Curiosidades
Curiosidades
Nenhuma banda de metal nacional protagonizou tantas polêmicas quanto o Sarcófago. Tetras com o Sepultura (ex-banda de Wagner Lamounier, guitarra e vocais), mudanças de visual, briga com o R.D.P. e uso de bateria eletrônica nos últimos álbuns são apenas algumas das controvérsias que contribuíram para conferir ao grupo a aura de maldito. No momento em que é editado seu mais novo CD, The Worst, tivemos na própria redação da Brigade uma conversa franca com Wagner e Gerald Minelli (baixo, programação da bateria e teclados) - a dupla que hoje forma a banda -, em que todos esses tópicos, e outros mais, foram abordados. Algumas das declarações de ambos foram realmente surpreendentes. Portanto, basta de enrolação e vamos ao que interessa.
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ROCK BRIGADE - Ouvindo The Worst, dá pra perceber que vocês deram uma freada em relação ao Hate, embora ainda existam faixas bastante rápidas. Ele soa como uma mistura do The Laws [Of Scourge, terceiro disco] com o Hate.
WAGNER LAMOUNIER - Exatamente. Você acabou de definir o que aconteceu. Quando a gente fez o Hate, quisemos fazer uma coisa que o Sarcófago sempre tinha se proposto, mas nunca tinha tido culhões pra fazer, por limitações humanas pode-se dizer. A proposta do Hate era ser o disco mais agressivo da história, o mais rápido possível. Com um baterista normal, nós não conseguiríamos o resultado que queríamos, então, utilizamos o recurso da bateria programável. Só que, por outro lado, o The Laws... é um disco que agente gosta bastante também. A gente achava que o Hate tinha saído bem por esse lado da velocidade, mas queríamos mostar que o peso também faz parte do Sarcófago.
GERALD MINELLI - Nós percebemos que se nós conseguíssemos juntar as duas coisas nós teríamos um resultado muito legal. Por exemplo, as partes de guitarras do The Laws... nos deixaram bastente satisfeitos, mas as de bateria não, principal- mente nas partes rápidas. Então, percebemos que poderíamos agrupar no The Worst partes do Hate e também de todos os nossos álbuns. Se você for analisar bem, o The Worst é uma retrospectiva, desde as épocas do I.N.R.I.
WAGNER - É uma reafirmação da linha do sarcófago. Com a gente, ou a música é extremamente pesada ou é extremamente rápida. No The Worst, tentamos deixar as músicas pesadas o mais pesadaspossível e as músicas rápidas o mais rápidas pos-sível. Continuamos usando a programação eletrônica, já que na época do Hate isso temas mais um caráter mais experimental, tipo: "Vamos usar pra ver como é que fica." Só que, antes, o próprio recurso de programação era limitado, você não conse-guia fazer tantas variações e algumas partes ficaram até meio enjoativas. Neste disco novo, tentamos mostrar que, com a pro-gramação eletrônica, poderíamos ser rápidos e com a bateria trabalhada. Conseguimos fazer coisas que queríamos ter feito no Hate, mas que não tivemos condições.
RB - E ao vivo, como vai ser?
WAGNER - Nós não vamos mais tocar ao vivo, desde a época do Hate que não tocamos. A gente não tem mais saco pra tocar ao vivo, nunca foi nossa intensão viver da banda.
RB - Nem na época que vocês foram tocar na Europa?
WAGNER - Não. Naquela época, conciliávamos nossas atividades particulares com o conjunto. Nunca tivemos a proposta de querer viver de música, isso foi sempre um hobby pra nós. Por isso, sempre fizemos o que a gente quis, nunca demos sa-tisfação pra ningúem.
GERALD - Na época do The Laws... estávamos a fim de fazer shows e fizemos um monte, na Europa, na América do Sul. Aí, resolvemos botar um ponto final nisso. Só fizemos uns poucos shows na Argentina, Chile, Peru e Brasil depois disso. Vai fazer um ano que agente não se apresenta. Só vamos fazer shows esporádicos, em ocasiões especiais, como o show em ho-menagem ao Osvaldo [do Sextrash, falecido em março de 97], em que tocaremos com a formação do I.N.R.I.
RB - Por que vocês resolveram mudar tão radicalmente o visual? Isso deu margem pra muita fofoca, inclusive, chegaram a dizer que vocês arrumaram empregos como bancários e, por isso tiveram que cortar o cabelo.
WAGNER - [risos] Desde a época do segundo Rock In Rio que cabelo grande virou uma coisa vulgar. A gente respeita quem ainda tem, mas, hoje, qualquer boyzinho que ouve Pearl Jeam ou Nirvana quer deixar o cabelo comprido pra ganhar menininha. Quando a mentalidade do pessoal que deixava o cabelo crescer passou a ser essa, vimos que não combinava mais com a gente. Desde o início o Sarcófago tentou ser diferente. Hoje em dia, por exemplo, nove entre dez bandinhas novas que aparecem por aí estão usando maquiagem. Na época que a gente usava, todo mundo metia o pau, falava que a gente era ridí-culo. Quando a gente cortou o cabelo, todo mundo criticou. Hoje em dia, já tem uma série de bandas cortando o cabelo tam-bém. E bandas famosas inclusive.
GERALD - Mas a gente não sai por aí fazendo propaganda do que a gente faz. Quem quiser falar, que fale. A gente divulga o nosso trabalho mais entre os meios underground, não saímos por aí dizendo: "Cortamos o cabelo por isso, por isso e por isso." Só falamos se nos perguntarem.
RB - Por que a letra Purification Process não saiu no encarte do CD? Tem alguma coisa a ver com a temática que, segundo o que está escrito no release, chega a ser fascista, pois diz-se lá, entre outras coisas, 'fuck off the indians', 'fuck off the browns' [N. do R.: 'fodam-se os índios', 'fodam-se os marrons']?
WAGNER - Não, não tem nada de 'fuck off the indians' ou 'fuck off the browns'. Tem mais a ver com homossexualismo e uso de drogas.
RB - Mas está escrito aqui, 'fuck off the indians' e 'fuck off the browns'.
WAGNER - Onde? [mostramos o release] Quem escreveu isso aí foi o João [N. do R.: dono da Cogumelo, gravadora da banda]. No caso do 'indians', é mais no sentido do pessoal que está misturando sons tribais com música pesada. Mas os 'browns', em relação aos negros, não tem nada a ver, não temos nada contra os negros. As minorias a que estamos nos refe-rindo são os homossexuais e os viciados em drogas. Tem-se que botar um fim nissso. O problema não são as pessoas que fa-zem merda, são as pessoas que fazem merda e acabam levando outras junto com elas. Isso nos deixa putos.
GERALD - Mas a gente não colocou a letra não porque não queríamos, mas porque foi cortada mesmo, censurada. Inclusi-ve, outras músicas do disco falam, mais ou menos disso, como a própria The Worst.