Bossa Nova
Samba da Benção
Vinícius de Moraes
É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba não
fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
Um bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não
Um pouco de amor, uma cadencia
Vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje é branco na poesia
Ele é negro e demais no coração
Etre heureux c'est plus ou moins ce qu'on cherche
J'aime rire chanter et je n'empêche
Pas les gens qui sont bien d'être joyeux
Pourtant s'il est une samba sans tristesse
C'est un vin qui donne pas l'ivresse
Un vin qui ne donne pas l'ivresse
Non ce n'est pas la samba que je veux
J'en connais que la chanson incommode
D'autres pour qui ce n'est rien qu'une mode
D'autres qui en profitent sans l'aimer
Moi je l'aime et j'ai parcouru le monde
En cherchant ses racines vagabondes
C'est la chanson de samba qu'il faut chanter
On m'a dit qu'elle venait de Bahia
Qu'elle doit son rythme et sa poésie
À des siècles de danses et de douleur
Mais quel que soit le sentiment qu'elle exprime
Elle est blanche de forme et de rimes
Blanche de forme et de rimes
Elle est nègre bien nègre dans son coeur
Mais quel que soit le sentiment qu'elle exprime
Elle est blanche de forme et de rimes
Blanche de forme et de rimes
Elle est nègre bien nègre dans son coeur
Mais quel que soit le sentiment qu'elle exprime
Elle est blanche de forme et de rimes
Blanche de forme et de rimes
Elle est nègre bien nègre dans son coeur
Elle est nègre bien nègre dans son coeur
Garota
de Ipanema
Vinicius de Moraes - Antônio Carlos Jobim / João Gilberto
- Astrud Gilberto
Olha que coisa mais linda,
mais cheia de graça
É ela menina
que vem que passa
Num doce balanço
caminho do mar
Moça do corpo dourado
do sol de Ipanema
O seu balançado
é mais que um poema
É a coisa mais linda
que eu já vi passar
Ah, porque estou tão sozinho
Ah, porque tudo e tão triste
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
que também passa sozinha
Ah, se ela soubesse
que quando ela passa
O mundo sorrindo
se enche de graça
E fica mais lindo
por causa do amor
Tall and tan
and young and lovely
the girl from Ipanema
goes walking
and when she passes
each one she passes
goes ahhh
When she walks
she's like a samba
that swings so cool
and sways so gently
that when she passes
each one she passes
goes ahhh
Oh, but he watches so sadly
How can he tell her he loves her
Yes, he would give his heart gladly
but each day when she walks to the sea
she looks straight ahead not at he
Tall and tan
and young and lovely
the girl from Ipanema
goes walking
and when she passes
he smiles but she doesn't see
she just doesn't see
Insensatez
Tom Jobim / Vinicius de Moraes
A insensatez
Que você fez
coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor
o seu amor
um amor tão delicado
Ah porque você
foi fraco assim
assim tão desalmado
Ah, meu coração
quem nunca amou
não merece ser amado
Vai meu coração
ouve a razão
usa só sinceridade
Quem semeia vento,
diz a razão,
colhe sempre tempestade
Vai meu coração
pede perdão
perdão apaixonado
Vai porque quem não
pede perdão
não é nunca perdoado
Tarde em Itapoã
Vinícius de Moraes
Um velho calção de banho
O dia prá vadiar
Um mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar
Depois na praça Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de coco
É bom
Passar uma tarde em Itapoã
Ao sol que arde em Itapoã
Ouvindo o mar de Itapoã
Falar de amor em Itapoã
Enquanto o mar inaugura
Um verde no vinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha
E com olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo A terra toda rodar
É bom
Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz
E o diz que diz que macio
Que brota dos coqueirais
E nos espaços serenos
Sem ontem nem a manhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapoã
É bom
Canto de Ossanha
Baden Powell e Vinícius de Moraes
O homem que diz "dou" não dá
Porque quem dá mesmo não diz
O homem que diz "vou" não vai
Porque quando foi já não quis
O homem que diz "sou" não é
Porque quem é mesmo é "não sou"
O homem que diz "tô" não tá
Porque ninguém tá quando quer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha, traidor
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor
Vai, vai, vai, vai, não vou
Vai, vai, vai, vai, não vou
Vai, vai, vai, vai, não vou
Vai, vai, vai, vai, não vou
Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor que passou
Não, eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor
Amigo sinhô, saravá
Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha, não vá
Que muito vai se arrepender
Pergunte pro seu Orixá
O amor só é bom se doer
Pergunte pro seu Orixá
O amor só é bom se doer
Vai, vai, vai, vai, amar
Vai, vai, vai, sofrer
Vai, vai, vai, vai, chorar
Vai, vai, vai, dizer
Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor que passou
Não, eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor
Viramundo
Gilberto Gil e Capinan
Sou viramundo virado
Nas rondas da maravilha
Cortando a faca e facão
Os desatinos da vida
Gritando para assustar
A coragem da inimiga
Pulando pra não ser preso
Pelas cadeias da intriga
Prefiro ter toda a vida
A vida como inimiga
A ter na morte da vida
Minha sorte decidida
Sou viramundo virado
Pelo mundo do sertão
Mas inda viro este mundo
Em festa, trabalho e pão
Virado será o mundo
E viramundo verão
O virador deste mundo
Astuto, mau e ladrão
Ser virado pelo mundo
Que virou com certidão
Ainda viro este mundo
Em festa, trabalho e pão
Aquarela
Toquinho
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é facil fazer um castelo
Com um lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu
Vai voando, contornando a imensa curva norte-sul
Vou com ela viajando Havai, Pequim ou Istambul
Pinto um barco à vela branco navegando
É tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo
Um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo
Sereno indo
E se a gente quiser
Ele vai pousar
Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida
De uma América à outra eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega num muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
de uma aquarela que um dia enfim Descolorirá
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo - que descolorirá
E com cinco ou seis retas é facil fazer um castelo - que descolorirá
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo - que descolorirá
Tonga da mironga
Toquinho - Vinicius
Eu caio de bossa
eu sou quem eu sou
eu saio da fossa
xingando em nagô
Você que ouve e não fala
você que olha e não vê
Eu vou lhe dar uma pala
Você vai ter que aprender
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê
Eu caio de bossa
eu sou quem eu sou
eu saio da fossa
xingando em nagô
Você que lê e não sabe
você que reza e não crê
você que entra e não cabe
você vai ter que viver
Na tonga da mironga do kabuletê
Na tonga da mironga do kabuletê
Na tonga da mironga do kabuletê
Você que fuma e não traga
e que não paga pra ver
vou lhe rogar uma praga
eu vou é mandar você
Pra tonga da mironga do kabuletê
Pra tonga da mironga do kabuletê
Pra tonga da mironga do kabuletê