QUERO
                                              by Carlos  Drummond de Andrade

Quero que todos os dias do ano
 todos os dias a vida
 de meia em meia hora de 5 em 5 minutos
 me digas : Eu te amo
 

Ouvindo-te dizer : Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
 No momento anterior
 e no seguinte,
 como sabê-lo?
 

 Quero que me repitas até a exaustão
 que me amas que me amas que me amas.
 Do contrário evapora-se a amação
 pois ao dizer : Eu te amo,
 dementes
 apagas
 teu amor por mim.

Exijo de ti perene comunicado.
 Não exijo senão isto,
 isto sempre, isto cada vez mais.
 Quero ser amado por e em tua palavra
 nem sei de outra maneira a não ser esta
 de reconhecer o dom amoroso,
 a perfeita maneira de saber-se amado:
 amor na raiz da palavra
 e na sua emissão,
 amor
 saltando da língua nacional,
 amor
 feito som
vibração espacial.
 

 No momento em que não me dizes:
 Eu te amo,
 inexoravelmente sei
 que deixaste de amar-me,
 que nunca me amaste antes.
 

 Se não me disseres urgente repetido
 Eu te amoamoamoamoamo,
 verdade fulminante que acabas de desentranhar,
 eu me precipito no caos,
 essa coleção de objetos de não-amor.
 

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