Ave-Solidão


Uma ave poliforme,
com mil faces e um só grito,
transformou-se, num encanto,
na tristeza do seu canto

(triste encanto o Desencanto!)

Cegos, os olhos me olharam
Loucamente, então, choraram
e pediram o meu perdão
por tudo aquilo que roubaram

(me roubaram a solidão!)

Rios de sangue que choravam,
nem uma gota derramavam,
pois bebia o coração
rios de sangue de paixão...

(tanta sede, oh coração!)

E, num grito, os olhos viram
tanto amor e, então, pediram
por favor, oh coração,
silencie os meus gritos
com teus gritos de paixão!

O coração, sorrindo à toa,
disse a ave: Tola, voa!
pois paixão, amor, ou gritos,
neste mundo estão perdidos.
Estás aí chorando à toa!

Mas a ave olhou-me, então,
e, surpresa, viu paixão!
Furiosa, bateu asas
e olhou triste para o chão.
Lá do alto, sobre as casas,
deixou cair o coração

(mentiroso, oh coração!)

Foi-se embora a triste ave,
mas tão logo (antes tarde!)
alçou vôo, já num grito
sem paixão, desiludido,
devolveu-me a solidão!

Brenno Kenji - 04/01/2000


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