Originalmente,
quer dizer a arte do diálogo, da contraposição de
idéias que leva a outras idéias. O conceito de dialética,
porém, é apropriado por diferentes doutrinas filosóficas
e, de acordo com cada uma delas, assume um significado distinto.
Para
Platão (427 a.C.-347 a.C.?), a dialética é sinônimo
de filosofia, o método mais eficaz para se aproximar as idéias
particulares das idéias universais ou puras. Para ele, apenas por
meio do diálogo o filósofo pode procurar atingir o verdadeiro
conhecimento, partindo do mundo sensível e chegando ao mundo das
idéias. É a técnica de perguntar, responder e refutar,
que ele teria aprendido com Sócrates (469 a.C.-399 a.C.). Por meio
da decomposição e da investigação racional
de um conceito, chega-se a uma síntese, que também deve ser
examinada, num processo infinito que busca a verdade.
Aristóteles
(384 a.C.-322 a.C.) define a dialética como a lógica do provável,
do processo racional que não pode ser demonstrado. “Provável
é o que parece aceitável a todos, ou à maioria, ou
aos mais conhecidos e ilustres”, diz o filósofo.
O alemão
Emmanuel Kant (1724-1804) retoma a noção aristotélica
quando define a dialética como “lógica da aparência”.
Para ele, a dialética é uma ilusão, pois se baseia
em princípios que, na verdade, são subjetivos.
Dialética
e História – No início do século XIX, Friedrich Hegel
(1770-1831) apresenta a dialética como um movimento histórico
do espírito em direção à autoconsciência.
É um processo movido pela contradição: uma tese inicial
se contradiz e é ultrapassada por sua antítese. Por sua vez,
essa antítese, que conserva elementos da tese, é superada
pela síntese, que combina elementos das duas primeiras, num progressivo
enriquecimento.
Hegel
usa esse processo para justificar uma unidade entre espírito e natureza,
conciliando conceitos religiosos e científicos. Segundo ele, a História
da humanidade cumpre uma trajetória dialética que é
marcada por três momentos: tese, antítese e síntese.
O primeiro vai das civilizações orientais antigas até
o surgimento da Filosofia na Grécia. Hegel o classifica como objetivo,
porque considera que o espírito está imerso na natureza.
O segundo é influenciado pelos gregos, mas começa efetivamente
com o cristianismo e termina com Descartes. É um momento subjetivo,
no qual o espírito toma consciência de sua existência
e surge o desejo de liberdade. O terceiro, ou a síntese absoluta,
acontece a partir da Revolução Francesa, quando o espírito
consciente controla a natureza e o desejo de liberdade se concretiza na
concepção do Estado moderno.
Dialética marxista – Karl Marx (1818-1883) e Friederich Engels
(1820-1895) reformam o conceito hegeliano de dialética: utilizam
a mesma forma, mas introduzem um novo conteúdo. Chamam essa nova
dialética de materialista, porque o movimento histórico,
para eles, não é produzido pelo espírito. Consideram
que o espiritual é apenas um produto derivado das condições
materiais da vida.
A dialética materialista analisa a História do ponto de vista
dos processos econômicos e sociais e a divide em quatro momentos:
Antiguidade, feudalismo, capitalismo e socialismo. Cada um dos três
primeiros é superado por uma contradição interna,
que eles chamam de “germe da destruição”. A contradição
da Antiguidade é a escravidão. Do feudalismo, os servos.
Do capitalismo, o proletariado. E o socialismo seria a síntese final,
em que a História cumpre seu desenvolvimento dialético.