Muito peixe, pouca água

Aonde ficaste infância tão distante
brincada com bel encanto e inocência
às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas
para eu, tão pequeno, tu aventura gigante
tão funda, sinistra, perigosa e eu temente
teu lodo sugava os sonhos de muita  gente
teus brilhos eram o sol, parcos faróis ou a lua
Lagoa, negro grande mar no fim da nossa rua.

Vivenciei teus segredos libidinosos
entre as empregadas e os porteiros
dos finos play boys e as jovens babás
escondidos em teus recantos manhosos
Trincheira do sexo descuidado e instintivo
viveu também coloridas regatas esportivas
belos jovens remando forte e imperativos
espumando tuas águas salobras ainda vivas.

Contei sardinhas nas pedras arremessadas
que pululavam oito, dez vezes sobre ti
Pesquei acará, mamarreis e barrigudinhos
e com miolo de pão, tantas outras engodadas
Levei cascudo e bronca por em ti ter nadado
apanhando a bola isolada lá no teu meio
Vi cafifas se afogarem nas águas crispadas
pelo vento sudoeste que te agredia irado.

Hoje já não vejo crianças por ti brincando
não vejo carás, mamarreis e barrigudinhos
vejo poderosos senhores, Conde e Garotinho
à verdade evidente negando e desrespeitando
De tua precoce vida abortada criminosamente
Pela ganância imobiliária, descaso de  loucos
Parideira de impostos imorais, mar de mágoas
De tantas mentiras: "Muito peixe, pouca água"

©Gabriel Ribeiro, 11/02/2000


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