Estações de mim


Primeiramente,
aprisiono primícias,
préstimos,
apreços,
propago primores
proximidades possíveis
pouso em paixões pertinentes
sou primavera.

E, de repente,
voluteio
sou ávido vulcão
sou veio
sou válvula
sou vespa valente
visto-me de vontades
viajo no vento vadio
varro o chão e vicejo
sou vida que vinga
sou verbo
veraneio.

Depois,
olhos embaçados
ombros curvados
obstruídos ouvidos
crio obstáculos
sou linha oblíqua
sou olvido;
ofusco-me
sou vidro opaco
sou ostra
sou ocaso e outoneio.

Enfim,
intrigada
intimidada
infiltro-me em meu íntimo
sou intestino delgado
insumo de mim
palavra introjetada
infante intocada
impúbere
inexplorada ave
implume
sou ilha e hiberno.

De novo fera faminta
fujo ao fracasso
finco pé na faina
sou faca afiada
fomento fagulhas
afogo-me em fogos
sou flama
sou flecha, foguete
fecundo-me em flores
farto-me de favos
sou fêmea e refloresço.

©Maria Esther Torinho


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