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Das vagas enormes
de um mar
que se abre dentro de mim
quase todas devem ser para lembrar
que cada vez que se cai fundo
numa delas
que se procura algo naquele negror
imenso e furta-côr
O que de mais se pretende e pode
encontrar
senão o que ficou no fundo e que gritou
qual ser imundo
abandonado
pelas próprias peles franzidas
franzinas
despidas de trajar condigno
ao menos fiel e acompanhante
de apego ao seu sempre
desamor
Por que ele ainda nos segura
e arrasta
para onde estão as vagas
se não do mar
daquele chão coberto pelos passos
de outros
na empreitada
Pois que ainda se pretende pisar
e perseguir alguma estrada
algum lugar onde a tortura
do viver indigno
sem a verdadeira alegria
de morder o pão
e se mover sem fios
possa afogar-se despencar [sei lá]
Possa sumir e nos deixar
o apelo estabanado
perdido no seu próprio zelo
encarquilhado
pela dor de guardar
alguma gota
algum finzinho de alguma dignidade
Alguma brecha no escuro
na imensidão daquelas vagas
daquele mar em que se
afunda
E no entanto sonhando
e desejando a Vida
e de o brilho
e de o e a amplidão
©Eliana Mora, 18/03/1999
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