Há geadas, às vezes,
noutras vezes não,
mas sempre é muito frio.
Trememos e tiritamos
comemorando a estação
dos fondies e lareiras,
mas sabemos que sempre é frio,
imensamente frio e triste
na alma de nossos desvalidos.
Dói nos dentes, nos nossos,
Dói na alma, a dos desvalidos
o frio que corta e afugenta
qualquer chama mais viva
qualquer calor mais intenso...
Somos todos tiritantes de frio
mesmo que a primavera viceje
nos arrabaldes da hipocrisia,
somos tremulantes do inverno.
Mesmo quando o sol já flameja
nas alcovas do nosso ócio,
somos todos cúmplices.
Dói nos dentes, que rangem
Dói na alma que sangra,
e tiritamos, eternamente.
Dói na alma traída
e nos dedos que sangram
e nos lamentamos, perpetuamente.
E ainda assim haverá outras estações:
uma primavera de perfumes escassos,
um verão de corpos e bíceps esguios,
um outono de esperas inúteis...
Embora constantes e eternos,
esperaremos por outra estação...
©Marcos Gimenes Salun, 08/2000