O IDIOTA DO CELULAR
Jaime Cimenti
O idiota do celular deve ser (ou pensa que é) uma pessoa muito, muito importante, um vipizíssimo. Quando o idiota está com o aparelhinho no ouvido, no fundo, no fundo, deve sentir- se, no mínimo, um presente de Deus para a humanidade. Será mesmo? O idiota do celular, provavelmente, tem assuntos urgentíssimos e transcendentes para tratar enquanto fala
na maravilha tecnológica e caminha no parque ou anda de bicicleta ao mesmo tempo ou quando, arriscando a sua preciosa vida e a dos outros, conversa no celular e dirige, só com a outra mão, perigosamente, seu precioso automóvel.Os assuntos essenciais Dele não podem esperar e o celular toca no meio do velório, da palestra, da operação cirúrgica, do cinema, da sessão de terapia ou de análise, da peça do teatro, da sessão parlamentar ou espírita, da transa e, claro que, o idiota, na mesa do restaurante, não pode deixar de atender o celular e conversar suas intimidades públicas em altos brados, utilizando todas as palavras que as outras pessoas querem
ou não ouvir. O idiota precisa usar o aparelho e assumir aquele ar de quem está dando, em seu iate de 60 metros, uma coroinha para o Bill Gates.Mas no fundo, lá no íntimo, o dono do celular é até bem humano e tem um pânico amazônico de que o telefone não toque jamais. O proprietário do telefone é carente digital, não quer ficar sozinho, isolado e, se o aparelho não tocar nunca, aí, então, para ele, a única solução será se atirar do trigésimo oitavo andar de um edifício do centro de Nova lorque, segurando, é óbvio, o celular, como se fosse um salva-vidas e aguardando uma última e inútil ligação, quem sabe, do seu corretor de ações ou da tia milionária que ficou de lhe presentear uma grana azul.
No fundo é preciso ter pena do idiota do celular, coitadinho. Quando estiveres tomando banho de rio, de cascata ou de praia, quando estiveres no meio do mato ou do deserto fazendo um trekking, quando estiveres namorando a Sharon Stone ou o Antonio Banderas, quando estiveres tomando um chá de jasmim com o Buda, um cafezinho com o Papa ou conversando com Deus, dá uma paradinha e liga para o idiota de celular. Ele vai achar o má-xi-mo, como diz a Danusa Leão, aquela senhora elegante, delicada e sabedora das coisas que, certamente, não é nenhuma idiota de celular.