Não passa.
Não é uma questão
de tempo.
Sobra na memória o tempo que me falta
mas o que sinto não vai comigo.
De pensar em ti, me surpreendo
pela vontade de ser visto.
Teus olhos me doem.
Dá calma fechar os meus
olhos e tudo que é meu
em um sono mentido,
descanso que o corpo não quer.
A inescapável existência,
deste, do qual não me livro.
Atos dos quais sou completamente consciente,
em sombras de cada um que fui eu me divido.
Acordavas no meio da noite para me dizer amor.
Deitados, conversando, por várias horas,
tua voz calma conta o que tens feito
e o gosto de tua boca me tira o receio
de ser o mesmo sonho que retorna.
De tão real, acordar assusta.
Mas por fim o dia se esquece,
enquanto aos dias o rosto muda, enruga, empalidece.
Na voz, mais indiferente, o que digo é bom,
mas no fundo, sempre no fundo, me mente.
Quer ser amadurecimento, a perda da vida.
Pensam ser bom ouvinte, este
que cada vez menos fala.
Engano o que aos outros mudo,
mas na verdade, cada vez mais, poucos se importam.
A letra, já mais para o próprio,
assina pensamentos, aos riscos.
E por trás de olhos que enxergam menos
teu rosto
e meu desejo, intato.
Do tempo, sei, passa
breve, não haverá mais testemunha disto.