Madrugada


Ainda lúcido, quase sem beber
Vivi densamente as volúpias dos sonhos
Delirei nas áureas indagações do amanhecer
Torturado pelo duvidar repetido da dúvida
Corrompido pela flagrante imaturidade
Abraçado asfixiantemente pelo medo
Me vendo pelos olhos de outrem
Me espelhando no brilho das palavras
Fumando em aromáticos narguilés
Pouco é muito, muito é tudo, tudo é nada.

Me evadindo nos sonhos de outrem
Invadido pelos gozos de alguém
Devassado pelo não sou, a inverdade
Me desmigalho em fatias de ilusão
As migalhas sacudo e não dou a ninguém
Não sou eu, não sou nada, não sou vinho
Comungo com o vício, consumo como pão
Desmorono minha ruína em meu próprio corpo
Choro a cada momento em que penso que sorrio
É preciso um lugar para esta alma acordar...

©Gabriel Ribeiro - 11/01/99


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