Teatro

I. Trecho de: "Pulp" (Ps.: Com certeza não é um dos meus melhores textos)

Por J. Araujo, 16 de setembro de 1998.
	Ato 1 - Cena Única: "Maria No Espelho Observa Seu Próprio Corpo Transformar-Se"

	As luzes estão acesas em todo o teatro. O palco está completamente vazio. Por alguns momentos permanece assim. As luzes se apagam por vinte segundos, rapidamente é colocado um espelho no fundo do palco, quase com o fundo voltado para o auditório, e uma cadeira no centro do palco. 
	Um pouco antes das luzes se acenderem, uma projeção de um coração é refletida sobre o fundo do palco. Uma luz azul vai iluminando gradualmente e permanece com luminosidade apenas suficiente para ressaltar o espelho e a cadeira sobre o palco. Nesse momento é possível notar Maria diante do espelho.
	Maria está diante do espelho, em silêncio, num estado quase catatônico.
	No momento em que já é possível visualizar a cena, a música "Allegro Ma Non Troppo, Un Poco Maestoso" começa a tocar suavemente.
	Permanece assim por quase um minuto.
	A música começa a diminuir de intensidade.
	Maria começa a falar de maneira suave.
	- E aqui estou diante de um espelho... presa ao meu corpo. Contemplando-o da única maneira possível... vendo dentro de meus próprios olhos a simplicidade de ser racional. E vejo meu corpo... e minha vaidade... e a coragem de olhar dentro dos meus olhos...
	Maria vira-se para o auditório escuro.
	A música termina suavemente.
	- Não... não é coragem. É simplicidade. A bendita simplicidade que mora no coração de todos que estão aqui neste momento... de todos que estão respirando nesse auditório escuro. Se tivesse como lembrar de todos os meus pecados... - fala Maria aumentando a intensidade da voz enquanto caminha na direção do centro do palco.
	Maria pára diante da cadeira, senta-se e cruza as pernas de maneira elegante e olha de maneira firme para o auditório.
	- Ah, se todos nós tivessemos como lembrar de nossos pecados... não teríamos coragem de olhar no espelho. Não teríamos a alma suficientemente forte para olhar dentro de nossos olhos... Não! - recita Maria de maneira visceral.
	Maria baixa a cabeça e descruza as pernas de maneira desengonçada. Ela olha mais uma vez para o auditório.
	- E então conseguiriamos enxergar nosso corpo se transformando velozmente através desses dias insípidos e vazios... - fala Maria com a voz embargada.
	Maria baixa a cabeça e permanece com as pernas abertas.
	As luzes se apagam. O coração projetado no fundo pisca algumas vezes e então se apaga.
	No escuro Maria pronuncia de maneira suave.
	- Eu me chamo Maria... e estou diante do espelho observando o meu próprio corpo transformar-se...
	Uma luz vermelha vai acendendo suavemente e deixa o palco mergulhado em uma penumbra quente.
	Maria ainda está sentada na cadeira, da mesma maneira. No chão há várias peças de roupa espalhadas. Elas foram colocadas durante o última período em que as luzes se apagaram. A moça fala de maneira gentil para o auditório.
	- E não é que a vida se torna cada dia mais simples e desprovida de regras? E não é que todos os dias nos tornamos um tanto assim mais irracionais? E não é que cada vez mais perdemos o contato com a realidade suburbana em que estamos metidos?(1#Maria)
	A moça escorrega da cadeira para o chão e permanece deitada por um momento. Ela se senta suavemente e olha para o auditório mais uma vez.
	- Esqueçam... ninguém liga.(1)
	As luzes se apagam completamente por alguns instantes.
	Nesse momento, Maria assume sua posição diante do espelho, como quando começou a cena.
	A música "Femme Fatale/The Velvet Underground" começa a tocar.
	- É difícil estar viva e não saber o propósito...(1)
	A luz vermelha vai envolvendo o palco em uma penumbra quente.
	Maria fala com entonação.
	- Mas nesse trecho de minha história insignificante... eu espero por um homem em uma quente noite de verão...(1)
(...)