Me pergunto se um dia, terei coragem de confessar tudo o que sinto por
você. Sei que você precisa que eu diga, ou que pelo
menos demonstre. Sei também que acabo magoando você, quando
me calo, ou pior, quando digo algo rude ou estúpido. Mas
como explicar, que quando faço ou falo algo assim, para mim
é um ato tão natural quanto respirar. Como explicar que é
um
modo de defesa, para não me magoar. Sei que é um modo
tolo e sem sentido, e que não adianta nada, quando o assunto é
você. Por mais que eu tente negar, você tem meu coração.
E isso me causa um medo terrível. Para mim é terrível
saber o quanto sou vulnerável a você. Às vezes, por
mais que eu tente
negar, tenho um medo terrível que um belo dia, você olhe
para mim e diga: "Adeus, foi bom enquanto durou." Acho que isso
me mataria, seria fatal, mais do que o ataque do pior inimigo. Sei
também que você ficaria furioso e magoado comigo se eu
revelasse esse meu pensamento.
Parece estranho, eu ter esse medo. Você, que a cada olhar, ou
a cada sorriso, demonstra todo o seu amor por mim. Como
fazer você entender minhas dúvidas, meus medos, minhas
inseguranças. Às vezes, acho que você não se
olha no espelho como
deveria. Se olhasse direito, talvez entendesse como me sinto. Não
consigo entender o que você viu em mim. Como uma pessoa
tão bela como você quer alguém como eu. Alguém
que da vida só conhece sofrimento, lutas, dor e rejeição.
Apesar do seu
passado como youko, você encarnou em um belo corpo, e é
amado incondicionalmente por sua família, por seus amigos, pelas
humanas idiotas que o seguem e o idolatram ... e por mim.
Queria ser bom com as palavras, como você é bom em tudo
o que faz. Se você soubesse como dói, ver a sombra de tristeza
cobrindo seus lindos olhos, e saber que a culpa é minha. Saber
que ao invés de dizer algo bonito, eu lhe magoei. Minha
vontade é correr para seus braços e pedir perdão.
Beijá-lo até que a sombra de tristeza se vá, e seu
olhos fiquem repletos de
paixão.
Eu queria poder esquecer o passado, e me entregar livremente a esse
amor que eu vejo em cada gesto seu. Em toda a atenção
e o carinho que você tem por mim.
Queria a cada minuto te encher de alegria. Queria te fazer sorrir, como
você me faz, apesar de eu esconder meus sorrisos de
você. Não sei como posso te magoar tanto e você
ainda pode estender os braços e dizer baixinho que me ama.
Me pergunto, se no fundo não tenho inveja de você. Penso
que só pode ser isso. Mas depois eu acho que não é
inveja, e sim
um ciúme louco de todas as pessoas que ficam perto de você.
Queria você só para mim.
Mas aí novamente eu te faço sofrer. Me sinto tão
miserável. Minha vontade é sumir no mundo, mas sou fraco
e acabo me
aninhando em seus braços e tentando me redimir, apagar a dor
que te causo, na cama. Talvez lá seja o único lugar onde
eu
expresse meus sentimentos por meios de carinhos e beijos.
Será que você nota o meu abandono, quando estou em seus
braços? Será que você entende a minha preocupação
com o seu
prazer? Será que você sabe que essa é a minha maneira
de dizer que eu te amo?
Penso no Yusuke, e no Kuwabara, e em seus entes amados. Será
que eles sabem realmente o que é amor? Eles não têm
idéia
do que seja esse sentimento. Se soubessem, fugiriam dele, como
eu mesmo tentei fugir. Negariam esse sentimento, apenas
para constatar que a luta é inútil.
É algo que não dá para se entender, algo que pode
doer tanto, e no minuto seguinte o prazer quase o deixa sem sentidos. É
um
fogo que corrompe minha alma, mais ardente que o dragão negro.
Por mais que eu negue, suas labaredas me invadem até que
não sobre mais nenhuma sensatez..
Queria poder dizer tudo isso a você. E apreciar o seu belo rosto
feliz com a minha declaração. Queria ser a luz que ilumina
os
seus dias. Mas sei que na maioria das vezes, sou a sombra que entristece
seu olhar. Me pergunto: como você pode me amar?
Logo eu, uma criança maldita que ninguém quis.
Seu passado me assusta. Tantos amantes, tantos amores. Todos me avisaram
que seus romances são rápidos como uma brisa
de verão. Que você se cansa logo, assim que deixa de ser
uma novidade. Quando senti seu cerco ao meu redor, minha vontade
foi de fugir, me refugiar no Makai. Se lembra disso? Mas qual foi minha
surpresa, quando você foi atrás de mim.
Fiquei pensando que eu representava apenas um desafio para você.
Eu no fundo sabia disso, afinal para mim era a única
explicação para toda a sua atenção, todo
o seu empenho em me conquistar.
Ah... se você soubesse como foi fácil para você.
Por mais que eu fugisse, não importava a distância, era só
eu fechar meus
olhos, que a sua imagem vinha à minha mente. Se você soubesse
como foi doloroso para mim, admitir esse sentimento.
Admitir esse amor.
Quando tivemos nossa primeira noite. Será que você percebeu
o meu medo? Eu espero sinceramente que não. Eu fiz muita
força para esconder isso de você. Eu sabia que estava
completamente perdido.
A cada noite, eu ia até você, como se não tivesse
mais domínio sobre meus sentimentos. E na realidade, não
tinha mais. Era
como se escutasse o seu chamado. Um chamado doce, suave e exigente
ao mesmo tempo. Quantas discussões com Mukuro
eu tive por sua causa. Ela sempre achou um absurdo eu me dividir assim.
Mas como explicar para ela, se era mais forte do que
eu, mais forte do que meu mais árduo controle.
Por mais que eu negue, você não precisa pedir nada, nem
ao menos me chamar. Vou simplesmente seguindo você. Sei de
todos os seus passos. Com quem você fala, de quem você
gosta. Sigo você o dia inteiro.
Mas não posso admitir isso. É demais para mim.
Eu sempre esperei que você disesse que tudo estava acabado. E
respirava aliviado quando você me perguntava, num tom meio
doce, pedinte e exigente, se eu voltaria na noite seguinte. Se você
soubesse como eu ficava feliz.
Mas sempre ficava com aquela sensação que você um
dia acabaria tudo. Afinal o sabor de novidade já passara há
muito
tempo. Mais uma vez minha surpresa, quando numa ida nossa ao Makai,
veria seu sentimento de posse em relação a mim.
Confesso que no momento não entendi nada, na realidade ninguém
entendeu. Como o sempre tão calmo Kurama, ficaria com
tanta raiva de uma piada vulgar. Na realidade, nunca pensei que eu
era tão importante assim para você.
À noite, quando fui ao seu quarto, senti sua dor. Havia dor em
cada gesto seu, em cada palavra sua. Como explicar esse medo
real para você. Uma certeza em meu íntimo. Afinal, mesmo
em um corpo humano, você ainda é Youko-Kurama, o mais cruel
e
perigoso ladrão do Makai. E sedutor por natureza. E eu ... apenas
um koorime renegado.
Ver sua dor me deixou desconfortável. Ver suas lágrimas
me deixou triste. Mas ainda assim não entendia sua revolta. Então,
você pensou que ninguém me avisara sobre você? Que
todas as suas conquistas eram deixadas de lado, quando aparecia algo
mais novo, mais excitante?
Eu sei que tive um sabor de desafio. Mas não tinha idéia
do quanto você me amava. Ou melhor, se você me amava. Quando
olhei em seus olhos, enxerguei além das lágrimas e vi
todo o amor. Me assustei quando você me segurou pelos ombros e me
sacudiu como se para me fazer acordar e ver a dimensão de seu
sentimento por mim.
Se eu fechar os olhos ainda posso ver sua expressão séria
e chorosa ao mesmo tempo, ao afirmar que nunca, e nem por
ninguém, jamais sentira o amor que sente por mim.
Eu sei que você queria que eu disesse o mesmo e vi sua dor quando
permaneci calado apenas olhando para você, me sentindo
pressionado e confuso com aquelas emoções que não
conseguia entender: alegria e dor. Uma mistura louca que doía e
aliviava
ao mesmo tempo.
Pensando com mais calma, acho que o que eu estava sentindo devia estar
estampado em meu rosto, porquê no momento
seguinte à sua declaração, você pareceu
pensar melhor e me abraçou, como se pedindo desculpas por eu não
poder dar o que
você queria tanto ouvir.
E me proibiu de pensar nisso. Na realidade me fez jurar que nunca duvidaria de seu amor por mim.
É nessas horas em que me sinto pior ainda. Como você pode amar assim, à espera de algo que talvez eu nunca te dê?
Será que um dia você saberá de tudo isso? De todas as emoções que parecem me sufocar?
Quando estamos juntos, depois de um amor louco, selvagem, eu tento,
juro que tento lhe falar coisas bonitas, amorosas como
você faz. Mas a única coisa que consigo fazer é
te abraçar, abraçar bem forte, sentindo aquele medo bobo,
como você mesmo
fala, de te perder.
Às vezes eu acho que estou ficando louco, como agora. Estou sentado
à sua escrivaninha, diante de uma folha de papel em
branco, segurando uma caneta, tentando colocar no papel tudo o que
eu sinto por você. Isso parece loucura, mesmo. Eu devia
estar na cama, junto de você, dormindo, afinal foi um começo
de noite bem agitado para nós. E eu tive um dia bem cansativo
no Makai.
A folha continua em branco e eu olho para a caneta como se ela pudesse
escrever sozinha. Droga! Não pensei que seria tão
difícil assim. Estava tudo planejado. Eu escreveria, deixaria
a folha aqui em cima, e iria embora. Quando você acordasse, leria
e
seria o meu presente, afinal o seu foi um jantar incrível e
uma noite maravilhosa. O meu seria esse.
Seria bom, afinal estamos comemorando juntos esse dia. Algo me diz que devo isso a você.
Maldição! Por que não consigo escrever umas míseras
linhas? Essa raposa faz isso parecer tão fácil. Ele fica
horas escrevendo,
concentrado. Eu já estou aqui há algum tempo e nada.
A folha continua em branco, acusadora. Eu devo ser muito burro,
mesmo...
"Vai me deixar um bilhete, Hiei?" A voz rouca de sono penetrou na mente
de Hiei e ele sobressaltou-se. Hiei virou-se para
olhá-lo. Kurama estava sentado na cama, o lençol cobrindo
seu dorso nu.
"Hiei, estou falando com você. O que houve?" Kurama não
parecia estar entendendo porquê Hiei estava sentado à
escrivaninha, segurando a caneta como se sua vida dependesse dela.
Hiei permaneceu calado, enquanto Kurama se levantou da cama e andou
até ele. "Aconteceu alguma coisa? Você está se
sentindo bem? O jantar te fez mal?" Kurama já estava ficando
incomodado com o silêncio de seu amante.
"Vamos," Hiei se levantou e puxou o youko em direção à cama.
"Agora? Não está cansado?" Kurama estava surpreso. O que estava acontecendo com seu koorime?
"Não quer?" Hiei considerou aquela possibilidade. O que ele queria
era desviar a atenção de Kurama de sua atitude, fazê-lo
calar-se, fazendo amor com ele.
"Hiei, você não está pensando aquelas besteiras
novamente, não é?" Kurama mal teve tempo de terminar a frase,
com Hiei
derrubando-o na cama, colando os lábios aos dele. Depois do
longo beijo de tirar o fôlego, Kurama não conseguia completar
mais seus pensamentos.
"Hiei... eu ... o-o que está havendo?... me responde ... ah...
não..." Kurama ainda insistia, mas estava cedendo, era difícil
pensar em outra coisa com Hiei percorrendo seu corpo daquele jeito.
O youko segurou Hiei, puxando-o até seus rostos
ficarem quase colados, numa última tentativa.
"Hiei, que aconteceu?"
"Nada. Pare de falar, youko." Com essas palavras, Hiei deu fim à
tentativa de Kurama de saber o que passava na cabeça de
seu pequeno amante, e afinal ele se entregou completamente às
carícias, sem pensar em mais nada.
O que aconteceu em seguida foram momentos raros de prazer, que para
ambos pareceram horas. Aonde cada beijo e carícia
era uma nova descoberta. A noite parecia mágica e irreal, como
se Kurama pudesse adivinhar o que Hiei queria dizer com seus
gestos.
Quando ambos conseguiram respirar normalmente, ficaram imóveis,
como que com medo de que qualquer movimento
quebrasse aquele momento mágico e único. Aos poucos,
a respiração deles foi se acalmando, juntamente com as batidas
de
seus corações.
Depois de alguns minutos, Hiei com cuidado levantou a cabeça
do peito de Kurama e olhou para seu rosto. Seus olhos
estavam fechados, seus lábios entreabertos, a respiração
pausada. Se Kurama pudesse ver a expressão no rosto do koorime,
veria todo o amor que Hiei não conseguira exprimir com palavras.
Hiei se moveu lentamente para não acordar Kurama e como se não
conseguindo se conter, beijou delicadamente os lábios do
amante. Um beijo doce. Ainda com os lábios colados aos de Kurama,
sussurrou bem baixinho: "Eu te amo."
Hiei ainda olhou por mais alguns instantes o rosto belo e cansado do
amante, rezando para que o youko pudesse entender
como ele se sentia, através do ato de amor físico, já
que com as palavras ele não conseguia se expressar.
As pálpebras de Hiei começaram a pesar e ele ainda tentou
lutar contra o sono, querendo continuar a namorar o rosto
adormecido de Kurama mais um pouco, mas afinal cedeu ao sono. Quase
que inconscientemente, aconchegou-se junto ao
tórax de Kurama, e num suspiro feliz, caiu em sono profundo.
Depois de alguns minutos, uma lágrima solitária escorreu
pela face de Kurama. Seus dedos tocaram os próprios lábios
como se
ainda sentindo neles o beijo doce e suave de Hiei. Os braços
do youko envolveram o corpo de Hiei, como se o koorime fosse
algo raro e frágil. O corpo de Kurama se sacudiu em leves soluços
que ele não conseguiu controlar.
Kurama beijou a testa de Hiei, dizendo bem baixinho:
"Eu também te amo muito."
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