As línguas antigas da Itália |
A língua etrusca
Introdução
O alfabeto etrusco mais antigo conhecido foi achado num túmulo em Marsiliana, com 26 letras, das quais as 22 do alfabeto fenício e os sinais acrescentados pelos gregos.
A existência dos sinais gregos atesta que foram deles que os etruscos receberam o alfabeto. Os especialistas, contudo, divergem sobre a origem desse préstimo. Uns defendem que foi das colônias gregas do sul da Itália, notadamente de Cumas, fundada ao norte de Nápoles por colonos gregos oriundos da cidade greco-oriental de Cálcis (na Eusébia).
A outra corrente mostra que os alfabetos arcaicos etruscos conservaram as três consoantes fenícias samek, sadé e shin, enquanto o alfabeto grego da colônia de Cálcis só mantém a última. Com isso, conclui que os etruscos receberam o alfabeto em uma época anterior à da separação das línguas gregas nos grupos ocidentais e orientais.
No campo fonético, os etruscos não conheciam as oclusivas sonoras B D G e quando elas apareciam vindas de palavras estrangeiras, usavam P T K para substituí-las. Distinguiam entre oclusivas aspiradas ou não (/p/ e /ph/, /c/ e /ch/, /t/ e /th/). O sistema vocálico desconhecia o O e a distinção entre vogais longas e curtas. Na fase final da língua, as vogais neutras caíam, como ATLNTA (Atalanta).
Inscrições
O Fígado de Piacenza
O fígado era o meio adivinhatório predileto na religião etrusca.
A Tabuleta de Pyrgi
A Tabuleta de Pyrgi traz uma inscrição etrusca. Em sua transcrição, as consoantes aspiradas foram notadas com um H após ela (ch para o chi, th para o teta e ph para o phi).
Sua transcrição e tradução proposta, linha a linha, são as seguintes:
Primeira tábua
ita tmia icac heramasva | este templo e este grupo de estátuas |
vatieche | foram feitos |
unialastres themiasa | para Uni Astarte. Após construí-lo, |
mech thuta thefariei velianas | o povo e o estado de Thefariei Velanias |
sal cluvenias turuce | o primeiro do mês de Cluvenias foi dado |
munistas thuvas | após tê-lo dotado e ereto |
tameresca ilacve | o tameru (um tipo de sacerdote) o consagrou |
tulerase nac ci avil | à terra. Após três anos, |
churvar tesiameitale | durante o mês de Churvar, o dia do sepultamento da deusa |
ilacve alsase | foi ele dedicado aos céus (?) |
nac atranes zilacal | então o Atran (outro tipo de sacerdote) do zilac, |
seleitala acnas vers | que está encarregado do fogo sagrado |
itanim heramve | e este grupo de estátuas |
avil enacia pulumchva | durarão os anos das estrelas |
Ou, por extenso,
Este templo e este grupo de estátuas foi dedicado a Uni-Astarte. Após construí-lo, o povo rural e a cidade de Thefarie Velanias o doou.
E depois de teê-lo dotado e o erigido no Tameru, foi dedicado à terra. Após três anos, no dia do sepultamento da deusa, o Atran do Zilac, que estava encarregado do fogo sagrado, o dedicou aos céus (?). Esta estátua durará os anos das estrelas.
Segunda tábua
nac thefarie veliiunas | Então Thefarie Veliiunas |
thamuce | fez |
cleva etanal | uma oferta votiva nos idos |
masan tiur | durante o mês de masan |
Unias selace | ele fez para Uni |
vacal tmial | o ofertório votivo de um templo |
avilchval amuce | anualmente é |
Pulumchva | as estrelas |
snuiaph | ofertório sagrado |
Por extenso,
Então, Thefarie Velianas construiu um ofertório nos idos de Masan (e) deu o presente votivo anual de um templo a Uni. As estrelas (decerto a decoração estrelada no templo) são ofertórios sagrados.
A Estela de Luske
A estela de Avle Luske tem a seguinte transcrição:
AULE SERELUS: AFLE SeRELVS KESSv (talvez KESTV) SvNVS NI PANAY AMa MINIMVL VIAN (ou VIA Pe) IKIHII MI SeS S
Mel Copeland traduziu como:
Ao senhor Serelus cantamos um lamento. Escrevo com amor. No final, ele vem da Aquéia essa mesma pessoa.
A palavra KESTV parece ser a mesma que em latim era questus, us. E PANAY parece ser correspondente ao latino pango (compor, escrever) e MINIMUL parece ser a latina minime (no final).
O sarcófago de Tarquínia
Larth Ceisinis, Arnthal clan, Velus nephts, avils LXX lupuce
Lart Quesínio, filho de Arntal, neto de Velo, morreu aos 70 anos.
O sarcófago de Tarquínia
Uma outra inscrição funerária encontrada em Tarquínia, datada do século II a.C., diz:
Ramtha mutalnei | Para Ramtha Mutalna |
sech marces mutalna | Filha de Marcus Mutalna |
puiam amce shethres ceisinies | e ela foi esposa de Shetre Ceisinie |
cisum tameru (....) lafnasc | e três vezes a sagrada (...) para a família lafna |
matulnasc | e para a família mutalna (?) |
clalum ceus ci clenar | para ele ela três filhos |
m (acn)anas arce | após dar à luz ela construiu |
lupum avils mach | e ela morre no ano cinco |
shealchlsc | e sessenta |
ei tva tame (....) | o sacerdote o construiu (...) |
Para Ramtha Mutalna. Ela era filha de Marco Mutalna e esposa de Shethre Cesinas. Três
vezes o sacerdote (...) para os Lafnas e os Mutalna. Após ter tido três filhos, ela
construiu este e morreu com a idade de 65 (anos).
O sacerdote o edificou (...)
O Ladrinho de Capua
Extraídas do CIE (Corpus Inscriptionum Etruscorum)
(...)
II
iveitule ilucve apirase lethamsul ilucu cuieschu perpri cipen apires racvanies huth zusle rithnaitul tei snuza intehamaithi cuveis cathnis f[a]nir marza inthamaithi tal sacr utus ecunzai itialchu scuvse rithnaitul tei ci zusle acunsiri ci ma nuntheri eth iuma zuslevai apire nuntheri avthleaium vacil ia lethasul nuntheri vacil ia rithnaita eth athene ica perpri celutule apirase unialthi turza eschathce ei ium unialth ara epn icei nunthcu ci iei turzai rith[n]aita ei tva halch apertule a es ilucu vacil zichne elfa rithnaitul traisvanec calus zusleva atu(---)ne inpa vinalth acas a es ci tartiria ci turza rithnaitula snenaziulas travai user hivus nithusc rithnaitula hivus travai user sne[na]ziulas
III
Iveitule ilucve anpilie laruns ilucu hu-ch anti huialchu eschathca nulis muluri zile zizri inpa [--]an acasri tiniantule lethamsul ilucu perpri anti arvus ta aius nuntheri
IV
acalve apertule saluzie lethamsul ilucu perpri anti ma vilutule itir ver falanthur husilitule velthurt[-- ni]sc lavtun icni seril turza eschathce // pacusnaie thanurari turza eschathce nisc lavtun icni zusle elace iulese salche icala iei cle[--]ai stizai tei zal rapa zal [t]a[rtir]iac lavtun icni seril turza eschathce lachuth nuntheri [--]ei tu casri lachth turzais eschathce veci[l]thi acas eth zusleva stizai tei acasri pacus[n]aiethur lathiumiai zusle iicha iei tartiriiai fanusei papthiai ratu cechiniai tei turza eschathce eth [zus]l[e]
V
parthumi ilucve iveitule tinunusse thumsalc ilucu perpri cipen tartiria vac fulinun[---]v[-] etul ana tinusnal ilucu ituna fulinunai thenunt eth u[--]
Disco de Magliano
O Disco de Magliano é uma placa de chumbo, provavelmente do século V a.C. Parece ser oráculos a diversas deidades.
Lado A
Cauthas tuthiu | Para Cautha se dá |
avils LXXX | no seu ano 80 |
ez chimthm | um chimthm |
casthialth lacth | se oferece um lachth a eles |
hevn avil | |
neshl man murinash ie falzathi | ao homem morto, o túmulo no qual descansará |
Aiseras | aos deuses |
in ecs | se dá, (...) dá ofertas |
mene mlathce marni tuthi | |
tu chimthm | dois chimthm |
castialth lacth | se oferece um lachth a eles |
marishl menitla | a maris menit |
afrs | em abril |
cialath chimthm | um terceiro chimthm |
avilsch | no ano |
eca cepen tuthiu | o sumo sacerdote dá este |
tuch icu tevr | ele louva o deus-lua |
heshni mulveni | (...) o oferece |
eth suci am ar | e ele sacrifica um suci (e) um am |
Lado B
mlach thanras calusc | um ofertório para Thanra e Calu |
ecnia IV avil | se faz durante quatro anos |
mi menicac marca lurcac | me oferece (...) |
eth tuthiu | e se dá |
nesl man rivach leshcem | ao homem morto o túmulo e o rivach e se dá |
t nucasi shuris eisteis | |
evi tiuras mulsle mlach | se oferece um presente a Tiur |
tins | a Tin |
lursth | um lustrum |
tev ilache huvi | ele lhe oferece |
thun lursth | este lustrum |
sal afrs naces | o (...) de abril |
O Epitáfio de Laris Pulena
Na transcrição, usa-se th para o teta e ch para o chi
L[a]ris Pulena larces clan larthal ratacs
velthurus nefts pru[mt]s pul[ena]s larisal creices
an cn z[i] ne ra[c] acasce creals tarchnal spu reni lucairce ipa ruth cva ca as hermeri slicache[]
aprinthvale lu cva cathas pachanac a[l]umnathe hermu
mele crapic ces p[ut]s im culsl [lep]rnal pl varchi cerine pul
alumna th pul hermu huzrnatre pl t[en] (...)[ci] methlumt pul
hermu thutuithi mlusna ranvis mlamn[a] (...) mnathuras par
ni amce lee [h]rmrier
Glossário
Letra A
ais (plural aisar) | deus |
am | ser |
an | ela |
apa | pai |
ati | mãe |
avil | ano |
Letra C
ci | três |
cezp | oito |
clan (plural clenar) | filho |
Letra E
eca | este |
Letra F
fler | ofertório, sacrifício |
Letra H
hinthial | espírito |
huth | seis |
Letra I
in | ele |
Letra L
lauchum | rei |
lautun | família |
lupuce | é morto |
Letra M
mach | cinco |
mi, mini | eu, me |
mul- | oferecer, dedicar |
Letra N
neftsh | neto |
nurph | nove |
Letra P
puia | esposa |
Letra R
rasenna ou rasna | etrusco |
ruva | irmão |
Letra S
semph | sete |
shar | dez |
shuthi | tumba |
spur- ou shpur- | cidade |
sren or shran | figura, desenho, imagem |
Letra T
thu- | um (numeral) |
tin- | dia |
tiv | mês |
tular | fronteiras |
tur- | dar |
Letra U
urbs | cidade, vilarejo |
Letra Z
zal | dois |
zich- | escrever |
zilach | um tipo de magistrado |
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Administrador: Marco Polo Teixeira Dutra Phenee Silva