AS ARTES VISUAIS NO BECO SEM SAÍDA DA CRÍTICA E DO OCASO
Moisés Liporage
Em A vertigem da maneira - Pintura e Vanguarda nos Anos 80, Jorge Lucio de Campos rastreia o contexto pós-moderno nas artes, que surge, ora como discurso de crise, ora como apologia do acaso. O termo vem sendo usado nos âmbitos mais diferentes por pintores, literatos, sociólogos, estetas, filósofos e arquitetos: sem coincidências de processamento, o grosso das leituras gera contradições. Está aí o principal interesse do volume - Jorge Lucio, se não desata todos os nós da questão do pós-moderno, se esforça por afrouxá-los um pouco, com frescor e coerência intelectual.
A vertigem da maneira localiza o conceito de vanguarda do ponto de vista estético, analisa o seu background histórico e apresenta a pintura dos anos 80. Como herança da crise, houve um questionamento do discurso artístico: o impasse de conteúdo do modernismos, vanguardismos e pós-modernismos desembocou no formalismo e em sua radicalização, a esterilidade absoluta. Para o autor, a situação atual da arte seria de penúria: rançosa, excessiva e repetitiva. O ato de transgredir teria resvalado na burocratização,.
A prática pictórica 'oitentista' tendeu para a alegoria revisionista, assumindo uma postura metalingüística. Em nossa época, existe um comprometimento com a ordem do simulacro. Para os pintores da década de 80, os estilos deixaram de encarnar uma apoteose do gênio e passaram a se comportar como meros signos operatórios. O modernismo tinha decretado o divórcio entre indivíduo e cultura, defendendo, a todo custo, o objetivo autônomo como ideal de liberdade e transcendência. Os artistas pós-modernos vêm tentando abolir aquele divórcio - crêem ser um contra-senso fomentar antagonismos entre o fato e seu entorno: na década passada, aspiraram, portanto, à recuperação da continuidade objeto-mundo.
Nos anos 80, viu-se a atuação de vigorosos mecanismos mercadológicos, com a priorização máxima do economicamente viável no seio do capitalismo pós-industrial. O 'sucesso' das transgressões acabou então por guiar todas as caminhadas para um solitário beco sem saída.
O Globo, 2/1/94.