Que raiva tenho de mim neste momento!
Tão perto de teu corpo
no entanto, tão distante
Podia tudo, então, acontecer agora
e...
nem te olho.
Não atrevo a levantar
este olhar que se diz casto
Talvez com medo de ti
Talvez com medo de tua mão imensa
pousada em meu regaço.
Ah, se essa mão se levantasse
Ah, se essa mão!
Se ela tão imota atingisse de cheio a minha face
e assim fizesse despertar-me do letargo.
Levanta essa mão - me acorda! -
me faz olhar pra ti, porque...
nem te olho.
Como me preparei para esta hora!
Me fiz ardente, solta, louca e quente,
no entanto fico fusca e, de repente,
não ouso te pedir o que bem quero
e...
nem te olho.
Queria te pedir: me faz mulher agora,
penetra no meu corpo,
me livra deste peso!
Faz logo tua, a carne que é tua
Eu trouxe de outras terras este desejo
Sonhei em abandonar-me toda a noite.
Se pensas que sou pura?, é só por fora
Por dentro ardem fogos de um desejo
puro de me enroscar em ti,
de me entregar por todo e sempre
Cadê a audaz coragem que
tanto adornei com flores
e outros laços?
Onde estão as pérolas que
que no fundo mergulhei por tantos mares
para catá-las unas, simples,
brancas e ordenadas?
E o perfume do incenso que
queimei com fé para
purificar o desejoso enlace?
Onde está a paixão que me incendeia,
me rompe e me alucina?
É falta de ousadia ou
isso é mesmo medo?
Medo que me completes
e que eu atinja o gozo... pois...
nem te olho.
É tarde, amor. Tenho que ir-me agora
O tempo passou rápido
e tudo não mudou
Solto um sorriso tímido e medroso
Deixo que tu beijes a minha fronte cálida;
me afasto no silêncio e...
nem te olho.
©Fernando Tanajura Menezes