Vela
Queima vela do meu remorso
Pela escravidão maldita do que prevejo.
Andante sensação, estou no seu dorso
Como eterno sentido num ofegante ensejo.
Faltou a luz no cais do meu cérebro
Vagueio por dentro como alma penada
Os sentidos crivaram-me e quebro
Na monotonia mais pesada.
Ah! Luz sublime da vela
Derretendo a sua harmonia
Sobre um pires branco perto da janela.
Para onde dou num tributo de ser pobre
E aleijado da vida, uma mais mania
Que encerro quando te vejo queimar sobre...
Seth 22/12/99
Possessão.
Estou intensamente possesso
Nesta noite pelo escuro,
De ver que nada vejo
Na ingenuidade do pensamento mais impuro.
Vendo que a visco me falta
Copiosamente tenho vontade de dormir;
Fechar os olhos como partir
Para uma vida mais farta,
Da conexão dos sentidos
Com o real e ver
Além destes olhos perdidos.
Para que seja na visco inversa
A lágrima pura e poder
Lavar esta possessão perversa.
Seth
Estrela.
doce voz feminina
Que não oiço mas canta;
No extase da campa,
Nuvem de fumo em forma de menina.
Pela perda do sacerdote
Nas covardias mais profundas.
Nos esgotos do pensamento escondidas
As mãos do mestre e o seu dote.
Uma viragem mais saudavel.
Mumia insubstituivel
Na pirâmide do norte.
Seguindo uma inexistente voz como a uma estrela
Que não brilha perto da cancela
Para a inevitavel morte.
Ferida.
Um pensamento tóxico
Como dependência interna
De uma nódoa negra externa,
E partir dai como tipico,
Para uma deambulação qualquer...,
No amadurecimento mais duro,
A cabeça batendo varias vezes no muro
Até rachar o cérebro e doer.
Uma dependência reincidente
No calabouço da mascara de carne
Que comove o muro imóvel ao incidente.
A ténue tentativa da sensibilidade
Sangrando os motivos, ferida concede
Esse combate dos lóbulos, faciosa realidade
Ah, excitante presença do teu olhar
Que não olho mas atento
Com a forma estranha de te amar
Como a presença instintiva em mim como vento.
Escrevo um prefácio para uma nossa história
Doce Gopis que me rodeias neste monte
Onde o som da minha prece na memória
Bate-me como um filme surreal de fronte.
Ah, sentimento desavindo e precoce
Atinges-me como acordado sonhando
No sozinho de meu coração, realidade fosse!
E por agora essa fantasia farelada
Da minha alma como és brando
Me acalma esta solidão malvada.
Ao meu pequeno King.
Meu murmurio é um sorriso,
Um sorriso que te lango no escuro.
Tão tenro subtil e simples,
Encontras as páginas fúteis do meu jornal,
Trazes-me um olhar arrependido,
Rebolas por uma festa, baloiçando
No teu baloiço de virtudes.
Teu murmúrio é um sorriso
Latindo pelo toque da minha mão carente.
Meu pequeno cão,
Com a embriaguez da tua presença humilde,
Mostras-me vivo ainda
Pudera ser para sempre...
Nascido a :4/1/1987
Falecido a: 16/12/1999
Palavras assinaladas e
teatros magnificos
Ondas gigantescas atingem o brilhante;
As frases soam a sublimidade de crente
Os sentimentos, falsete com inimigos míticos.
Nas suas folhas a mais pura essência
A calidez de espirito na sucção do ser,
Desejar que o real se torne em poder
Existir como um todo borrifado de demência,
E todos vêm da palidez o instante
Em que se deixa de agradar a gregos e troianos,
De uma faceta a outra: personalidade inconstante?
Terror virtual da alma despejada
Da sua morada. Impiedosa patroa e os planos
De bebê-la e fumá-la toda, entco, alma despojada.
Traços de giz
Por Lisboa a noite
Mil tragos de desespero em silhuetas
Empoleiradas na breve passagem
De vagabundos pela rua.
Satiros gritos me chamam:
"Consome, consome,
Reproduz-te no oasis
Da tua figura espelhada
Na miragem de uma vitrine de loja,
Entra e consome-me!"
Mil cores alucinadas
Vagueiam no silêncio de uma caneca de cerveja
Vozes que se calam,
E eu calo-me também
No prazer distorcido
Pelo som de um isqueiro
Que me acende um cigarro.
Saio do Irish pub,
Pelos pés encardidos da noite lisboeta
Dou saltos enraivecidos de loucura,
Pura vendeta para com o passado
E vislumbre de uma serenidade profanada.
Busco um taxi
Endireitado pelo único rumo
De voltar sempre ao mesmo refugio.
A palidez dos sussurros nocturnos
Passam a meu lado no vermelho de um semaforo,
Gente que morre abragada
Ao pouco calor escorregadio
De caixas de cartão,
Imploram com o olhar:
"Tirem-nos daqui!"
Ati os edifícios agastados pelos anos
Imploram o fim,
E tudo me foge do pensamento
Com o passar alucinado
De tragos de giz no meio da estrada
Como um quadro primario da minha vida.
E com o som idiota
De um labrego viril
Com medo de ser assaltado.
Com o pouco sentido acordado
Que ainda me resta
Abro o alçapão da minha toca
Refugio dos perdidos
E imploro a esmola sacra
"Dai-me sono esta noite
Dai-me de volta o altar esquecido..."