Tranlucencia
Nucal
Redigido pelo Dr. Eduardo
Boulhosa Nassar
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Durante
o segundo e terceiro trimestres da gestação, o acúmulo
anormal de fluido, na região da nuca do feto, pode ser classificado
como higroma cístico ou edema nucal. Em cerca de 75% dos
fetos com higroma cístico, existe anomalia cromossômica
e, em cerca de 95% dos casos, trata-se da síndrome de Turner
45. O edema nucal pode ter diversas etiologias. As anomalias cromossômicas
são encontradas em cerca de um terço dos fetos e,
em 75%, a anomalias é trissomia do 21 ( síndrome de
Down) ou 18 ( síndrome de Edwards). O edema nucal também
está associado defeitos cardiovasculares e pulmonares, displasias
esqueléticas, infecção congênita e alterações
metabólicas e hematológicas. Conseqüentemente,
o prognóstico para os fetos que apresentam edema de nuca
e têm cariótipo normal é ruim 46.
No
primeiro trimestre da gestação, o termo usado é
‘translucência nucal’, por ser esta a característica
ultra-sonográfica que melhor descreve o aspecto observado.
Durante o segundo trimestre, a translucência usualmente regride
e, em alguns casos, evolui para edema nucal ou higroma cístico,
com ou sem hidropisia generalizada.
Translucência
normal < 2,5mm Translucência anormal >2,5
mm
Medida da translucência nucal
A
translucência nucal pode ser medida com sucesso pela ultra-sonografia
trans-abdominal em cerca de 95% dos casos. Nos outros 5%, é
necessário realizar a ultra-sonografia transvaginal. O aparelho
utilizado no exame precisa ter boa resolução, função
de ‘vídeo loop’ e os marcadores (‘calipers’)
devem fornecer as medidas em decimais de milímetros. O tempo
médio necessário para a realização de
cada exame é de pelo menso 10 minutos. Todos os profissionais
que realizam ultra-sonografia fetal devem ser aptos a obter medidas
confiáveis do CCN, por meio de um corte sagital da coluna
fetal. Para tais profissionais é fácil adquirir, dentro
de poucas horas, a aptidão para conseguir uma medida correta
da translucência nucal. Além disso, é necessário
que os mesmos critérios sejam utilizados a fim de se obter
os resultados uniformes entre os diferentes operadores :
(1) O comprimento cabeça-nádega mínimo dever
ser 45mm e o máximo, de 84mm. A idade gestacional adequada
para a medida da translucência nucal é entre 11 e 13+6
semanas. A taxa de sucesso na obtenção da medida,
neste período, é de 98-100%, caindo para 90% com 14
semanas. A partir de 14 semanas, a posição fetal (vertical)
torna mais difícil a abtenção das medidas47.
(2)
Os resultados das medidas da translucência nucal, pelas vias
trans-abdominal e transvaginal, são similares, mas a reprodutibilidade
pode ser melhor pela via transvaginal48.
(3)
Deve-se obter um corte sagital adequado, o mesmo que é necessário
para medir o CCN.
(4)
A magnificação da imagem deve ser de tal forma que
o feto ocupe pelo menos ¾ (75%) da imagem, essencialmente,
que cada movimento mínimo dos calípers corresponda
a somente 0.1mm. Em um estudo no qual os ventrículos de ratos
foram medidos, inicialmente, pela ultra-sonografia e, posteriormente,
pela dissecção, foi demonstrado que as medidas ultra-sonográficas
podem ser acuradas ao mais próximo de 0.1-0.2mm 49.
(5)
Deve-se ter cuidado para distinguir a pele fetal da membrana amniótica,
por que, nesta fase da gestação, as duas estruturas
se apresentam como finas membranas, sendo necessário que
o feto se movimente afastando-se da membrana amniótica, possibilitando
então a visualização da translucência
nucal.
O afastamento do feto da membrana pode ser conseguido, aguardando-se
movimentos fetais espontâneos, ou alternativamente, pedindo-se
para a paciente tossir ou utilizando-se o transdutor para fazer
movimentos de “balanço” no abdome materno.
(6)
Mede-se a espessura máxima do espaço anecóico
(translucência) entre a pele e o tecido celular subcutâneo
que recobre a coluna cervical. Os ‘calipers’ devem ser
posicionados de tal forma que a sua linha horizontal fique na linha
que delimita a translucência nucal. Os ‘calipers’
a serem empregados devem ser de preferencialmente os do tipo ‘+’,
pois conferem maior nitidez do espaço medido. Durante o exame,
mais de uma medida da translucência nucal deve ser obtida
e sempre maior medida deve ser utilizada.
(7)
Medida correta da translucência nucal
(8) A translucência nucal deve ser medida com o feto na posição
neutra. Quando o pescoço fetal está hiper-estendido,
a medida pode ser aumentada em até 0.6mm, e quando o pescoço
está fletido, ela pode ser diminuída em 0.4mm50.
(9)
O cordão umbilical pode estar ao redor do pescoço
fetal, em 5-10% dos casos e este achado pode produzir um falso aumento
de aproximadamente 0.8mm na medida da translucência nucal51.
Em tais casos, a medida da translucência nucal, acima e abaixo
do cordão é diferente. No cálculo de risco,
é mais apropriado usar a menos medida.
A
distribuição da medida da translucência nucal,
assim como a qualidade das imagens em termos de magnifcação,
corte (sagital ou oblíquo), posicionamento dos ‘calipers’,
linha da pele (somente a translucência ou inclusão
da pele) e visualização da membrana amniótica
afastada da translucência nucal, são levadas em consideração
na auditoria dos resultados52.
A habilidade para medir a translucência nucal e obter resultados
reprodutíveis melhora com o treinamento. Bons resultados
são alcançados,após 80 e 100 exames da medida
da translucência nucal, pelas vias trans-abdominal e transvaginal,
respectivamente53.
A habilidade para medidas confiáveis da translucência
nucal depende da motivação do ultra-sonografista.
Um estudo, em que os resultados obtidos em hospitais onde a translucência
nucal foi utilizada na rotina prática (intervencional) foram
comparados com aqueles de hospitais onde os operadores meramente
documentavam a medida da translucência mas não utilizavam
seus resultados (observacional), relatou que, no grupo intervencional,
a medida da translucência nucal foi obtida com sucesso em
100% dos casos e foi > 2.5mm em 2.3% dos casos. As porcentagens,
no grupo observacional, foram de 85% e 12% 54,55, respectivamente.
Treinamento apropriado, alta motivação e aderência
às técnicas padrões para medida da translucência
nucal são pré-requisitos essenciais para a aplicação
na rotina prática. Monni et al. Relataram que, após
modificação da técnica da medida da translucência
nucal, seguindo as orientações estabelecidas pela
Fetal Medicine Foundation, a taxa de detecção para
trissomia do cromossomo 21 aumentou de 30% para 84%
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