
Era um homem que costumava realizar aquilo que prometia. E durante a sua campanha eleitoral, ele garantiu que cumprimria suas 30 metas para desenvolver o Brasil. Em um de seus comícios, em Jataí, Goiás, um popular perguntou-lhe se, eleito, o candidato cumpriria integralmente a Constituição. Juscelino confirmou, sim, cumpriria todos os dispositivos da Constituição. O cidadão então perguntou se Juscelino cumpriria o dispositivo que previa a mudança da capital da República para o Planalto Central. Juscelino já havia elaborado seu Programa de Metas e não pensara no assunto. Mesmo assim, sem vacilar, garantiu que, eleito, transferiria a capital da República para o Planalto Central.
A partir desse instante, Brasília transformou-se na sua Meta-Síntese. O planalto goiano era menos conhecido do que a Amazônia. A idéia espantou muitos, mas JK foi em frente. Em um sábado, almoçava Adolpho Bloch em sua casa, no Edifício Chopin, com seu diretor Otto Lara Resende e sua mulher Helena. Durante o almoço, surgiu o Dr. Israel Pinheiro, sogro do Otto e amigo de Adolpho, comunicando a este que havia renunciado a seu mandato de deputado federal para assumir a presidência da Novacap, a empresa que iria construir Brasília. Pinheiro havia perguntado a Adolpho quantos lotes ele desejaria comprar na nova capital. Este o respondeu dizendo que compraria apenas um, no setor destinado à indústria gráfica, e onde realmente construiu a primeira sede da sucursal da nova capital.
Nos 12 anos de convivência diária e fraternal com JK, Adolpho Bloch aprendeu bastante. Às vezes, o próprio Bloch queria transmitir esses ensinamentos, mas infelizmente não era compreendido. Durante os cinco anos de seu governo, só estiveram juntos três ou quatro vezes. Em uma delas, era dia de greve dos bondes promovida pelos estudantes que protestavam contra o aumento de um centavo nas passagens. Adolpho estava com um problema, pois havia prometido ao embaixador Negrão de Lima, chefe da campanha eleitoral de JK, que, eleito o presidente, sua gráfica daria 20 mil cartazes enormes com o slogan 50 anos em 5. Adolpho havia tirado este slogan de um discurso de JK, feito em uma pequenina cidade do interior. Jornais, revistas e a televisão criticavam o famoso slogan. Adolpho desejava explicar ao presidente que se responsabilizaria pelos cartazes.
Procurando o presidente pelo Catete, Adolpho o encontrou na cozinha, comendo de uma marmita que viera do Palácio Laranjeiras com o seu almoço. JK ficou feliz ao vê-lo. Perguntou-o pela sua saúde. Adolpho disse, então: "Presidente, esta campanha diária contra o senhor, feita pela imprensa, rádio e televisão, está sendo causada pela minha confiança no seu governo. Fui eu quem mandei imprimir e colocar cartazes em todas as principais cidades brasileiras.". JK deu uma gargalhada e respondeu: "Então, Bloch, você acha que nós vamos fazer o Brasil caminhar 50 anos em apenas cinco anos?". Adolpho acompanhou o sorriso dele e a partir daquele dia ficaram amigos inseparáveis.
Ele tinha a certeza de que JK era um grande homem e que seu lugar na história estava garantido. Adolpho editou suas memórias, apesar das muitas dificuldades que o governo de então colocou no projeto por ambos criado. Foram publicados os três volumes de suas memórias (A Experiência da Humildade, A Escalada Política e 50 anos em 5, além de um resumo dos três com o título Por Que Construí Brasília.). Posteriormente, Carlos Heitor Cony completou a série com JK - Memorial do Exílio. O governo liberaria a venda dos livros bem mais tarde. Assim, JK não viu a publicação dos dois últimos livros de suas memórias.
Ele freqüentava diariamente a redação de Manchete. Um dos editores, sabendo que ele estava a par de tudo o que se publicava, pediu-lhe que escrevesse resenhas de livros, garantindo-lhe um cachê de 100 cruzeiros a lauda. Ele aceitou o encargo, mas recusou o pagamento. O editor garantiu-lhe que, se não recebesse, a colaboração dele seria suspensa. E, assim, os últimos cachês que JK recebeu foram os de colaborador de Manchete. Assinou críticas de livros sobre economia, sobre ensaios e romances. Era com alegria que ele próprio juntava os recortes de suas colaborações.
Certa vez, Adolpho Bloch procurara o Dr. Israel Pinheiro, presidente da Novacap, dizendo-lhe que faria toda a propaganda de Brasília sem qualquer interesse comercial. À mesma época, a revista O Cruzeiro só publicava matérias pagas sobre a construção da nova capital. Dizia Bloch que desejava pagar ao governo o privilégio de divulgar a epopéia que estava se realizando no Brasil Central.
Em 1958, acompanhado de seu Dirceu do Nascimento, Adolpho Bloch foi procurar o Coronel Affonso Heliodoro, que lhe fez a entrega de numerosas fotografias da construção da cidade. Com elas, foi editada um número especial de Manchete, que esgotou 200 mil exemplares em apenas 24 horas.
A televisão ainda engatinhava e Bloch pensava: "Quantas pessoas estão sabendo o que se passa no coração do Brasil? 50, 100, 150 mil? E o restante dos 75 milhões de habitantes? (a população total do Brasil da época). Foi assim que Brasília e manchete cresceram juntas. Aquela meta, que o próprio JK denominava meta-síntese, fez a indústria de São Paulo funcionar a todo vapor. Os imensos canteiros de obras que se abriam em todos os estados ofereciam mercado de trabalho a todos e todos prosperaram.
Durante a construção da capital, o presidente saía do Catete depois do expediente diário. Às 8 da noite, tomava um DC-3 no Aeroporto Santos Dumont e levava quatro horas para chegar a Brasília. De meia-noite às quatro da manhã, fiscalizava as obras. Dormia nos aviões. E regressava ao Rio. Às 8 horas da manhã, já estava de volta à sua mesa de trabalho no Catete, despachando o expediente, cobrando tarefas e praxos. Esta rotina durou mais três anos. Foram 354 viagens ao Planalto Central, até que a cidade estivesse pronta para a mudança da capital. Foi um governo sem ódios. O homem comum brasileiro, de repente, descobriu que pertencia a um grande povo, capaz de grandes realizações.
Ainda durante a construção da cidade, Adolpho Bloch fez questão de inaugurar o primeiro escritório jornalístico da nova capital. Quando o lago artificial encheu, Bloch mandou para o Murilo Melo Filho, diretor local de Manchete, uma lancha com o bilhete: "Não faça economia. Por falta de relações públicas, os judeus perderam Jesus Cristo. E um homem desses não se perde.".
O Presidente pediu a Bloch que não faltasse à
inauguração de Brasília. Foi a festa mais bonita assistida
assistida por Bloch. Ao seu lado, o teatrólogo Joracy Camargo vibrava.
Também a seu lado, o ator Silveira Sampaio criticava pequenos detalhes
das cerimônias. Bloch sentia o seu coração inundado
de alegria. Fio naquela festa que, pela primeira vez, vestiu casaca. O
Presidente, quando o viu no Alvorada, veio em sua direção,
dizendo: "Bloch, você não podia faltar a esta festa!". Trazendo
o material da reportagem para a redação, o editor Justino
Martins examinou com seu olho de Moscou todas as fotos e o observou:"Tchê,
você não podia estar usando esse sapato com furinhos no couro,
ele não combina com a casaca."
Muita gente perguntava a Bloch se era verdade tudo aquilo
que habitualmente ele escreve para JK. Sim, tudo era verdade. E mais verdade
ainda era que a sua presença continua em nós, com sua alegria,
seu patriotismo, sua garra de trabalho e seu otimismo. Em 1961, Bloch teve
endocardite e estava internado na clínica do seu amigo Dr. Raymundo
Carneiro. Recebeu diversos telefonemas do Presidente Jânio Quadros,
que desejava saber de sua saúde. Um outro amigo de Bloch, o Henrique
Pongetti, nunca tinha ido a Brasília e o próprio Bloch quis
levá-lo a conhecer a nova capital. Naquele 25 de agosto, às
2 horas da tarde, o Murilo Melo Filho, que era diretor da sucursal de Brasília,
levou a mensagem de renúncia do Presidente Jânio Quadros ao
plenário do Congresso. E foi assim que o Pongetti não conseguiu
conhecer Brasília naquele dia.
Veio Jango. Era também amigo e conhecido de Adolpho Bloch. Moravam no Edifício Chopin, em Copacabana. Quando visitou oficialmente os Estados Unidos e o Chile, fez quastão de incluir Bloch na sua comitiva. Fio assim que Bloch conheceu o Presidente John Kennedy. Um dia, o Jango apareceu na Frei Caneca. Eram duas da tarde, mas ou menos, e Bloch já almoçara, quando recebeu o aviso de que o presidente estava chegando, acompanhado de seu secretário Raul Riff. Jango chegou e disse que viera almoçar com Bloch. Não houve problema algum: naquele dia, Adolpho Bloch havia almoçado duas vezes naquele dia, e com prazer.

No dia 13 de março de 1964 houve o famoso comício da Central
do Brasil. JK havia pedido a Bloch que transmitisse um recado a Jango.
O recado era o seguinte: "Se ele, Jango, era o presidente, por que o comício?".
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