Muito peixe, pouca água
—Choro da Lagoa—

Pescador, meu irmão
não há conserto não!
sentada à sua mesa
está a fome da poluição
Contigo hoje faz morada
trapos da condenação
nem robalo e nem tainha
resistem à competição

Natureza violentada
haja Deus, nosso Senhor
parece coisa da desgraça
sinistro filme de horror
O vivo está condenado
seus peixes, sufocados
peles, guelras e escamas
estão repletas do pecado

Se esgoto ou se clima
- não buscam conclusão
haja Deus minha menina
isto é só preocupação
Quem é quem na estória
nunca saberemos contar
Querem honras e glórias
no reino do oxigênio - mar

Penso aqui e me pergunto:
quem contigo estará?
Indignada, canto por castigo
aos que te fazem lagrimar
Azuis anjos das águas puras
ajudem-na neste caminho
Seus peixes estão partindo

... não conseguem respirar

©Andréa Abdala, 05/03/2000


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