Daren
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 Daren  (João Pedro Francisco)
 

No lugar...

...imagens voltadas...

Assim é a manhã

Os animais repetem-se


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

No lugar onde a secura intrínseca
aos vegetais no corpo das pétalas
nos toca Amor há um nome a ser
arrancado à veloz extensão da garganta,
desde onde nasce o sangue sabemos
de muitos dedos para dentro das origens
o peito toca-nos intensamente sempre
que sangramos das mãos que nos receberam
um rasgão voraz no limite
das crianças, quem tem as imagens húmidas...
húmidas da tenebrosa inteligência
que as crianças em volta queima
no lugar que era das pétalas
cardíacas membranas
estremecentes  junto à gritaria interior
de quem atravessa o silêncio por fora
muito nítido Amor o silêncio como
orifício apagado aos olhos, ao mundo
imóvel diante o estrondoso exercício
de quem ama e põe vozes correndo
pela respiração atravessada de silêncio
e imagens irreversíveis face dentro
estremecendo  um nome apenas
Amor rompe a carne
um clarão, um estilhaço da gritaria
de quem ama, em cujo corpo arrefece
a infância inteligentemente queimada.

José Pedro Francisco

 


 

 

Com as imagens voltadas para o avesso da língua
e peixes de boca aberta alguns
para o frio das estantes retirados
a soprar muitas mulheres ainda limpas
e a gritar para o amor a escorrer a beleza
dos dedos na folha grave dos anzóis
que muitas vezes trazem o riso puro pela manhã
e um peixe esmaga o calor da respiração e foge
com a cara à agua porque é mulher e tem o peito
mergulhado na vibrante infância
dos peixes fios de sangue brilhantes
na garganta das mulheres. 

José Pedro Francisco
 


Assim é a manhã e treme
de quem se levanta cedo depois
da corrida pelo brilho escumoso
do espelho nocturno.
minha mãe batendo com a voz
muitas vezes de encontro ao rosto
deitado do filho que passa ainda
a mão sobre a poderosa harpa
com que recomeçou a infância.
penso depois no bater dos dedos
na boca de minha mãe ambos
estremecentes de luminoso fósforo
e ódio, às vezes penso na devagarosa
língua no pescoço, meu amor, e
na tua cara deitada contra as manhãs
no mundo. 

José Pedro Francisco
 

 


 

Os animais repetem-se muitas vezes
à noite quando não há senão gritos a queimar
por dentro as mangas da pornografia.
repetem-se e são visíveis pela

violenta resina da preguiça, a imaginar
estátuas e a cuspir erva. oiçamos diálogos
- primários instrumentos para um sono

voraz pelo avesso: chegar perto
das vagas flechas apontadas ao sossego,
as nossas fogueiras – digamos,  janelas

percorridas por qualquer coisa
como obstáculos e planícies inteiras
de animais cheios de movimento no inverno.
 
José Pedro Francisco