ABRAM ALAS PARA OS PROGRAMAS:
Como os Programas de Computador foram
Desenvolvidos para Cobrir Riscos e Tomar Conta
do Dinheiro
 

   As opções estão no centro da economia megabyte porque oferecem aos grandes e pequenos investidores uma forma barata de ter uma participação em empresas e de cobrir seus riscos.  Constituem um instrumento extremamente versátil e, embora voláteis, as equações de Fischer Black e Myron Scholes podem dar aos investidores sinais seguros e a tempo para que o nível de seus riscos seja diminuído.  Com um PC e alguns bons programas de computador, um investidor pode obter lucros com opções.

    Embora as opções constituam grande parte da economia eletrônica, são, porém, apenas parte de um mercado muito maior de futuros.  Os mercados mundiais de futuros, que agora são maiores do que os mercados mundiais de ações, são também verdadeiramente globais e eletrônicos.

    Até 1972 os mercados de futuros eram basicamente mercados de Commodities. É por isso que os mercados americanos estão localizados em Chicago, que era o maior centro do comércio interno dos Estados Unidos.  Chicago era a cidade-mercado do país.  Fazendeiros levavam seu trigo para lá, e criadores de gado mandavam a carne para lá, por trem.  Era onde as estradas de ferro, os rios e os lagos se reuniam.  Era onde as empresas aéreas estabeleciam o centro de seus vôos domésticos.

    Os mercados de futuros se desenvolveram em torno do mercado de Commodities de Chicago.  Lá, especuladores compravam de fazendeiros contratos sobre trigo que ainda não tinha sido colhido e sobre gado que ainda não tinha sido abatido.  Compravam contratos para entrega seis meses mais tarde, e, enquanto isso, negociavam esses contratos centenas de vezes.

   Como os especuladores podiam fazer propostas para compra de Commodities nos matadouros, fundições de metais e moinhos de cereais, o mercado de futuros de Chicago funcionava muito bem.  Se houvesse uma grande colheita de trigo e os preços caíssem, os espanadores corriam para comprar o excesso de trigo e estocá-lo.

   A intervenção dos especuladores impedia a queda exagerada dos preços e mantinha os mercados mais calmos e mais organizados do que estariam sem os espectadores.  A especulação, porém, funcionava no sentido inverso também.  Quando o trigo estava escasso, os estoques eram vendidos em leilões.  Essa repentina entrada de uma nova oferta impedia a subida descontrolada dos preços.
 
    Oferta e procura realizavam sua mágica em Chicago, protegendo os fazendeiros americanos contra a queda dos preços, e os consumidores contra uma subida dos preços.

   Durante 100 anos essas transações aconteceram nos barulhentos pits1 de Chicago.  Eram quentes no verão, frios no inverno e sempre tumultuados.  Sempre estiveram entre os mais autênticos mercados de “leilão” do mundo.

   Embora Chicago seja o centro mundial no que se refere aos negócios com futuros, ela não é, de forma alguma, o único lugar onde o mundo negocia seus contratos de futuros no valor de trilhões de dólares por ano.  Chicago tem a Bolsa de Valores de Chicago, a maior bolsa de valores, a Bolsa Mercantil de Chicago e a Bolsa de Opções, mas existem outras bolsas de valores em todo o mundo.

   New York tem a Comex (Commodities Exchange).  Tem também a NYCSCE (Bolsa de Café, Açúcar e Cacau de New York), a NYME (Bolsa Mercantil de New York) e a NYFT (Bolsa de Futuros de New York).

   Kansas City tem a Bolsa de Valores de Kansas, chamada KBOT.  E existem imensas bolsas de futuros em Londres, Zurique, Tóquio, Paris, Frankfurt e outros lugares.  Esses grandes mercados evoluíram juntos, competem entre si pelos negócios e colaboram uns com os outros em produtos.  Todos agora negociam produtos financeiros, como taxas de juros, opções, moedas estrangeiras, índices de ações e assim por diante.  Negociam contratos financeiros juntamente com carne, ouro, prata, platina e soja.  Para o operador, todas as Commodities se comportam mais ou menos do mesmo modo, sejam elas metais, grãos ou dinheiro megabyte.
 

1. Pit: área da bolsa de valores onde determinada commodity ou título mobiliário é negociado.  Em linguagem comum, pit significa buraco, fosso, arena. (N.T.)
 

OS CONTRATOS FUTUROS SÃO AUTOMATIZADOS

    O conceito de negociar contratos futuros sobre dinheiro foi inventado na Bolsa Mercantil de Chicago, em 1972.  Nessa ocasião, Leo Melamed, advogado, escritor de ficção científica e operador, começou a pensar no dinheiro como uma commodity e sobre uma maneira de negociar o dinheiro.

   Ele tinha lido o que os economistas estavam escrevendo na época: que o dólar estava supervalorizado e que, por isso, as exportações americanas estavam sendo prejudicadas.  Melamed tinha orientação e atitude monetarista.  Acreditava que o dinheiro era o centro da economia e que sua quantidade determinava os preços.  Entretanto, também acreditava que o dinheiro era uma commodity, algo para ser comercializado e barganhado de maneira não muito diferente do modo como os fazendeiros negociam o preço do arroz.
 
    Melamed também acreditava firmemente no livre mercado.  Embora fosse advogado e não economista, era discípulo de Milton Friedman, o economista ganhador do Prêmio Nobel, que dava aulas na Universidade de Chicago.  Friedman era um gênio e um dínamo.  No final da década de 1960 e começo da de 1970, Friedman reuniu em Chicago um grupo de intelectuais com idéias semelhantes, que incluía Melamed. À medida que a crítica de Friedman ao capitalismo liberal ganhava adeptos e que suas noções sobre a importância central do dinheiro como determinante dos preços e do crescimento ganhavam apoio, ele viajava pelo mundo aconselhando chefes de estados e ministros de finanças em países tão diversos como índia, Chile e Israel.

   Melamed era um sonhador, mas era também um homem prático.  Argumentava que se o dólar realmente estivesse supervalorizado, como diziam os economistas e os homens que estabeleciam as políticas econômicas, então um mercado especulativo de futuros sobre moedas estrangeiras teria um efeito benéfico sobre seu valor.  Se o dólar fosse negociado da mesma maneira que o trigo ou a soja, argumentava ele, não tinha corno permanecer supervalorizado.

   Reuniu um grupo que negociava com ovos, manteiga e metal e mais alguns outros excêntricos.  Um membro de seu grupo era Henry Jarecki, um psiquiatra de Chicago interessado em seus mercados, em especulação e em ganhar dinheiro.  Outro era Bert Norton, um companheiro de jogo de bridge de Melamed, sem nenhuma experiência no mercado de futuros.  Hoje, os dois são muito ricos.

   A decisão de Melamed de negociar futuros sobre moedas estrangeiras baseava-se na mudança da natureza do dinheiro, como  veremos.  Quando o dólar foi libertado do padrão ouro, em 1971, e pode flutuar livremente, bastou um curto passo intelectual dos pits de ovo e manteiga para os pits do dólar.  Afinal, para um operador, que diferença havia entre dólares e alqueires de trigo?

   Para defender seu argumento, Melamed contratou Milton Friedman para escrever uma tese sobre a comercialização de moedas estrangeiras na Bolsa Mercantil de Chicago.  Friedman mostrou que o dólar é uma commodity e apresentou sugestões sobre como organizar um mercado de futuros em moedas.

   Em parte devido a essa tese e em parte devido à mudança na natureza dinheiro produzida pelo fim das taxas de câmbio fixas, a Chicago Merc, como era chamada a Bolsa Mercantil de Chicago, concedeu a Melamed o direito de comercializar moedas estrangeiras.
 

INAUGURADO O MERCADO DO DÓLAR

   Hoje, em grande parte devido aos esforços de Melamed, dólares, marcos e ienes no valor de cerca de $ 800 bilhões mudam de mãos diariamente nos mercados a vista e de futuros.  Essa importância representa cerca de 25 vezes mais dinheiro do que o envolvido em todo o comércio internacional.

   A maior parte desse dinheiro está envolvida em operações que visam, unicamente, a ganhar dinheiro. É um mar de dinheiro.  O valor movimentado num dia é mais do que todos os canadenses, com todas suas indústrias, minas e negócios ganham num ano.  O valor movimentado num dia poderia comprar toda a produção da Boeing Airplane Company - tudo desde seus helicópteros e mísseis até seus jatos 747 - pelos próximos dezoito anos. É dinheiro suficiente para comprar de uma só vez as nove maiores empresas japonesas - que estão supervalorizadas -, inclusive a Nippon Telegraph & Telephone, os sete maiores bancos japoneses e a Toyota Motors.
 

A SALA DO DINHEIRO DE MELAMED

    A invenção de Melamed resultou no Intemational Money Market.  O IMM, como é conhecido, foi instalado na Bolsa Mercantil de Chicago com seu próprio local de negociação (pit).  Tem sua própria lista de membros que compraram o direito de negociar ali.

   Curiosamente, o pit onde o dinheiro é negociado em Chicago é realmente um buraco. É uma arena circular de cerca de dez metros de diâmetro no ponto mais amplo que desce numa série de degraus concêntricos.  Cada anel de degraus é um pouco menor do que o anterior.  A arena propriamente não é muito diferente daquelas em que os lutadores de sumô se enfrentam ou onde são feitas as brigas de galo, exceto pelo fato de que no centro, em vez de argila ou areia, tem tecnologia.

   O pit do IMM na Merc é, sem dúvida, um dos pontos mais importantes da malha eletrônica do dinheiro.  Fios vindos dos pregões da bolsa de Chicago são como feixes de nervos passando pela base do crânio.  São carregados de informações financeiras vitais que passam por centrais telefônicas e sinapses em torrentes. Chicago, por sua vez, está ligada com outros pontos da malha em New York, Londres e Tóquio.  Através dessas fibras o mundo negocia suas moedas, passando por satélites e por baixo dos mares.  Cerca de cem mil terminais de computadores em todo o mundo estão conectados nesse grosso feixe de fios semelhantes a nervos, acompanhando os movimentos dos operadores e orientando os sobre o que comprar e o que vender.

    Num dia de grande movimento, 500 operadores podem se juntar nos degraus do pit do IMM.  Gritam seus lances e anunciam o que querem vender, à moda de leilão, um estilo anacrônico.  No sistema de leilão, um lance ou uma oferta só são válidos se o grito puder ser ouvido no ar.  Consequentemente, o barulho dos lances e ofertas repetidos é ensurdecedor.

   Dentro desse ambiente ruidoso, os operadores fazem seus negócios.  Um pedido aparece numa tela, é levado para um operador, este gesticula, grita, rosna para conseguir atenção para sua oferta ou lance.  Ordens de investidores de todo o mundo jorram em Chicago e nos pits.
 
 

O MERCADO DE FUTUROS SE EXPANDE

    Entretanto, não é só o dólar que é negociado hoje.  A partir de 1976, Melamed levou os futuros sobre taxas de juros para o IMM.  Não se trata de taxas de juros em si, mas de bilhetes do Tesouro dos Estados Unidos e depósitos de três meses em eurodólares.  Um bilhete de três meses do Tesouro paga uma taxa fixa de juros.  Se você possuir um desses títulos, você tem uma taxa de retomo.  Quando você compra um, é como se você estivesse emprestando seu dinheiro a um parente ou amigo.  Nesse caso, o parente é o Tio Sam e ele é obrigado a pagar juros sobre o empréstimo que você lhe fez.  Você pode vender o empréstimo que fez para o Tio Sam para qualquer pessoa que precise de um fluxo de juros pagos a taxas constantes durante certo tempo.  Ou você pode trocar sua taxa de juros pela de outra pessoa.  Se você ficar com uma taxa menor na troca, seu parceiro no negócio tem que entrar com algum dinheiro.  Se você trocar um prazo mais curto por um mais longo, você tem que pagar certa quantia a seu parceiro.  Existem programas de computador para determinar o valor dessas transações, usando uma variante do modelo Black-Scholes.  Afinal de contas, um título, seja ele do Tesouro ou qualquer outro, é muito parecido com uma opção.  Ele tem valor básico, flutua no mercado e tem determinado prazo.  Esses programas lhe permitem saber a qualquer momento o valor de mercado do que você possui e o preço ótimo do que você quer comprar.

    Ao comprar ou vender um desses bilhetes do Tesouro (que são negociados em lotes no valor de $ l milhão) na sala de futuros do IMM, você pode conseguir algumas pechinchas: uma taxa de juros de 9% sobre $ l milhão, por exemplo, pode custar apenas 8,375%.  Consulte a tela do computador, onde Black e Scholes estão fazendo cálculos, e você verá que essa margem é muito boa.

    Na Bolsa de Chicago, que está na mesma quadra que a Merc, o mercado de bônus do Tesouro dos Estados Unidos cresceu até mais do que o pit do IMM na Merc.  Num bom dia na Bolsa de Chicago, são negociados $ 50 bilhões em bônus do Tesouro.  O operador que ganha uma fração de centavo em cada operação, acaba ganhando uma grande soma.  Muitas fortunas, inclusive a de Melamed, foram conseguidas nos pits de títulos de curto prazo.

    Na Merc, são negociados, por ano, cerca de $ 2,3 trilhões em contratos de futuros sobre o índice de ações Standard & Poors 500.  Cerca de $ 2,4 trilhões é negociado por ano em futuros sobre o S&P100, que é um índice separado.  Mais ou menos outro trilhão negociado em títulos municipais.  As transações com futuros tradicionais de produtos como aveia, porco, gado e cobre, agora respondem por apenas cerca de um terço do volume de negócios das bolsas de futuros.
 

CONTRAPONDO UM RISCO A OUTRO

    Por que esses mercados cresceram tanto?  Em parte porque a eletrônica tornou possível que um mercado use outro para diminuir riscos, uma estratégia chamada hedging.  Em parte porque os diferentes mercados, futuros e a vista (como o mercado de ações), são governados por diferentes conjuntos de regras.

   Essas regras, como veremos, tornam vantajoso para um investidor fazer transações em vários mercados.  E em parte, porque os novos software, como os baseados no modelo Black-Scholes, tornaram possível aos operadores desenvolver modos de movimentar rapidamente o dinheiro de um mercado para outro num vasto jogo global de ganhar dinheiro.

   Vamos examinar apenas uma das regras.

   Se você comprar ações na Bolsa de Valores de New York, você pode pagar a vista (daí o nome mercado a vista) ou pode tomar um empréstimo com seu corretor.  Se você comprar ações a crédito, você tem que abrir o que se chama conta-margem.  O tamanho de sua conta-margem é determinado pelo Federal Reserve em Washington, que, entre outras funções, supervisiona os bancos e o suprimento de dinheiro.  Há mais de vinte anos, o Fed exige depósitos nas conta-margens equivalentes à metade de seus investimentos.  Um investidor precisa ter dinheiro suficiente em sua conta-margem para cobrir perdas.

   Na prática, a conta-margem funciona da seguinte maneira: Se você quer comprar 100 ações da Companhia X e cada ação custa $ 10, num total de $ 1.000, você tem que depositar $ 500 com seu corretor para que ele lhe empreste o resto do dinheiro para comprar os $ 1.000 em ações.  Seu corretor lhe paga juros de mercado de capitais sobre seu depósito e lhe cobra um pouco acima dessa taxa sobre o que lhe empresta.  Os corretores podem ganhar muito dinheiro com essa operação.

    Se o valor das ações que você comprou começar a cair, de modo que seu prejuízo acabe zerando sua conta-margem, seu corretor pode exigir que você deposite mais dinheiro ou que venda suas ações.

    Ao estabelecer contas-margens tão altas, o Federal Reserve mantém o mercado a vista cheio de dinheiro - os economistas chamam isso de liquidez.  O mercado teria que cair em 50% num único dia para que as contas-margens fossem zeradas e os investidores fossem forçados a ir atrás de dinheiro para cobrir seus prejuízos.  Isso nunca aconteceu, embora no dia 19 de outubro tenhamos ficado a meio caminho disso.

   Até o começo dos anos 70, se você quisesse comprar ações, teria que se submeter a essas regras.  Não havia outro jeito.  As ações existiam num domínio do mercado financeiro e os produtos futuros em outro.  Esses dois domínios eram complemente separados.  Diferentes comissões no Congresso supervisionavam cada um desses mercados, o que, infelizmente, ainda fazem.

   Os mercados de futuros, no entanto, têm operado tradicionalmente por um conjunto de regras diferentes das do mercado acionário.  Os mercados de futuros também exigem conta-margens, mas estas são diferentes das exigidas pelo Fed para as ações.  As câmaras de compensação dos mercados futuros estabelecem as exigências de cada mercado, confrontam todos os operadores no fim do dia e é então que o dinheiro realmente muda de mãos. É através da câmara de compensação que os perdedores pagam aos ganhadores o que devem.  Embora as câmaras de compensação estabeleçam contas-margens para contratos de futuros, suas decisões são supervisionadas pela Commodities Futures Trading Commission, que, por sua vez, é supervisionada pelo Congresso.
As regras dos mercados de Chicago (embora seja um anacronismo falar em mercados de “Chicago”, já que eles são acessados de qualquer parte do mundo) convidam mais à especulação do que os mercados de New York.  A única exigência é de que um investidor deposite um título suficiente para cobrir o prejuízo de um dia.  O título é depositado por um corretor de Commodities na câmara de compensação.  O valor do título, em comparação com uma conta-margem, na compra de ações, em geral é baixo - apenas 5 ou 10% do valor do contrato de Commodities, e, para quase todos os produtos, mais próximo de 5% do que de 10%.

    Entretanto, o mercado de futuros realmente não precisa de depósitos de segurança tão altos quanto o mercado de ações.  Como a variação diária no preço da maioria das Commodities é limitada, o título que um investidor deposita, em geral, é mais do que suficiente para cobrir o prejuízo de um dia.  Se os prejuízos começam a acumular, o título é vendido e o dinheiro vai diretamente para a câmara de compensação para acertar a conta.

   No sistema de futuros não existe nenhum empréstimo de dinheiro.  Embora as contas sejam acertadas diariamente, de modo que o título depositado seja sempre suficiente para cobrir qualquer prejuízo, o único dinheiro de que o especulador precisa antes de comprar um contrato de futuros é o equivalente ao preço do título.  Como os mercados de futuros se movimentam rapidamente e são muito voláteis, o título pode ser extinto depois de um dia de operação.  A única pessoa que tem que pagar o preço do contrato é a que quer receber a commodity no vencimento do contrato.

   No tempo em que a geografia era um fator importante, pouco importava que as regras dos mercados de futuros e dos mercados de ações fossem diferentes.  Essas diferenças também não importavam quando os produtos eram diferentes.

    Entretanto, tudo mudou em 1972.  Depois que Leo Melamed estabeleceu o , a fronteira entre os dois mercados deixou de ser nítida.  Primeiro, moedas estrangeiras e bônus do Tesouro dos Estados Unidos começaram a ser negociados na bolsa de futuros.  E depois, a partir de 1982, começaram a surgir fundos de índices de ações como os índices Standard & Poor 500 e o Standard & Poor 100.

    Esses índices, de certa forma, são produtos das duas bolsas e podem ser comprados pelas regras de uma ou de outra.  Isso aumenta a versatilidade desses produtos para um investidor esperto.  Com um toque no mouse do computador, o dinheiro pode ser transferido de um produto para outro e de uma bolsa para outra.  Mesmo depois do horário de expediente, quando o clamor dos pits acabou, os operadores podem negociar contratos sobre todos os produtos que negociam no pregão, através do sistema automático de transações Globex da Reuters, do sistema Instinet ou de qualquer outra bolsa automatizada.

    As regras podem, porém, afetar diretamente a participação.  Se você comprou o índice S&P 500 no dia 8 de julho de 1991, você pagou $ 374 na Bolsa de Valores de New York.  No mesmo dia, você poderia ter comprado um contrato de futuros sobre o índice S&P 500 com vencimento em setembro de 1991 por $ 386.  Ou poderia ter comprado uma opção sobre esse índice na Bolsa de Opções de Chicago por $ 8,95, que lhe daria o direito de comprar as ações por $ 385, também em setembro de 1991.
Num dia qualquer, o preço deste produto poderia variar, às vezes ligeiramente, às vezes amplamente, de um desses três mercados para o outro.  E não é só isso.  Também o custo da compra desses produtos poderia variar.

   Por exemplo, se você comprasse o índice em New York, você teria que pôr $ 195,50 em sua conta-margem imediatamente.  Se você o fizesse, você seria dono das ações imediatamente.  Se, em vez de comprar as ações, contudo, você comprasse uma opção sobre as ações, você teria que pagar apenas $ 8,95, ou seja, o preço da opção.  Você poderia negociar essa opção tão facilmente quanto as ações propriamente ditas, e dependendo da volatilidade do mercado, você poderia ganhar ou perder mais dinheiro com uma opção do que com as próprias ações.  Você também pode decidir exercer uma opção e comprar um índice imediatamente e depois vender as ações no mercado a vista.

    Em geral, como a volatilidade do mercado de opções é maior do que a do mercado de ações, o potencial de risco/ lucro também é maior com opções.

    Ou você poderia comprar o índice de ações no mercado de futuros.  Como as contas-margens no S&P 500 são mais altas do que em outros futuros - resultado de intensa disputa entre as bolsas de New York e de Chicago - o depósito exigido, nos contratos de índice, é de 12%.  Isto significa que você teria que desembolsar apenas $ 46,32, que você poderia perder num só dia ou que poderia aumentar de valor se os mercados de ações e de futuros subissem.

    Como veremos, essas disparidades entre as bolsas geraram possibilidades de cobertura de riscos incrivelmente inventivas.  Com o amadurecimento do mercado de futuros, porém, aconteceu algo ainda maior.

    Como hoje centenas de variantes dos mesmos produtos são negociadas nas diferentes bolsas, todos os mercados estão inter-relacionados.  As bolsas de futuros, a vista e até mesmo bolsas regionais menores estão estreitamente ligadas entre si.  As redes eletrônicas privadas interligam os operadores após o expediente das bolsas tradicionais.  As bolsas eletrônicas ou painéis eletrônicos mais simples ligam os operadores com seus congêneres em todo o mundo.  E com a invenção dos futuros sobre moedas por Melamed, e a posterior invenção dos futuros sobre taxas de juros, o próprio dinheiro entrou para a bolsa como uma mercadoria de transação.

    Os pits continuam existindo em Chicago, com sua cultura diferenciada, assim como as firmas tradicionais continuam existindo em Wall Street como entidades individuais.  Contudo, o barulho dos pits coexiste com o sussurro tranqüilo das telas dos computadores.  As novas tecnologias, em vez de substituírem a gritaria do pregão, ajudaram os operadores a criar novos pits e expandiram os mercados a partir das áreas ao redor de Chicago e do Centro-Oeste para o mundo todo.  De que outra maneira Melamed poderia ter criado um negócio onde $ 500 bilhões mudam de mãos diariamente?

    E a nova tecnologia, ao invés de eliminar os corretores de Wall Street, deu-lhes novos instrumentos e novas estratégias.  Entretanto, ao mesmo tempo que deu a estes a possibilidade de proteger-se dos riscos dos investimentos e novas maneiras de ganhar dinheiro, a nova tecnologia colocou o investidor individual em desvantagem.
Como pode alguém com uma pequena carteira medir os riscos e avaliar transações tão rapidamente quanto os computadores da Goldman Sachs ou da Morgan Stanley?  Isso é simplesmente impossível.

    Para o investidor médio, as diferenças de preço e as disparidades das regras entre Chicago, New York e as bolsas regionais e a global devem parecer um emaranhado indecifrável.  E são.  Londres, New York, Tóquio e Hong Kong negociam muitos produtos em comum, mas sob regras muito diferentes.  Algumas querem o dinheiro imediatamente, outras só dentro de duas semanas.  Algumas vendem ações, outras vendem os chamados “recibos de ações”.  Trilhões de dólares por semana são movimentados nesses mercados.

    Como esses mercados, com suas histórias e culturas particulares, foram ligados entre si sem planejamento ou previsão, suas maneiras de operar são cheias de contradições, paradoxos e insuficiências.  Para o matemático com um olho treinado em finanças, porém, essas disparidades e relações ilógicas são exatamente onde estão as oportunidades de ganhar dinheiro.  Se os mercados fossem uniformizados, submetidos às mesmas regras e regulamentações, não haveria mais possibilidade de arbitragem - o que vale dizer, não haveria mais a oportunidade de comprar um produto num mercado e vendê-lo em outro tirando proveito das diferenças momentâneas de preços entre eles.

   Para uma pessoa versada em matemática, essas disparidades são também um convite para descobrir novas fórmulas de minimizar o risco, espalhando-o ao redor do mundo através de uma vasta teia de mercados interligados, todos negociando variantes do mesmo item básico.  Por que pagar a vista quando sua empresa precisa de dinheiro se você pode comprar no mercado de futuros depositando um título no valor de 5%?  E assim você pode ter seu dinheiro quando precisar.  São exatamente essas oportunidades que gênios como Leo Melamed aproveitaram quando abriram novos mercados.  Ao fazer isso, porém, também aumentaram drasticamente o tamanho e complexidade dos mercados. Isso aumentou também a volatilidade.  Para os aficcionados da matemática, a ligação entre diferentes mercados transformou-se numa maneira de ganhar grandes somas de dinheiro.