Eu sei que te carrego
num espaço infinito
dentro de um momento vão.
Que te encontro menino
brincando nas ruas festeiras
e quebradas do meu coração.
Eu te vejo em meu rosto
e te recrio em meu semblante.
Não me perguntes, só sei o instante.
Eu sei que te aconchego
há muito tempo, um ser fecundo,
na palma tranqüila de meu útero.
E posso, sei que posso
muito mais que abraçar-te.
Quero ninar-te em meu
colo abrigo, em meu umbigo.
Eu te vejo não mais num sonho
ao meu lado mas... vento brando
que permite e sugere o sonhar.
Te sinto em meus ossos,
em minha pele -- roupagem
de um corpo quente -- e também
na vida latente de meu espírito.
Eu sei, não me perguntes.
Eu sei que existem coisas
que muito, muito além
do tempo e do espaço ficam
guardadas para que um
dia -- no amanhecer ou
num lindo pôr-do-sol
--sejam desabrochadas.
São coisas pequeninas, simples,
feito flores do campo, e
fortes e rebeldes como
a arte de viver.
Tua alma procura
e a minha te acha.
Tu vens até mim.
Eu te sinto e tu vens
na minha madrugada sem fim.
Virgínia de Oliveira