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( Dos primórdios até a Revolução de
30)
primórdios da luta política
Até aproximadamente o ano de 1847, os itajaienses viveram à margem
das disputas políticas que sempre marcaram a vida nacional.
Neste
ano, José Mendes da Costa Rodrigues, rábula portobelense e várias
vezes vereador à Câmara Municipal daquela Vila, veio ao Itajaí
fundar, juntamente com seu amigo Agostinho Alves Ramos, o Partido
Conservador ou "Cristão". Este partido era conduzido na
Província pelo maioral João Pinto e contava com o apoio de
significativas figuras como o Padre Paiva e o Deputado Diogo Duarte
Silva.
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Na oposição aos "Cristãos", estavam os "Judeus" do
Partido Liberal, conduzidos na Província por Jerônimo Coelho e Amaro
José Pereira. Durante alguns anos os liberais não tiveram liderança em
Itajaí. Somente após a chegada de Antonio Pereira Liberato, em 1850, e
seu entrosamento na vida comunitária, foi que despontou a sua figura de
chefe político liberal do Distrito.
Com o falecimento em 1853 do
Tenente-Coronel Agostinho
Alves Ramos, o comando dos
conservadores de ltajaí passou para José Henriques Flôres e, posteriormente
a Nicolau Malburg.
As eleições, sempre muito
disputadas, eram vencidas ora por conservadores, ora por liberais.
Eram freqüentes as contestações
às Câmaras eleitas e acusações de irregularidades nos pleitos foram
lançadas às Câmaras eleitas em 1869, 1873 e 1881; o que vem comprovar o
acirramento das disputas entre os nossos primeiros políticos.
A presença itajaiense no
cenário político estadual foi marcada pela primeira vez em 1835, antes
mesmo da organização dos partidos e da nossa emancipação política,
com a eleição de Agostinho Alves Ramos para deputado à primeira
Assembléia Legislativa da Província de Santa Catarina, instalada
solenemente a 1o. de março daquele ano. Agostinho Alves Ramos ainda foi
eleito para a legislatura seguinte - 1838 a 1839 - não tendo podido tomar
posse; e para a de 1850 a 1851.
Nicolau Malburg - Arquivo Fundação
Genésio Miranda Lins
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A representação de ltajaí na Assembléia Provincial seria
posteriormente ocupada por José Pereira Liberato na
legislatura de 1864 a 1865; e por Guilherme Asseburg, nas
legislaturas de 1884 a 1885, 1886 a 1887 e 1888 a 1889, a última do
lmpério.
José Pereira Liberato
seria nomeado ainda por decreto imperial, a 20 de setembro de 1879,
3o.Vice-Presidente da Província de Santa Catarina.
A nível nacional, os itajaienses
não chegaram a ocupar cargo algum durante o lmpério. No entanto em
1886, Nicolau Malburg participou da lista tríplice submetida ao Imperador
para a escolha do senador pela então Província de Santa Catarina.
Compunham a lista o Visconde de Taunay que recebera 1.358 votos; o
Coronel João da Silva Ribeiro, 1.235 votos e Nicolau Malburg,
1.022. Dizem os cronistas da época que o lmperador Pedro ll não
afastou a possibilidade de escolher o itajaiense. Taunay, o
escolhido, teria então comentado com o Barão de Cotegipe que lhe
trouxera a notícia:
"... fora para mim,
mui grato triunfo fazer entrar no Senado um alemão naturalizado,
digno, por certo, de lá estar pela sisudez e ponderação." |
república em Itajaí
Nos últimos anos do regime monárquico as idéias republicanas fervilhavam.
Em Itajaí, os dois grandes propagandistas da República foram Emanuel
Pereira Liberato e Manoel Antônio Fontes.
Conta-se mesmo que o Coronel
Fontes aderiu aos ideais republicanos, depois de muito meditar no que
Camões canta em certos versos dos "Lusíadas":
"Estes, o rei que têm,
não foi nascido
Príncipe, nem dos pais aos filhos fica:
Mas elegem aquele que é famoso
Por cavaleiro, sábio e virtuoso..."
Inscreveu se no "Club Tiradentes" do Rio de Janeiro e , posteriormente,
com Emanuel Pereira Liberato, funda o "Club Republicano Federativo de
Itajahy" a 11 de setembro de 1887, um domingo, em reunião realizada
na casa do companheiro.
A primeira diretoria do Clube ficou assim constituída: presidente,
Emanuel Pereira Liberato; vice presidente, Manoel Antônio Fontes;
Secretário, Júlio Sales; tesoureiro e segundo-secretário, Carlos
Serino Müller.
Antes mesmo da
fundação, já compareciam às eleições cinco eleitores
declaradamente republicanos.
Embora esperada, a
instauração da República estando ainda vivo o velho lmperador foi
uma surpresa para a gente itajaiense. Tão logo se soube da nova, o
povo e os políticos à frente, acorreram à praça a vivar o novo
regime. As autoridades municipais, no entanto, resolveram
prudentemente esperar notícias mais esclarecedoras.
Confirmada a notícia, a
Câmara Municipal de Vereadores, em sessão solene realizada a 26 de
novembro decide pela adesão do Município à nova forma de governo
instalada no país. |
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Emanuel Pereira Liberato -
Arquivo Fundação Genésio Miranda Lins
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A
18 de janeiro de 1890 tomam posse os novos vereadores, nomeados pelo
governador republicano do Estado, Lauro
Severiano Müller. Formaram eles o
Conselho de Intendência Municipal, integrado por Emanuel Pereira
Liberato, Dr. Pedro Ferreira e Silva, Geraldo Pereira Gonçalves, Manoel
Antônio Fontes, João Pinto d'Amaral, Jacob Heusi e Olympio Aniceto da
Cunha. A cerimônia foi num sábado ao som de dobrados festivos e com a
presença de grande número de populares. No mesmo dia foi exibida pela
primeíra vez ao povo a nova bandeira republicana e o Dr. Pedro Ferreira
explicou a todos os significados das cores e do dístico "Ordem e
Progresso".
O primeiro presidente do novo
Conselho de Intendência Municipal foi Emanuel Pereira Liberato, cujas
funções eram também executivas, equivalendo às do prefeito de hoje.
revolta e sobressaltos
Instalado o novo Conselho de Intendência Municipal não tardaram porém
as dissensões entre os conselheiros. Quando as eleições para o
Congresso Constituinte do Estado houve divergência na indicação do
candidato de Itajaí a deputado constituinte. Venceu a indicação do Dr.
Pedro Ferreira e Silva, em oposição aos chamados republicanos
históricos que preferiam Emanuel Pereira Liberato. Mas a dissidência
republicana realmente se efetivou com a eleição de Eugênio Müller para
primeiro Superintendente Municipal a 30 de agosto de 1891. O grupo dos
republicanos históricos, capitaneados por Emanuel Pereira Liberato e
Manoel Antônio Fontes, passou à oposição ao governador do Estado,
Lauro Severiano Müller, e aderiu ao Partido Federalista, fundado na
capital do Estado, e que pretendia representar a pureza republicana. A
queixa maior destes era o pretenso favorecimento do governador ao grupo
dos que só aderiram à República após 15 de novembro.
Assim a renúncia de Lauro
Müller ao governo do Estado e a ascensão das novas autoridades
estaduais, francamente suas opositoras, foi vista com desolação pelos
partidárias do mesmo e com júbilo por seus críticos itajaienses.
Radicalizaram-se as posições e não tardaram mudanças profundas na vida
política do Município.O superintendente recém-eleito não pôde tomar posse.
O interventor estadual, nomeado
pelo Marechal Floriano Peixoto, Tenente Manoel Joaquim Machado, pendeu
para os federalistas e logo aderia à revolução que vinha do Sul.
Em nossa cidade, os
federalistas locais assumiram o Conselho de Intendência Municipal à
força e sob a proteção do Tenente Machado. Em maio de 1892,
realizaram-se as eleições para o novo Congresso Constituinte do Estado,
já que o anterior havia sido dissolvido. Por Itajaí, elegeu-se o
candidato federalista Emanuel Pereira Liberato. Nas eleições para a
Câmara Municipal, os federalistas voltaram a se sair bem: elegeram a
maioria dos vereadores. A nova Câmara Municipal era presidida pelo Cel.
Antônio Pereira Liberato e composta pelo Pe. João Rodrigues de Almeida,
Joaquim José da Silva, Manoel Gonçalves Pereira, Donato Gonçalves da
Luz, Lázaro José Rebelo, Samuel Heusi e José Lopes Ferreira Jr.
Quando o Tenente Machado rompeu
espetacularmente com a legalidade, as novas autoridades federalistas de ltajaí
lhe deram incondicional apoio. O Cel. Fontes mobilizou o contingente da
Guarda Nacional e o pôs às ordens do Coronel revoltoso Laurentino Pinto
Filho.
O clima de guerra que o Estado
passou a viver desde então foi motivador de uma série de atos que
transformaram homens conterrâneos e vizinhos em odiosos inimigos. Os mais
destacados legalistas se puseram ao resguardo, já que a lei e os direitos
do cidadão passaram a valer pouco. Houve excessos de ambos os lados.
Com as famílias se afastando
da cidade, os revoltosos, comandados por Gumercindo Saraiva, chegaram aqui
a 30 de novembro de 1893. A tropa de mais de mil homens se acantonou em
barracas na praça da Estrela, hoje Praça do Correio. A alimentação era
requisitada aos armazéns locais e as sobras distribuídas aos pobres,
razão por que passaram a ser chamados pelo povo de "a boa gente".
Sabendo da aproximação das
tropas legalistas da Divisão Norte, Gumercindo Saraiva logn se passou
para Joinville; permanecendo aqui, no entanto, o general revoltoso
Guerreiro Vitória com trezentos soldados para defesa da cidade.
Legalistas ou "pica
paus" e federalistas ou "calças-largas" entraram em
combate a 8 de dezembro e seguiram lutando até o dia 11, quando os
segundos embarcaram em seus navios e seguiram barra a fora.
Os federalistas locais, à
vista da derrota de seus exércitos, abandonaram o governo do município e
passaram a aguardar a vindita dos vencedores. A 24 de abril de 1894, o Dr.
Pedro Ferreira e Silva assumiu a direção da municipalidade e terminou
com a acefalia dos negócios públicos de Itajaí.
O Interventor do Estado, Moreira
Cesar, então assumiria o governo de Santa Catarina e passaria a fazer o
triste acerto de contas. Felizmente, para Itajaí remeteu seu ajudante, um
tal Tenente Lopes, mais ponderado e cordato que o chefe, e que afinal
livrou muitos dos nossos federalistas da morte certa na Fortaleza de
Anhatomirim.
nos tempos da velha república
Vimos
que os primeiros tempos da República em nossa terra foram feitos de
discórdias e rivalidades entre republicanos e federalistas, desembocando
na grande tragédia que foi a Revolução de 1893.
Vencida a Revolução, surge na
liderança política de Itajaí a figura ilustre do Dr.Pedro
Ferreira e Silva, baiano de
Sant'Ana do Catu aqui chegado em 1886. Competente e ativo, o Dr. Ferreira
logo se viu rodeado de estima popular e de grande consideração. Por
muitos anos foi o clínico médico da cidade a quem estava confiada a saúde
pública. Até 1889, manteve-se afastado da
política, quando então se integrou ao Club Republicano Federativo de
Itajaí e foi nomeado membro do primeiro Conselho Municipal de
Intendência. Depois se elegeu sucessivamente Presidente do Conselho,
Superintendente Municipal, Deputado Estadual e Deputado Federal.
A liderança política do Dr. Pedro
Ferreira, após terem sido serenados os ânimos exaltados com a
Revolução Federalista, permaneceu inconteste até a Campanha Civilista
de 1910. Nestes anos o verbo inflamado do grande Ruy Barbosa desencadearia
uma agitação política nunca dantes vivida em Itajaí.
Dr. Adolfo Konder - Arquivo da
Fundação Genésio Miranda Lins
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O comando civilista ficou com os irmãos Konder - Adolfo, Victor e
Marcos. Apoiados por prestigiosos nomes itajaienses e contando com a
grande arma da imprensa, através do seu jornal "Novidades",
os partidários de Ruy Barbosa fizeram carga cerrada sobre as
situacionistas que tinham como candidato à Presidência da República
o Marechal Hermes da Fonseca, e que em nossa cidade eram liderados
pelo Cel. Eugênio Luiz Müller e pelo Dr. Pedro Ferreira.
A eleição travada a 19 de março
de 1910 foi naturalmente vencida pelos hermistas que fizeram 511
votos contra 490, dados a Ruy. Mesmo assim foi esta a segunda maior
votação dada ao candidato civilista em Santa Catarina; a primeira
foi a de Florianópolis. |
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Dr. Victor Konder - Arquivo da
Fundação Genésio Miranda Lins
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Esta
disputa política acirrada levou o Dr. Ferreira primeiro à exaustão,
depois à doença e finalmente à morte em 1911.
Foi então que, para apaziguar a vida
itajaiense, Lauro Müller, a exemplo do que vinha fazendo no resto do
Estado, abriu as portas do Partido Republicano da situação aos
civilistas. Era a famosa "fusão", que muitos recalcitrantes
teimaram em não aceitar.
O desaparecimento do Dr. Ferreira e a
fusão dos civilistas com os hermistas facilitou a ascensão política dos
irmãos Konder os quais, a partir de 1915, graças também ao talento e
competência, passaram a pontificar na política de ltajaí, através do
mais velho dos irmãos - Marcos Konder.
Marcos
Konder, muito culto, aquele de quem
Lauro Müller dissera não ser doutor, mas um douto, elegeu-se primeiro
vereador e a seguir Superintendente Municipal em mandatos sucessivamente
renovados e que se estenderam até 1930, quando a Revolução getulista pôs
fim ao seu governo e a sua liderança política. Era o "Sol dos
Konder" que se punha, na afirmação do poeta Marcos Konder Reis
a revolução de 30
A
campanha eleitoral para a sucessão do Presidente Washington Luís teve em
ltajaí ampla repercussão. A enfrentar a situação republicana, formavam
os posicionistas da Aliança Liberal um bloco aguerrido, capitaneado por
José Eugênio Müller. Aliás, por iniciativa deste foi Itajaí a primeira
cidade brasileira não pertencente aos Estados aliancistas de Minas Gerais,
Paraíba e Rio Grande do Sul a lançar a candidatura de Getúlio Vargas à
Presidência da República.
Os oposicionistas defendiam seu candidato
nas praças e na imprensa através do jornal "A Gazeta Popular" e,
posteriormente, "O Pharol".
Embora houvessem os aliancistas se
desdobrado na pregação política, venceu o candidato Júlio Prestes.
Daí em diante, a revolução passou a
ser a esperança dos derrotados E ela realmente veio a 3 de outubro de 1930,
a partir do Rio Grande do Sul. Tão logo a notícia se espalhou, a
população se amedrontou e foram muitos os que abandonaram a cidade,
buscando refúgio no interior do Município. Quando as tropas
revolucionárias entraram em Santa Catarina, e praticamente todas as
guarnições militares do Estado a elas aderiram, as autoridades legalistas
de ltajaí abandonaram o governo municipal que tinha à frente o Coronel
Marcos Konder.
Então, num gesto de audácia, visto
que a Revolução somente teria consolidada a sua vitória a 24 de outubro,
os revolucionários itajaienses José Eugênio Müller, Francisco de
Almeida, Dr. Arão Rebelo, Juventino Linhares, Umbelino Damázio de Brito e
outros, em reunião no Paço Municipal, assumiram a direção do Município
e solicitaram ao único militar da ativa residente em nossa cidade o Tenente
Antônio Quintas Maia, então Delegado do Serviço Militar, que assumisse
provisoriamente o governo de Itajaí, na qualidade de Prefeito Militar; o
que se deu a 14 de outubro de 1930.
No breve período de governo do
Prefeito Militar, a administração municipal contraiu ao comércio um
empréstimo de Rs$ 21.600.000,00, denominado de emergência, e que
"serviu para de pronto acudir a grande massa de desempregados que se
encontravam na cidade".
Consolidada a vitória da Revolução,
os revolucionários itajaienses indicaram ao Interventor Estadual, que o
referedou, o nome do Capitão Adolfo Germano d'Andrade para o cargo de
Prefeito Provisório do Município.
Coube ao Capitão Adolfo a tarefa de
fazer cumprir as determinações revolucionárias, criar a Junta Consultiva,
composta de José Eugênio Müller, presidente; Alberto Pedro Werner;
Francisco de Paula Seára; Dr. Agenor Lopes de Oliveira; Dr. José Menescal
do Monte; Juventino Linhares; João Arcary e Immanuel Currli, com atribuições
de opinar sobre decisão do Prefeito Provisório; além de instalar a
Comissão de Sindicância para vistoriar os atos da administração deposta.
A tal Comissão de Sindicância acabou
por inocentar o ex-Prefeito Municipal, Cel. Marcos Konder, em cujo governo
de 15 anos nada foi encontrado que o desabonasse.
A Revolução de 1930, na verdade,
abriu nova página na história de Itajaí pois que propiciou o surgimento
de inúmeras lideranças políticas vindas das mais diversas camadas da
população itajaiense.
Fonte: PEQUENA HISTÓRIA DE ITAJAÍ -
Prof. Edson d'Ávila
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