Foi no olhar
que o instante se fez
"de profundis".
Mergulhei em águas passadas.
A visão desse instante
abissal
revelou-me um trecho da vida
que já vivera.
O silêncio latejando
grosso e impalpável.
Ouvi longínqua e surdamente
o ruído da vida
aproximar-se denso,
caudaloso e violento.
Ondas rasgaram o céu
submergiram-me,
asfixiaram-me.
A vida corria
dentro de mim,
borbulhando como um
lençol de lavas.
Voltei para mim.
Senti o mar brotar de meus
olhos.
Senti uma nova manhã.
Minha felicidade era pura:
reflexo de auroras
em gotas de orvalho.
©Dúnia de Freitas, 23/05/2000