−Jorge Lucio de
René Magritte. O
MATILHA
a Joseph Beuys
Ouso o que
não posso -
o branco é
que me diz
(um pouco
lousa e
aquarela) -
“Não há
a menor
maldade
na criação”
OVELHA NA NEVE
a Joseph Beuys
A neve cai -
pó dourado
sobre um
galho em
que adormece
um grilo
cinza
A PONTE DE MAINCY
a Paul Cézanne
1
Na fase escura do dia
o corpo divino se arqueia e colhe
flores empastadas
(cortes retos de tristeza)
2
Tudo é só contraste -
a panela
arde de
esguelha
seguidas romãs
3
Há no riacho
um vazio
mas nem tudo
é parte da vida
4
Nada se move
sequer o relógio
as frutas na toalha -
as vasilhas e bordas
descarnadas
5
O pincel
resseca a
natureza
com gestos
curtos de
ar livre
6
Um prado se
esgota no verde
de um ramo
de almíscar
7
Num mosaico
extremo, o dia
tinge a sombra
de um pássaro
8
Urramos juntos
as frondes de
óleo sobre tela
9
Na paleta, um
pequeno barco
risca o fundo e
depois, afunda
o mar
A DAMA DO ARMINHO
a Leonardo da Vinci
Há cores oblíquas
no cabelo da dama -
nas mais escuras
as mais claras
Um parapeito de
pedra na beleza -
um eco de arminho
(pico de montanha)
Foi o que eu vi
naquele rosto inteiro
em que se ajusta
a pressa do tempo
EUCLIDES
a Max Ernst
De manhã. Um pássaro canta, mais
largo que o vento
- tudo escorre
no vão da cena (onde o céu é um
escudo e a chuva
um olhar que avança).
A alegria transborda sem saber de
nada.
Um peixe se acende e salta entre as
ondas.
Depois se dissolve e uma noz
monstruosa
se instala, de vez, no coração
do mundo.
BRYCE CANYON TRANSLATION
a Max Ernst
Vivemos sempre asim: as
bocas cobertas de musgo
não são tão terríveis. As
nuvens fatiam o infinito
Há toda uma vida de exímia
técnica no esplendor diurno. Um
navio imerso ressona e seus cílios
riscam a flor do horizonte