Amor

by Artur da Távola



O amor, este bacilo invisível e incontrolável, pelo qual raros são os que não se deixam contagiar, tem poderes inimagináveis. Quando chega, não pede licença e, quando menos se percebe, já está instalado feito posseiro, dono do corpo e da alma de quem dominou. tudo o que o amor toca, se transforma como se houvesse sido atingidos pela varinha de condão da mais poderosa fada do universo. E nesta mágica revolucionária de que só este sentimento é capaz, bandidos se transformam em mocinhos, covardes em heróis, velhos em crianças, ateus em crédulos e insensíveis em corações derretidos que se abrem feito o sésamo de Ali-Babá.
O amor é tão diferente de tudo, que quanto mais se conheça dele, mais ele espanta e amedronta; o amor, o bichinho danado e traidor, só deixa aparecer seu lado bom. todas as interrogações se transformam em promessas e todas as dúvidas tomam jeito de esperanças. O mundo fica mais amigável, que a gente sente vontade de afagá-lo inteiro num só abraço. e como o primeiro amor é favo doce que a gente pensa poder engolir toda de uma só vez, sem se arriscar nem a uma dor de barriga, nunca em nenhuma das outras situações que a vida oferece, ninguém consegue se sentir mais potente.
Mas quando o amor foi experimentado, deixou de existir e surge de novo, ao invés da primeira experiência servir para nos fazer mais fortes e seguros, é justamente ela que nos dá a consciência da vulnerabilidade e da fragilidade que este sentimento impõe a todos os que atinge.
O amor é assim mesmo: o mais democrático dos sentimentos. Vence todas as diferenças, une todas as distâncias, iguala todos os seres humanos.


Ser Jovem

by Artur da Távola

Ser jovem. Quem não gosta de ser jovem?
Ser jovem é amar a vida, cantar a vida, abraçar a vida, perdoando até as pedradas que a vida nos joga no rosto.
Ser jovem é ter altos e baixos, entusiasmos e desalentos.
É vibrar com os momentos e passar por cima do que nos machuca, com um sorriso fácil apagando os percalços.
Ser jovem é apiedar-se dos mais fracos, não ter vergonha de fazer o sinal da cruz em público, cantarolar uma canção em pleno ônibus. É apreciar uma piada gostosa.
Ser jovem é escrever diários às vezes. Copiar poesias de amor e remetê-las ao namorado, com assinatura própria.
Ser jovem é ser aberto para o novo, respeitando o imutável, o perene dos séculos anteriores.
Ser jovem é compadecer-se de quem sofre, com aquela vontade imensa de fazer o milagre de cura, de restituir a saúde àqueles que a gente estima e ama.
Ser jovem é beber um lindo por de so, ar livre, e noites estreladas. Não se intrometer na vida alheia, fazer silêncios impossíveis, ficar do lado das crianças. Gostar de leitura, ter ódio de guerra e de ser manipulado.
Ser jovem é ter os olhos molhados de esperança e adormecer com problemas, na certeza de que a solução madrugará no dia seguinte.
Ser jovem é amar a simplicidade, o vento, o perfume das flores, o canto dos pássaros, ter alegria ao dramático, ao solene. E duvidar das palavras.
Ser jovem é vibrar com um gol do time, jogar na loteria esportiva, emocionar-se com filmes de ternura e simpatizar secretamente com alguém que a gente viu só de passagem.
Ser jovem é planejar praias no fim de ano, sonhar com um giro pela Europa e uma esticadas pela Disneylândia.... algum dia.
Ser jovem é sentir-se um pouco embaraçado diante de estranhos, não perder o hábito de encabular, tremer diante de um exame e detestar gente gritona e briguenta.
Ser jovem é gostar de caminhar na chuva, e continuar gostando de deitar na grama, iniciar curso de inglês e violão sem jamais terminá-los.
Ser jovem é não dar bola ao que dizem e pensam essa gente. Mas irritar-se, quando distorcem nossas melhores intenções.
Ser jovem é aquele desejo de fazer parar o relógio, quando se encontra feliz, quando a companhia é agradável, e a aventura toma conta do nosso ser.
Ser jovem é caminhar firme no chão, à luz de alguma estrela distante.
Ser jovem é avançar de encontro a morte, sem medo da sepultura e o que vem depois.
Ser jovem é permanecer descobrindo, amando, sem nunca fazer distinção de pessoas.
Ser jovem é olhar a vida de frente, bem nos olhos, saudando cada novo dia, como presente de Deus.
Ser jovem é re-alimentar o entusiasmo, o sorriso, a esperança, a alegria, a cada amanhecer.
Ser jovem é acreditar um pouco na imortalidade em vida. É querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível.
Ser jovem é ser bêbado de infinitos que termina logo ali. É só pensar na morte de vez em quando. É não saber nada e poder tudo.
Ser jovem é gostar de dormir e crer na mudança. É meter a mão no bolso e lamber o glacê. É cantar fora do tom, mastigando depressa mas engolir devagar a fala do avô.
Ser jovem é embrulhar as fossas no celofane do que mais faz mal. É crer no que vale a pena, mas ai da vida se não fosse assim.
Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que se tenha, trinta, quarenta, cinquenta, sessenta, setenta ou dezenove. É sempre abrir a porta com emoção. É abraçar esquinas, mundos, luzes, flores, livros, discos, cachorros e a menininha, com um profundo, aberto incomensurável abraço feito de festas, dentes brancos e tímidos, todos prontos para os desencontros da vida. Com uma profunda vontade de ser.


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Kayleigh, Marillion

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