Jorge Lucio de Campos



Eric Fischl. Menino mau, 1981.


TILLY

He travels after a winter sun,
Urging the cattle along a cold red road,
Calling to them, a voice they know,
He drives his beasts above Cabra.

The voice tells them home is warm.
They moo and make brute music with their hoofs.
He drives them with a flowering branch before him,
Smoke pluming their forehead.

Boor, bond of the herd,
Tonight stretch full by the fire!
I bleed by the black stream
For my torn bough!
 

A MAIS

Sob um sol de inverno ele viaja
E o gado tange pelo chão ardente.
Por Cabra, as reses vai guiando,
Aos brados, sempre em frente.

Sua voz lhes diz estarem perto.
Elas o seguem: os cascos batem, mugindo.
Galho em flor à mão, ele as conduz
E uma fumaça vai subindo.

Campônio, esteio da manada,
Junto ao fogo, à noite, deitado!
Sangro à beira do regato negro
Por este meu galho arrancado!  
 

ON THE BEACH OF FONTANA (*)

Wind whines and whines the shingle,
The crazy pierstakes groan;
A senile sea numbers each single
Slimesilvered stone.

From whining wind and colder
Grey sea I wrap him warm
And touch his trembling fineboned shoulder
And boyish arm.

Around us fear, descending
Darkness of fear above
And in my heart deep unending
Ache of love!
 

NA PRAIA DE FONTANA

Sobre o cascalho, o vento aponta,
Range o cais desconjuntado;
Mar que, louco, leva em conta
Cada seixo enlodado.

Do vento uivante o preservo,
Como de um frio mar senil.
Em seus formosos ombros pego
E no seu braço meninil.

À nossa volta, só temor
Mais acima, a pura treva.
Bem no peito, a eterna dor
Desse amor que nos enleva!  
 

ALONE (*)

The moon's greygolden meshes make
All night a veil,
The shorelamps in the sleeping lake
Laburnum
tendrils trail.

The sly reeds whisper to the night
A name - her name -
And all my soul is a delight,
A swoon of shame
 

A malha gris da lua tece
Um véu, à noite, dourado.
Junto ao lago que adormece,
Laburno, ao léu, rojado.

À noite sopram caniços
Um nome - o dela -
E toda minha alma é isso,
Um pejo que se vela.  
 

BAHNHOFSTRASSE

The eyes that mock me sign the way
Whereto I pass at eve of day,

Grey way whose violet signals are
The trysting and the twining star.

Ah star of evil! star of pain!
Highhearted youth comes not again

Nor old heart's wisdom yet to know
The signs that mock me as I go.
 

BAHNHOFSTRASSE

Olhos de mim troçam no caminho
Que à noite eu trilho sozinho.

Caminho cinza e violeta,
De idílio e trama de estrelas.

Ah estrela do mal, do sofrer!
Saber que um dia hei de ter.

Viço que não voltará,
Olhos que não param de troçar!  
 

ECCE PUER (*)

Of the dark past
A child is born
With joy and grief
My heart is torn

Calm in his cradle
The living lies.
May love and mercy
Unclose his eyes!

Young life is breathed
On the glass;
The world that was not
Come to pass.

A child is sleeping:
An old man gone.
O, father forsaken,
Forgive your son!
 

ECCE PUER

Do passado negro
Um menino surge.
De alegria e dor
Meu peito urge.

Na paz do berço
candura;
Que amor lhe
Tenham, ternura.

Atrás do vidro,
Ele respira.
Mundo que nem era,
conspira.

Criança que dorme.
Velho que se vai.
Perdoa o filho
Ingrato, meu pai!

(*) Publicados na revista Cacto, 1, agosto, 2002, pp. 138-40.


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