Minha linda menina dos olhos
cor do céu,
olhe para as águas
do Mar
quase a tocar as quase-águas
do Céu.
Não são lindos
os eternos namorados?
Sim, como são lindos!
E tristes, também...
Sempre um a admirar o outro
num encanto infindável,
Sem nunca, porém,
poderem trocar
ternas palavras, ou tocar-se
na ausência das mesmas.
Suas linhas se perdem, se
enlaçam,
se abraçam
na linha do horizonte sem
fim, e enfim
quase se tocam, quase sentem
o calor de um abraço,
e quase (quase!) se beijam.
E tudo isso quase acontece
nos confins do horizonte,
cuja linha se perde
onde parece acabar o Infinito,
onde quase dá-se início
ao quase-nada do Nada.
Veja! Águas caem do
céu!
Será chuva? Talvez,
lágrimas?
Quem sabe, talvez, seja o
Céu,
desesperado amante num salto
suicida,
numa última tentativa
de se unir ao Mar!
(soluços...)
Oh! Minha linda menina, por
que estás a chorar?
Tentas seguir o exemplo do
Céu
inundando teus olhos,
pequenos pedaços de céu,
com as tristes águas
do Mar?
Deixa-me chorar tuas lágrimas!
Faz os meus, não os
teus, olhos vermelhos
do sal doloroso do Mar, o
qual teimas, tristemente,
em chorar...
Olhe outra vez! Veja o Céu,
está a corar!
É a luz do crepúsculo
a ruborescer lindamente
as tímidas faces celestes.
Ou, quem sabe (eterna dúvida!),
teria sido um pequeno beijo
do Mar!
(uma pausa...)
Um sorriso se mistura aos
teus olhos azuis, tão vermelhos
das lágrimas que a
pouco choraste.
Por um instante o Céu
parece parar
para admirar teu sorriso
ou o Mar, não sei.
Tão rápido quanto
o instante, o Céu fecha os olhos, feliz.
Na escuridão das estrelas,
adormece, descansa.
Amanhã encontrará
novamente o Mar.
Tentará tocá-lo,
beijá-lo. Tentará, amanhã...
Amanhã te levarei para
ver o Mar novamente, se quiseres, minha linda menina.
Nosso amanhã parece
tão breve...tão breve quanto a própria manhã!
No entanto, parece tão
longo o amanhã do Céu e do Mar!
Sim, tão longo! Tão
longo...
Tão longo é
o amanhã, quando feito de 'quases' e de Eternidade...
©Brenno Kenji - 11/02/2000