O papel em branco
é algo em que se pode
confiar.
Machuca, alegra ou angustia,
dependendo de seu conteúdo,
sua dádiva.
O papel em branco é
apenas o começo
de uma confissão que
pode não ser confessada.
E também pode ser
exposta, publicada.
Sua humildade é manter-se
mudo.
É um amigo ou um simples
muro,
onde se derramam lamentos,
mensagens,
desabafos, virtuosismos de
esquina,
andarilhos, cansados.
Instrumento de mãos
trêmulas,
o papel é um cúmplice
de todas as nossas incursões
ao sofrimento e à
alegria.
Não importa o destino
que tomar.
Ele em si traz consolo.
Ao menos, preenchido, é
algo que se pode
deixar como herança.
Eliana Mora - 1982