam muito ocupados com a partilha das terras e dos poderes e , além disto, eram menos com quem dividir. Por esta razão apenas o mais jovem , que não podia decidir por si, foi impedido de seguir.
Só muitos anos depois, um neto deste mesmo jovem, ouvindo as estórias do avô, encorajou-se a atravessar as montanhas de onde voltou com a notícia de que, do outro lado, o estranho havia fundado um país onde não havia amos nem servos e a terra era de quem a cultivasse.
Alguns acharam graça. "Puxou ao avô", disseram. O tirano, no entanto, ficou preocupado e mandou seus guardas para prendê-lo e apenas o impediu o pai, homem influente, que prometeu providenciar seu casamento para ver se criava juízo.
Uma noite, porém, o rapaz desapareceu.
Dizem uns que morto, a mando do tirano.
A crença do povo, contudo, é de que foragido para o outro lado da montanha de onde um dia há de voltar para chefiá-los.