Um dos primeiros efeitos da nova gestão foi vista na demissão de 670 funcionários e na transferência de sua base de operações para São Paulo, desfigurando bastante a alma carioca que sempre fez parte de sua história. No ponto de vista da programação, algumas atrações foram mantidas, como o recém-estreado "Almanaque" e as duas versões do "Cinemania". A produção da novela "Amazônia" continuou, perdurando até o mês de junho, registrando uma decepcionante audiência. Em sua seqüência, entrou no ar a minissérie "Seu Quequé", uma produção da TV Cultura de São Paulo.
Um nome que permanecia fora do ar da emissora há mais de quatro anos retornou disposto a inovar bastante o seu papel de apresentador. Foi com este propósito que o estilista Clodovil Hernandez conduziu o seu "Clodovil Abre o Jogo", um talkshow que alcançou ótimas colocações em audiência no horário nobre de segunda a sexta-feira. Dentre os diversos destaques na existência do programa, o que mais impressionou foi a chamada "lente da verdade", um close bastante indiscreto no rosto dos entrevistados, induzindo-os a falarem o que estavam pensando.
Ainda sobre a programação, duas grandes observações ganham destaque neste período sombrio da Rede Manchete: a grande abertura de sua grade para as produções independentes e o investimento em uma novela estrangeira. O primeiro caso é nitidamente comprovado na overdose de programas evangélicos e de televendas que surgiram, principalmente no período da manhã dos sábados e dos domingos. Analisando o segundo caso, verifica-se claramente que a situação financeira da emissora permanecia agravada, impossibilitando-a de reativar o seu núcleo de dramaturgia. A solução para o caso foi vista no investimento em uma produção de baixo custo: a novela mexicana "Valéria e Maximiliano". Também é válido destacar a reprise da novela "Dona Beija", um dos maiores sucessos da emissora em sua área de dramaturgia.
No jornalismo não houve nenhuma mudança. A equipe continuou a mesma, com exceção do "Documento Especial: Televisão Verdade". Com a saída dos responsáveis pela sua produção, a Manchete continuou a investir em um programa com o mesmo formato. Foi aí que surgiu o "Manchete Especial: Documento Verdade", apresentado pelo ator Henrique Martins.
Nos bastidores da emissora, a situação não era nada animadora. Depois de suportarem diversos meses sem o recebimento dos salários, funcionários interromperam a sua programação colocando no ar no fim da tarde do dia 15 de março de 1993 um slide denunciando a falta de pagamento dos meses de outubro, novembro e dezembro de 1992, além do décimo terceiro daquele mesmo ano. A situação da Rede Manchete agravava-se cada vez mais devido à greve de seus profissionais deflagrada naquele mesmo dia. Através de uma medida cautelar, a emissora retornou ao controle da família Bloch em abril de 1993, motivo pelo qual justifica-se a colocação do sobrenome de seu fundador abaixo de sua famosa logomarca.
Após este incidente, a proposta de programação da emissora simplesmente perdeu o rumo, comparando-se com a sua idéia original, onde apostava em um estilo de caráter mais elitista. Com a retomada dos Blochs no controle da Manchete, iniciou-se um período de recuperação financeira, apesar de ver a sua emissora ser retirada do ar pelos próprios funcionários no mês de julho. Produzindo a toque de caixa os seus programas, a emissora reativou o seu núcleo de dramaturgia com a novela "Guerra sem Fim" no final de 1993 e prestigiou o público jovem lançando o "Raio Laser", espaço basicamente dedicado à exibição de video-clips com apresentação de Nato Kandall.
Em 1994, a Manchete recuperou o seu prestígio nas transmissões do carnaval do Rio, além de também mostrar um pouco do carnaval de Manaus. Na dramaturgia, entrou no ar a novela "74.5 - Uma Onda no Ar", produzida pela TV Plus. Cada vez mais recuperada financeiramente, a sua equipe esportiva e de jornalismo foi aos Estados Unidos transmitir a Copa do Mundo daquele ano, que trouxe o tetra campeonato para a seleção brasileira.
Embora conquistando uma visível recuperação em sua estrutura, a Rede Manchete enfrentou no ano de 1995 duas situações preocupantes. A primeira relacionava-se ao embargo de seus bens pelo Banco do Brasil, fato ocorrido no mês de maio, e a segunda foi vista na ameaça à sua cobertura nacional, destacando-se o grande desfalque de suas afiliadas por redes concorrentes que cresceram bastante naquele ano, como a Record e a CNT por exemplo. Ainda em 1995, marcou-se a volta da emissora na produção de novelas, desta vez com o apoio da Bloch Som & Imagem, produtora criada pela própria Manchete para tornar independente o seu núcleo de dramaturgia no período do Grupo IBF. A primeira experiência neste grande retorno foi vista em "Tocaia Grande", novela baseada na obra homônima de Jorge Amado.
O ano de 1996 proporcionou mais um período de recuperação
para a Manchete. Houve uma grande entrada de programas populares de auditório
e de um especial em comemoração aos seus 13 anos de existência,
no mês de junho. No jornalismo, houve um bom reforço, comprovado
na transmissão do "Jornal da Manchete" direto de Atlanta, cidade
que sediou as Olimpíadas daquele ano. A presença da emissora
na cobertura dos jogos olímpicos já estava garantida, juntamente
com os diversos sorteios telefônicos que passaram a figurar em boa
parte da programação da rede a partir daquele ano. No segundo
semestre de 1996, entrou no ar "Xica da Silva", outra produção
da Bloch Som & Imagem. Protagonizada pela estreante atriz Taís
Araújo, "Xica da Silva" trouxe de volta à Manchete os bons
tempos em que ela atingia elevados índices de audiência com
o seu núcleo de dramaturgia, chegando a registrar uma média
de 15 pontos no IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública
e Estatística).