^120Y^ (Sara
Baptista)
Surrealista
O
mau da fita
Os sonhos escoam
da mente
Os demónios
do meu mundo
ANTÍTESE PARADOXAL
ANTÍTESE PARADOXAL II
ANTÍTESE PARADOXAL III
Os anjos voaram
Irrealidade
Pretérito imperfeito
És o meu desespero
invocado
Olho pela frincha
da porta
SURREALISTA
Só um louco de amor
engana o caule da roseira
que trepa pelo carborador
para conseguir a beira
do seu esplendor.
Mas pede ao dia
para lhe oferecer o mal
e lhe atirar a porcaria
da peste sentimental
e facultar outra folia.
Então não chorou
pela cama
que não foi enviada
a lisboa
e ficou em alfama
a querer que a sua broa
voltasse de pijama.
Subiu ao vale das letras
e sem luz viu claridade
canas soltas e pedras pretas
para idealizar a vaidade
e plastificar as varetas.
Só o sol o viu entender
que no meio do seu primor
conseguiu finalmente comer
a arca do resplendor
e o seu amor reviver.
.
Sara 25-11-97
O MAU DA FITA
Julgam-me cupado por tudo o
que me fizeram,
por tudo sou o mau da fita,
por tudo sou o bicho mau.
Hão-de aprender que
tenho o mesmo direito
de ser feliz que toda a gente.
Hão-de aprender que
tenho o direito de
não me sentir culpado.
Culpa? Ninguém tem.
Só eu, o mau da fita.
Tenho tanto direito de gostar
dos outros
como os outros de não
goatarem de mim,
gostos não se discutem.
Tenho culpa.
Tenho culpa porque sou o mau
de fita.
Tenho culpa por gostar dos
outros.
Tenho culpa por não
gostarem de mim.
Sou culpado, condenado, e cumpro
pena.
.
Sara (ns-10-96)
Os
sonhos escoam da mente
como a água escoa das
mãos.
A realidade é dura demais
para os sonhos sobreviverem
intactos
na mente de cada um.
Mas há sonhos especiais
que pressistem na mente das
pessoas,
talvez isso as faça
viver.
.
Sara (10-7-97)
Os
demónios do meu mundo foram anjos que se revoltaram contra mim.
Não faço uma
lista, não denuncio ninguém.
Tive anjos que fugiram gente
que adorava, gente pensada no céu e
feita na terra, consagradas
com o dom de ser amadas por algém,
anjos divinizados na terra
por alguns outros anjos...
E não quizeram, estes
anjos não admitiram ser anjos, não se
reconheceram como tal, e voltaram-se
contra mim. Anjos que agora são
demónios, estranhos
seres angelicais demoniosos, estranhos a mim e ao
meu pensar. Foram anjos de
tudo e com tudo (amizade ou amor...).
Anjos há sim no presente.
Aqueles que nunca dexaram de o ser desde o
mais remoto passado, e aqueles
que aos poucos vou descobrindo e que,
um dia, se podem vir a tornar
demónios.
.
Sara (4/5-6-98)
ANTÍTESE
PARADOXAL
A calma reina no solo da vida
mas, no céu, a maior
confusão
invade a paciência dividida
entre o corpo e a razão.
Objectos pendentes identificados
chocam-se entre si criando
energias ocultas dos mascarados
nos próprios, presos
em bando.
No chão a simplicidade
é encontrada no dia
a dia
nem confusão nem complexidade
nem o mal a tudo se alia.
A calma que paira no chão
impede o céu de caír,
e o céu sempre em acção
não deixa o solo ruir.
.
Sara 5-6-97
ANTÍTESE
PARADOXAL II
Agora que o solo ruiu
reina a maior confusão
tanto na água do rio
como no céu e no chão.
A calma foi-se embora
e ainda nada serenou
porque longe, lá fora
o céu se descontrolou,
não se poude manter
a calma que reinava antes,
agora tudo a correr
torna os paradoxos delirantes.
.
Sara 17-11-97
ANTÍTESE
PARADOXAL III
Bem que posso dizer
que tenho um chão diferente,
pode o céu estar a frever
que bem no chão estou
acente.
O paradoxo voltou ao início
com uma base mais linda,
foi uma antítese do
fictício
pela confusão do céu
vinda.
E está no céu
o passado
que o chão sempre realizou
mas no presente trocado
a antítese paradoxal
voltou.
.
Sara 16-5-98
Os
anjos voaram no branco cálido do
céu
e disseram as musas que o tempo
era assim
quando o mundo se transformou
em meu e teu
e o mar se acalmou só
para ti e para mim,
a chuva caiu do céu
para a vida
e o sol iluminou a manhã
dispersa
as nuvens invadiram a calma
adquirida
do alvor da nossa paixão
diversa
nas paisagens mais lindas vi-te
ao meu lado
no quente do verao mergulhámos
os 2
o meu mais lindo sonho foi
realizado
e recordado para todo o sempre
depois
não era o sol que nos
fazia sorrir
nem era a noite que nos fazia
amar
era tudo unido no tom do surgir
um tempo que não ia
acabar.
.
Sara 12-11-97
IRREALIDADE
Era um amplo recanto junto do
mar
no meu coração
passavam dois anos de amar
um raio fulminou a minha alma
inteira
e vi-me de repente à
tua beira
nesse dia senti tudo mais fundo
como este meu amor maior que
o mundo
vi os teus olhos olharem os
meus
e os meus pensamentos chegarem
aos céus
senti a tua mão apertar
a minha
e que tu eras tudo o que eu
não tinha
passamos a noite inteira a
olharmo-nos os dois
e nunca cheguei a reparar nisso
depois
pensaste em mim e quiseste
ter pena
mas a minha alma estava mesmo
muito pequena
de tanto tempo que eu ja tinha
amado
deitei tudo fora e esqueci
o passado.
.
Sara 5-12-96
PRETÉRITO
IMPERFEITO
Queria estar algures no teu
olhar,
queria ser a fonte do teu viver,
queria que um dia pudesses
ficar
ao pé de mim para eu
te ver.
Queria ir onde o teu sonho
chega,
queria estar onde a tua mão
pega,
queria ouvir a música
na tua voz
cantada por ti e por mim, por
nós.
Queria ouvir o som da guitarra
a embalar
palavras soltas perdidas no
ar.
Queria olhar a lua ao pé
de ti
e ouvir o barulho do mar aqui.
A olhar o luar, a cantar, ouvir
o mar,
olhar para ti e sonhar.
.
Sara 25-10-95
És
o meu desespero invocado,
o motivo de todo o pranto,
o teu ser assusta o desejado
e põe o meu ser no canto.
És tu a causa teórica
de uma felicidade inalcansável,
a busca pela retórica
na bela história interminavel.
És a onda que desmaia
na areia
e em mim como saudade
de um dia que corre na veia
e te enche de vaidade.
És a parte oculta identificada
de um espírito provável
teu
com uma alma consagrada
dona de tudo o que é
meu.
.
Sara 19-5-96
Olho
pela frincha da porta
vejo o teu rosto a aparecer,
olho pela sombra da chuva
vejo o teu cabelo a escorrer,
olho pelo dormir a dentro
vejo-te dentro de mim a sonhar,
olho pela prata do sol
vejo os teu olhos brilhar,
olho pelo nevoeiro cerrado
vejo-te evanecido no ar,
olho dentro do meu coração
vejo o meu amor a acabar.
.
Sara 4-12-96
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