Indo vou
Sempre que parto de um lugar para outro
Atento na água que canta no fogo mortiço
No calor do meu leito no meu coração vazio ...
Canto sem invocar almas de outros tempos
Sofro constantemente porque não sou eu que estou aqui
Sei que não chego a partir para outro lugar
Fico sempre onde estou
Não tento minha vida como o fazia antigamente
Fujo ás tradições e refugio-me na lua constantemente
É capital minha alma
Meu sonho meu coração
Minha lua o sol
E minha luz a lua
E amor ?! Onde está esse em mim ?
Não o encontro faz tempo ...
Não o consigo reter por muito tempo e também não o quero
Sou uma mulher que ostenta hoje saudade
Sabe-se lá por onde andaria eu hoje se fosse domingo ?
Vagueando por terras sem dono
Andando em baixo sem estima , sem lágrimas para chorar
Baixando a cabeça e soluçando de dor
Não obstante , há uma velha casa
Onde humilde e terna eu cumpro a tradição
Para onde eu venho feita artista cantar
Velha tendinha em minha terra
Onde surjo eu imaculada cor de sei lá
Indo de coração alto prosseguindo minha vida
Margarida Machado (azie)
99
"Agosto"
O teu perfume penetra nas ervas verdes do chão
As árvores altas tapam o sol
Impedindo o teu cabelo de brilhar só para mim ...
O que queres que faça ?
Não me consigo concentrar noutra coisa a não seres tu !
Sim , prendes-me o olhar no verde água do redondo dos teus olhos
Suores ...
Ambos molhados tocamos um no outro
E eu penso que seja irreal
Sinto tua pele aveludada
Torneada por mil dedos que não são meus
São nossos ...
Inspiras a surpresa contida no meu peito
E aí , tocas numa galeria inacessível do meu coração
Acordo a sentir o teu corpo novamente no meu ...
Desvias-me de leve os cabelos mas eu nem sinto
Porque a minha mente recomenda ao meu olhar
Que siga sem rumo ...
Derepente paro, e olho para o abismo em que nos encontramos
As folhas já voam em torno de nós
E o chão já não está direito !
Os átomos batem uns contra os outros
E dançam com partículas ínfimas
Continuamos ...
Aí acendo o bico do meu fogo e agarro-te
Aperto-te contra meus seios brancos
E tu retornas esse aperto numa série de movimentos bruscos ...
Gritamos loucos de fluidos unindo-nos debaixo do mesmo céu
Loucura que passa pelo tempo que faz a vida !
Beijamo-nos prostrados naquela cama revolvida
Viciei-me em teus lábios digo
Eu em teu busto dizes agora acordando para a vida
Fecho-me para o Mundo
Durmo junto a ti
Feliz ...
Margarida Machado
1998/agosto