Jorge Lucio de
Wassily
Kandinsky. Várias
Marcelo
O historiador da
Este ossuário de imagens, columbário de utopias serve de arena para o embate intelectual e sensível da presente edição de escopo teórico. A reedição, ampliada e enriquecida, de A vertigem da maneira desponta como inédito esforço de mapeamento bibliográfico e criterioso estudo analítico da cristalização do paradigma pós-modernista na artesania eclética e na vacuidade simbólica da pintura norte-americana e européia oitentista.
O autor, filósofo, crítico e poeta, Jorge Lucio de Campos, transita, com desenvoltura conceitual e precisa escritura, pela movediça cadência de duas cenas finisseculares: a cultivada crise da representação mimética sustentada pela religião do choque das vanguardas históricas e o cenário de pastiche e de esmaecimento de afetos de artistas atuais como David Salle, Julian Schnabel, Sandro Chia e Carlo Maria Mariani.
No estilhaçado horizonte do colapso de idéias hodierno, onde o presente parece sepultado no retorno do mesmo da impotência programática de interpretação política de um real cindido, a mirada crítica tem vigoroso papel. Sua esfera de atuação compreende-se na discussão do risco de experimentações artísticas encapsuladas, ou neutralizadas pelo poder reificante do mercado e institucionalização da arte. O texto de Jorge Lucio interroga a paralisia diante do compromisso histórico de parte da produção contemporânea, nas artes plásticas. No compasso das pesquisas de Fredric Jameson e Julia Kristeva, A vertigem da maneira esboça um instigante comentário sobre a alteração dos processos de subjetivação na arte atual, realizando que as novas doenças da alma trincam o tecido estético pelo desagregador traço da psicose.
O presente ensaio, ao resgatar um recorte artístico recente, redimensiona marcantes cifras de leitura da arte contemporânea: sensualismo hedonista, ansiedade de identidade, pastiche, tensões plagiotrópicas em relação a todas paisagens criativas ocidentais e um ethos melancólico em relação à perda da malha teórica utópica das experiências modernistas. A percepção do circuito de tais operadores de leitura auxilia e sedimenta o horizonte de enfrentamento do mal-estar da forma do trabalho estético anunciada pelo capitalismo avançado.