As línguas antigas da Itália |
As línguas itálicas
As línguas itálicas eram faladas pela maioria dos povos da proto-Itália e pertenciam ao grande grupo de línguas indo-européias.
Elas são divididas em dois grandes grupos:
indo-européias | latino-faliscas |
osco-umbras | |
venéticas | |
celtas | |
outros grupos linguísticos |
No grupo das línguas latinas estão o latim, falisco e presnestino.
Dentre as osco-sabélicas ficam o osco, piceno, umbro, sabino, volsco e messápico. O piceno se subdivide em piceno do norte e do sul. Não há certeza se a versão nortista da língua é do ramo indo-europeu.
O lepôncio faz parte do conjunto de línguas celtas.
O último grupo é formado pelo reto (aparentemente da mesma família que o etrusco), grego (indo-europeu), sícilo, sicano, elimo, sardo, etrusco, lígure.
Os dois primeiros grupos fazem parte de um grupo mais amplo denominado de línguas itálicas. Há indícios de que o osco e o grupo latino-falisco tenham sido trazidos à Itália por grupos de fala proto-indoeuropéias muito antes da chegada dos povos de fala umbras, pois os primeiros conservam fonemas como o proto-indoeuropeu /kw/ que no grupo umbro foi substituído pelo fonema /p/. Fenômeno semelhante ocorreu com os povos de fala celta, entre o grupo goidélico, associado à Cultura Hallstadt, mais antiga, que preservou o som /kw/ proto-indoeuropeu, e o grupo britônico, associado à Cultura La Tène, mais recente, que o substituiu também pelo /p/.
No campo fonético, a acentuação das línguas itálicas era livre e elas apresentavam as:
- a) vogais A E O
- b) sonantes
- semivogais I U - nasais M N - líquidas L R - c) consoantes B, C, D, G, K, P, S, T, X
As vogais E e I eram mais frequentes que a vogal A. Praticamente não conheciam as consoantes fricativas, exceto a sibilante S.
As vogais E e O tinham sons bastante fechados, evoluindo no latim para Ê e Ô e no osco e umbro para I e U. Como exemplos temos os pares:
Itálico |
Latim | Osco | Umbro | Falisco |
possit | putiad | |||
popolum porca donum october totus fontes Florai |
puplum purka dunum octuber tutus funtes Fluusai |
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conceptum | cuncaptum | |||
*stlocos | locus | lucus |
Os ditongos mais comuns eram:
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evoluiu no latim para I e nas línguas dos prenestinos, faliscos e umbro-sabélicos para E |
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resolvido no latim em U e nas línguas dos prenestinos, faliscos e umbro-sabélicos em O fechado. Ex: *loudherta gerou liberta em latim e loferta em falisco. *louskna derivou em latim luna e losna em prenestino. |
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evoluiu no latim para U e no prenestino para O fechado. Ex.: *oinom deu unum em latim e onum em prenestino. *coisavisont foi acabar no curaverunt latino e no coraveront prenestino |
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teve tratamento
diferenciado nas várias línguas:
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manteve-se no latim, mas se transformou em Ô no prenestino, falisco, osco e umbro |
As consoantes nasais finais eram em M consonantal e não em N, como no resto das línguas indo-européias, talvez influência do substrato linguístico neolítico. Esse M, contudo, era de pronúncia débil e desapareceu por apócope em várias línguas, como no umbro, onde era frequentemente omitido.
Nessa língua arcaica, havia profusão de consoantes aspiradas: BH DH GH GwH PH TH KH GwH
Os encontros consonantais em MB e ND se resolveram no osco e no umbro em NN, como nos comparativos a seguir:
Latim | Osco | Umbro |
operandum | upsannam | |
impendes | ampennes |
Essas formas apareceram no chamado Latim Vulgar em palavras como grunnire (ao invés de grundire), innulgentia (em lugar de indulgentia), secunnus (secundus), verecunnia (verecundia).
Quando precedida de outra consoante, o C e o D se sonorizavam: em umbro, iuvenga para o latino iuvenca e tursiandu para o latino terreantur.
No campo morfológico, as palavras eram formadas por
raiz + sufixo + desinência
A raiz geralmente descendia do indoeuropeu (ou também denominado proto-indoeuropeu). O sufixo modificava (ampliando ou reduzindo) o sentido da raiz, como em português mulher + ada = mulherada (juntamento de mulheres).
A desinência servia para marcar a situação da palavra na frase, isto é, se a palavra deveria ser vista como o agente (sujeito) ou recepiente da ação (objeto indireto) ou se a ação dizia respeito a ela (objeto direto). Ou se, ainda, a tal palavra estava indicando o local em que a ação ocorria ou instrumento pelo qual era realizada (adjuntos adverbiais).
O indo-europeu apresentava um sistema declinacional com oito casos:
Nominativo | definidor do sujeito da oração |
Genitivo | definidor partitivo (relação de posse, como por exemplo A casa de Paulo) |
Dativo | identifica quem recebe ou está interessado na ação (em particular, o objeto indireto da oração) |
Acusativo | a quem a ação se dirige (em particular, o objeto direto da oração) |
Ablativo | caracterizador de modo, locação e outros adjuntos adverbiais |
Vocativo | usado para o chamamento (Ó, Fulano) |
Locativo | indica o lugar em que a ação se passa |
Instrumental | mostra o instrumento com qual a ação ocorreu |
Não é muito claro se essas línguas eram nominativas (isto é, o agente da ação apresentado no caso nominativo) ou se ergativas (o agente apresentado no caso dativo). No latim sobrevivem algumas formas ergativas como, por exemplo, nas frases:
omnia mihi sunt (tenho tudo ou, literalmente, "todas [as coisas] são para mim")
Petrus nomen mihi est (me chamo Pedro ou, literalmente, "Pedro é o nome para mim").
Essa mesma construção também é comum em outras línguas indo-européias: Séan is ainm dom (Séan [ou João] é um nome para mim) diriam os irlandeses, falantes de uma língua celta.
Os dois temas principais das línguas itálicas eram em A e em OS. O tema em O (fechado) evoluiu no latim, para tema em US e em outras línguas itálicas para tema em U. Muito comum era o genitivo plural em ES.
O dativo, o ablativo, o locativo e o instrumental plural tinham tema em BH (em latim ABUS, IBUS e EBUS, conforme a declinação). Com o passar do tempo, os casos locativo e instrumental foram sendo confundidos e incluídos no ablativo.
Em relação ao gênero, as línguas itálicas evoluíram dos dois gêneros (animado e inanimado) do indo-europeu para os gêneros masculino, feminino (advindos do gênero animado) e neutro (sucessor do gênero inanimado).
Quanto ao número, parecem ter preservado os três números: singular, plural e dual.
Em relação à conjugação dos verbos, a noção de tempo passou a substituir a noção de aspecto.
As vozes são a ativa, passiva e média. Só nas línguas itálicas há temas distintos para os modos indicativo (infectum), que indica ação real, e para o modo subjuntivo (perfectum), que indica ação ideal ou desejada. O modo subjuntivo apresentava tema em A ou em (som de X).
A voz passiva era formada pelo tema em R ou pela perífrase constituída em um adjetivo juntado ao verbo auxiliar (em latim, e.g., amatus sum = sou amado).
Nas línguas itálicas é corrente o discurso indireto e outros estilos semelhantes de escrita.
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Administrador: Marco Polo Teixeira Dutra Phenee Silva