Jorge Lucio de Campos



Wassily Kandinsky. Improvisação 28, 1912. 


APRESENTAÇÃO DE ARCANGELO

Ivo Barbieri

Arcangelo, Prêmio UERJ 40 anos, de Jorge Lucio de Campos oferece ao leitor vária leitura. As alusões aos autores do autor (poetas, ficcionistas, pintores) ficam conectadas com o leitor através de filtros, cortes, colagens. Monta-se assim um espaço poético compósito, múltiplas camadas plásticas e múltiplos tempos culturais.

Se a referência da origem é a criação helênica, o mapa-mundi é a tradição do ocidente: com suas utopias e fracassos, seus mitos e arabescos. Pletora de sentido e nonsense. Tributário de uma cultura herdada aos trambolhões; o fluxo poemático de Jorge Lucio constitui um conjunto unitário. Da Grécia clássica (Homero) à latinidade européia (Miró) e latino-americana (Borges), faz-se o mosaico embebido nos mares que banham o contraditório, decadente, renascente ocidente. A letra do autor assemelha-se ao fio de Penélope tecendo/destecendo o manto mítico. "Joyce revisitado" talvez seja a sede nuclear de um redemoinho de imagens que aludem a um mundo submerso, de explicação ambígua, porque, ao mesmo tempo, recolhe resíduos de um naufrágio e nomeia embriões que desejam nascer.

Ler Arcangelo é postar-se em atalaia ante um museu que desfila, pelo avesso, quadros despregados de perspectivas surradas desafiando o olhar disposto a refazer o caminho que nenhuma jornada esgota.


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