A pessoa que dorme esta inteiramente só.
Quando o homem dorme, o seu rosto se desmarca de todas as tramas e de todos
os desgostos; e ela se debruça sobre a face do amado e descobre
que eram simples palavras todas as valentias que ele vinha lhe dizendo
ou dando a entender.
Quando a gente se parece menos com os mortos e quando está dormindo,
quanto mais pobre, mais comovente o ser humano quando dorme.
No sono, as pessoas boas e confiantes ficam desarrumadas; a mais leve carícia
de suas mãos sobre a amada que dorme poderá quebrar a solidão
do sono e a tranqüilidade da carne já não seria completa;
contente-se em enternecer-se sem tocá-la, mas se for preciso despertá-la
que seja com ruídos aparentemente ocasionais.
Ah! que intenso ciúmes do passado e do futuro sobre a nudez da amada
que dorme: só você a viu e só você a verá
tão bela!!
(Antônio Maria)