Jorge Lucio de Campos



Wassily Kandinsky. Composição VIII, 1923.


APRESENTAÇÃO DE DO SIMBÓLICO AO VIRTUAL

Francisco Inácio Pinkusfeld Bastos

Dizia Marx que "a educação dos cinco sentidos é trabalho de toda história universal até agora", idéia retrabalhada entre nós pela poesia de Haroldo de Campos e pelo ensaio de Roberto Romano. "Educação" retomada pelo livro de Jorge Lucio de Campos quanto às metamorfoses do olho, da visão e do espaço. Metamorfoses de uma paisagem - a montanha de Sainte-Victoire e as suas sessenta versões através dos olhos e das mãos de Cézanne; metamorfoses da percepção individual da espacialidade, na psicologia genética de Piaget e sua idéia não-apriorística e construtiva da visualidade; metamorfoses dos padrões históricos da expressão visual e da leitura do espaço pelas diferentes cosmologias - de Parmênides e Demócrito à modernidade, passando por Aristóteles ou o Quattrocento, a que Jorge Lucio nos conduz através do eixo de estudos Riegl-Cassirer-Panofsky.

Em todo percurso de mudanças, a afirmação de que a história das artes visuais reclama, por um lado, a especificidade e o detalhe que permitam divisar a sua espessura própria, o seu sistema próprio de signos e, por outro, esteja em relação com o movimento geral da cultura e da filosofia, a sucessão das formas de ver e pensar o mundo, das epistemes segundo o conceito foucaultiano. Espessura que favorece as relações não mecânicas e não simplistas entre contexto sociocultural e formas de percepção e expressão visual, como no poema de Sebastião Uchoa Leite em que o Nordeste da infância se retrata na pintura de Klee: "Algumas coisas têm linha desigual / As barracas populares / Do nordeste com seleções cromáticas / Desiguais: iguais em Paul Klee". E como diz ainda o poeta: "Há uma linha que atrai / Oculta na profusão cromática". Linha da inteligibilidade do visual, linha que Jorge Lucio de Campos persegue com sucesso - Do simbólico ao virtual, um livro da coleção Debates da Editora perspectiva.


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