O PAVÃO


 

Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores;
é um luxo imperial.
Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem
na pena do pavão.
Não há pigmentos.
O que há são minúsculas bolhas dágua em que a luz se fragmenta,
como em um prisma.
O pavão é um arco-íris de plumas.
Eu considerei que este é o luxo do grande artista,
atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos.
De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.
 


 

Considerei, por fim, que assim é o amor,
oh! minha amada;
de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim
existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar.
Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
(Rubem Braga)
 

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