
Manchete foi a única revista que publicou a foto de João Goulart, em companhia de Eugênio Caillard, no momento em que deixava o Rio. Bloch transmitiu esta notícia a JK, que logo compreendeu tudo: Jango iria para o Uruguai e o movimento militar estava vitorioso.
A vida continuou. E os acontecimentos também. Bloch trabalhava sem parar e colecionava obras de arte, pois desejava ter um Museu de Arte Brasileira no novo prédio da Manchete.
Em 1965, com o edifício já erguido mas não acabado, o Mauro Salles o pediu para ali fazer o lançamento do AeroWillys, pois a festa seria muito importante para a sua nova agência de publicidade. Bloch preparou o hall, que ainda estava em concreto. A porta era de tábuas, mas a decoração foi tão luxuosa que começaram a lhe chamar de Cecil B. DeMille. Mauro e Luiz Salles, seus grandes amigos, sempre se lembram desse lançamento que marcou época no Rio e foi o início da ascensão de suas carreiras profissionais.
Bloch mudou-se para a Praia do Russell em novembro de 1968. Na galeria do segundo andar, inaugurou o Museu de Arte Brasileira com quadros e esculturas dos melhores artistas nacionais. O museu serve de foyer para o teatro que hoje leva o seu nome e que foi inaugurado com a peça O Homem de La Mancha, com Bibi Ferreira, Paulo Autran e Grande Otelo, sob direção de Flávio Rangel. Foi um sucesso absoluto. Na matinê da primeira quinta-feira, como de hábito, a platéia era constituída de senhoras.
Caiu forte temporal na cidade e não havia condução para elas. Bloch mandou preparar sanduíches, serviu refrigerantes e providenciou carros que as levassem até em casa. Para ele, nunca foi visto pessoas tão gratas a um empresário teatral.
Bloch gostava tanto da peça que todas as quintas-feiras fazia gazeta e ia assistir à matinê. Aprendeu algumas falas e decorou a canção principal da peça. Certa vez, reparou em um caco de Grande Otelo. Em uma das cenas em que os mouros roubam tudo, o pobre Sancho Pança fica sem nada e ele disse para o público: "Além de ser Furtado, sou obrigado a ficar Callado!" Com esse inesperado caco ele homenageava dois amigos que estavam na platéia: o ex-Ministro Celso Furtado e o escritor Antônio Callado.
O teatro dava para Adolpho Bloch muita alegria. Em um dia, quando o Almirante Faria Lima tomou posso no governo do Estado do Rio de Janeiro, Bloch foi a ele, em companhia do Murilo Melo Filho, para dizer-lhe que o Rio precisava de mais teatros e grandes espetáculos, e que ele mesmo gostaria de contribuir com 2 milhões de cruzeiros para a construção do Palácio das Artes, que teria como modelo o Lincoln Center de Nova Iorque.
Três semanas depois, em uma sexta, o telefone tocou e ele mesmo atendeu. Era o Governador Faria Lima lhe convidando para assumir a presidência da Fundação dos Teatros do Rio de Janeiro (Funterj). Bloch deveria se apresentar à secretária de Educação do Governo para ali erguer um edifício de 22 andares. Os dez primeiros seriam destinados ao apoio técnico do teatro, com salas de ensaio, de orquestra, balé e administração. Os restantes andares seriam vendidos para formar um fundo de renda estável para as atividades do Municipal.
Em Inhaúma, Bloch construiu a Central Técnica, onde são feitos cenários, figurinos, sapatos, adereços, tudo o que um espetáculo teatral necessita. Restaurado o Teatro Municipal, surgiram as dificuldades: era difícil contratar grandes nomes internacionais, pois as contas e os pagamentos das administrações passadas não estavam em dia. O Municipal tinha fama de mau pagador. Depois de sanear as contas, trouxe uma equipe de técnicos do Teatro Colón, de Buenos Aires. E assim, dois anos depois do início das obras, reinaugurou o Municipal com a ópera Turandot, de Puccini, em um espetáculo de gala que teve a presença do Presidente Ernesto Geisel. E a temporada de reabertura prossegiu com grandes espetáculos: a Orquestra Filarmônica de Israel, regida por Zubin Mehta, os concertos de Rostropovitch e, na parte lírica, para coroar a temporada, convidou Franco Zeffirelli para montar La Traviata. Foi um espetáculo como o Rio nunca tinha visto antes e que se prolongou em diversas récitas.
Quando lhe pediam uma autodefinição, Adolpho Bloch costumava responder que era brasileiro, judeu e sionista. Conhecia o mundo. Para ele, conhecer Israel foi uma grande lição. Ali vivem judeus de 150 países diferentes e que formam uma nação espiritualmente forte e verdadeiramente democrática. Em 1948, no instante em que Ben Gurion declarava a independência de Israel, sete exércitos árabes altamente equipados invadiam as fronteiras do novo país para esmagar o seu povo e lançá-lo ao mar. O mesmo aconteceria em 1956, em 1967 e em 1973. Conversando com os líders e chefes militares de Israel, compreendeu que uma nação se forja na luta e na fé.
Em sua juventude, Adolpho Bloch leu muito sobre o Caso Dreyfus. Quando lhe perguntam por que abraçou a causa do Presidente JK, costumava responder com o caso Dreyfus. É a história de uma injustiça. Para Bloch, que era judeu, estava habituado a sofrê-la. Por isso mesmo lembrava um caso. Em 1981, estava em Nova Iorque com Zevi Ghivelder. Bloch ia receber uma homenagem do American Jewish Committee. Ao entrarem em um táxi, o motorista lhes transmitiu a notícia que acabara de ouvir no rádio: o Papa João Paulo II sofrera um atentado em Roma e estava em grave perigo de vida. Zevi e Bloch não trocaram uma palavra. Ficaram mudos. Nada falaram, mas pensaram a mesma coisa: e se um judeu maluco fose o autor do atentado? Só respiraram, aliviados, quando souberam que o criminoso era um turco. O final da história é que tudo terminou bem, o Papa goza de boa saúde e, na cerimônia do lava-pés, na Quinta-Feira Santa, lavou os pés de seu quase assassino.
Foi nessa mesma estada em Nova Iorque que, durante uma reunião do American Jewish Committee, foi procurado pelo senhor Norman Alexander, que se apresentou como diretor da Rutherford Company. Bloch conheceu a firma, que estava fabricando máquinas para imprimir latas de alumínio sem costura para bebidas. Era então uma novidade, pois as latas que usavam no Brasil eram de folha-de-flandres e tinham costura. Conhecia a técnica e achou que seria um grande negócio investir no setor. Contudo, não quis fechar o contrato na hora. Disse que regressaria ao Brasil e depois voltariam a falar no assunto.
Quando aqui chegou, encontrou o projeto da televisão bastante adiantado. Ele não estava a par de quase nada. Era grato ao Presidente João Figueiredo, que lhes concedeu os cinco canais depois da necessária licitação pública. Dois anos antes, ele estivera na Itália e adquirira uma Cerutti de última geração, uma rotativa fabulosa, capaz de imprimir 42 mil exemplares por hora a quatro cores.
Pessoalmente, ele preferiria continuar investindo na editora, visitando exposições de maquinas gráficas, de livros, revistas e, com o tempo, concretizando o projeto de fabricar latas de alumínio, uma novidade no mercado brasileiro. Possuía em Água Grande instalações de 30 mil metros quadrados para a nova indústria, cujo ramo é parecido com aquele que sempre foi dele. Para isso, ele tinha recursos mais do que suficientes. Para iniciar a televisão, entre outros projetos, ele tinha de comprar de uma só vez 12 milhões de dólares em filmes que poderiam ser transmitidos apenas três vezes no espaço de dois anos. E em dois anos, os 12 milhões de dólares viraram fumaça.
Relutou consigo mesmo e custou-lhe a idéia da televisão.
Mas quando aderiu, e seguindo o seu temperamento, foi para valer. Seu sobrinho
Jaquito seguiu para os Estados Unidos e para o Japão, trazendo os
equipamentos mais modernos. Aqui, com a sua equipe, começaram a
viabilizar o projeto. Tinham cinco canais (Rio, São Paulo, Belo
Horizonte, Recife e Fortaleza), que estiveram acrescidas de dezenas de
afiliadas que cobriam todo o território nacional.

Produziram uma programação da mais alta qualidade. Seus estúdios em Água Grande, com 20 mil metros quadrados, entusiasmavam os visitantes que comparavam as suas instalações cenográficas às de Hollywood dos anos dourados. Tinha confiança na televisão. Para ele, era o futuro da comunicação.


As nossas homenagens a um homem que se consagrou como um verdadeiro herói
e símbolo da imprensa brasileira, bem como defensor e grande contribuinte
da cultura em nosso país.
