DIÁRIO DE UMA VIGEM AO PARAÍSO

(1ª parte)

Lisboa, 12 de Fevereiro de 1999 (6ª feira)

    12h40- Chegámos ao aeroporto, duas horas antes da partida , conforme regulamentado. O televisor já indicava o número do balcão do check-in , mas este ainda estava fechado. Já estamos há quarenta minutos à espera.13h00- Lá abriram o balcão e aguardamos a hora de embarque. Eu entretenho-me indo dum canto ao outro da sala a ver os aviões a aterrarem e a partirem.

13h30- "...atrasado para as 15h00" dizem pelo microfone. Grande surpresa ! Já não é a primeira vez que viajo de avião e já devia saber que o aeroporto da Portela é o aeroporto da Portela mesmo.

15h15- Lá vamos a caminho de Londres onde faremos escala e seguiremos para o nosso destino. A viagem vai demorar duas horas e meia e já andam a dar sumos de laranja e amendoins salgados, para variar.

17h30- Aqui em Londres anoitece mais cedo do que em Portugal. Já está noite cerrada! O comandante mandou tirar os cintos e dento em breve sairemos do avião.

20h00- O aeroporto de Heatrhow é grande como um elefante! Passámos uma hora a ir da porta de onde saímos até à de onde vamos partir. Andámos a explorar o salão de espera e comprámos uma tablete de chocolate enorme! Estou nas minhas sete quintas!

23h00- Depois de um embarque pontual (ALELUIA!) Vamos em direcção à Malásia, numa viagem que vai demoras 12 horas!! É melhor preparar uma soneca.

 

(Algures sobre o Índico), 13 de Fevereiro de 1999 (Sábado)

(Num daqueles fusos horários esquisitos)- Já só faltam umas horas para chegarmos. Nunca estive tanto tempo num avião.

18h30(hora local , mais 8 horas do que em Lisboa)- Chegámos! Finalmente! Yuuuupiiii!

Mal saímos do avião já estava uma senhora malaia , com olhos em bico, com uma placa a dizer «LEITÃO/MACLARA.MRS» e «LEITÃO/RUI.MR», que nos levou pelo aeroporto fora.

Ah! O aeroporto! Uma maravilha! Muito amplo, com pilares brancos, cheio de jardins com cascatinhas. E muito moderno! Tem dois edifícios ligados por um comboio de um só carril, ao qual chamam "Aerotrain". E mais: escadas e passadeiras rolantes e sempre árvores do lado de fora do edifício. Fiquei extasiado.

19h00- Depois de sairmos do aeroporto quase desmaiámos. Que calor insuportável! 30º no mínimo! Estava um funcionário da agência de viagens à nossa espera, que nos levou numa carrinha até Kuala Lumpur, o que demorou cerca de uma hora, mais meia para chegar ao hotel.

 

Kuala Lumpur, 14 de Fevereiro de 1999 (Domingo)

3h30- Chegados ao hotel, no dia anterior, fomos direitinhos para a cama , pois estávamos estafados da viagem. Mas em contrapartida acordámos a esta hora (19h30 em Lisboa).

6h30- Depois de estarmos um bocado a jogar cartas, deu o sono à minha mãe, que se foi deitar. Eu não preguei mais olho até agora, embora não tivesse nada que fazer. Mas já só falta uma hora para irmos tomar o pequeno - almoço.

9h00-

 

"A CAMINHO DE MALACA, UMA COLÓNIA PORTUGUESA...

...DEPOIS DE UM PEQUENO ALMOÇO MESMO, MESMO À INGLESA"

Kuala Lumpur, 15 de Fevereiro de 1999 (2ª feira)

4h30- Passámos o dia anterior inteiro a visitar Malaca, uma colónia portuguesa do séc. XVI. Mas antes, o funcionário da agência levou-nos numa visita guiada por Kuala Lumpur. É uma cidade magnífica : tem enormes arranha-céus, que coexistem com árvores antiquíssimas, restos de uma floresta virgem. Conseguiram construir prédios sem deitar as árvores abaixo! E é atravessada por um comboio aéreo, tal e qual como nos filmes que representam o futuro, mas ainda mais bonito, devido à presença das árvores.

Em Malaca, andámos a ver os únicos vestígios portugueses que sobreviveram à destruição dos holandeses, também colonos desta região. Almoçámos num restaurante chinês, onde aprendi a comer com dois pauzinhos e depois fomos ver um museu e uns templos chineses que cheiravam imenso a incenso. Vimos também um bairro, dito português, mas onde quase ninguém falava a nossa língua, só um velhote chamado Pedro da Silva, que era dono de um restaurante, e mesmo esse com dificuldade.

Teria sido um belo passeio se não fosse o calor insuportável a que não estamos habituados. Assim foi um bocado cansativo.

Para terminar o dia em beleza, às 7h30 regressámos ao hotel e ferrámo-nos logo a dormir, acordando a esta hora. O diabo do fuso horário dá-me cabo do juízo! Mas vá lá, desta vez foi uma hora mais tarde. Quando estivermos para nos irmos embora é que devemos começar a habituar-nos!

13h15- Kuala Tembling- Depois de partirmos do hotel, bem cedo, levaram-nos para uma camioneta que nos trouxe até aqui. Foi uma viagem um pouco aborrecida, de quatro horas, e só parámos num local pestilento, cheio de porcaria, sem higiene, com casas a cair aos bocados, enfim, o contrário da maravilhosa capital que antes víramos. Só aí percebi que atravessávamos a zona mais pobre da Malásia, e só queria sair dali depressa, pois fazia-me aflição aquela miséria.

O resto da viagem continuou normal até que, a 3Km do fim, apareceu uma encosta íngreme que o autocarro não conseguiu subir e tivemos de sair todos e ir a pé para a camioneta, a custo, "trepar".

Neste momento estou à beira do rio Jelai, à espera do barco que nos vai levar a Taman Negara Resort, no meio da selva. A única maneira de lá chegar é de barco, o que, na carreira normal, leva três horas. Ainda estou a fazer a digestão da minha omelete com batatas fritas. Ah, lá vem a minha mãe...

O quê? Vamos no Jet-boat às 13h30?! É melhor acabar de escrever. Já só faltam 5 minutos!

 

Taman Negara, 16 de Fevereiro de 1999 (3ª feira)

10h00- Até que enfim! Acordar a horas decentes! Bem sei que já fui tomar o pequeno - almoço, mas mesmo assim, eram para aí umas 8h30.

O dia anterior teve muitas aventuras: a primeira foi logo a viagem de barco. O tal Jet-boat era uma lancha que andava com grande rapidez. Parecia que voava! Era um espectáculo levar com o vento na cara àquela velocidade. Atrás de mim ia um miúdo americano que só dizia «I like this, I like this, this is fun!», ou seja « Eu gosto disto, eu gosto disto, isto é divertido!» Fizemos o percurso em uma hora apenas.

A segunda foi quando fomos numa actividade chamada "tubes": um barco levou-nos rio acima até um certo lugar. Aí deixou-nos em bóias para virmos pelo rio abaixo, passando por rápidos e manobrando para não nos estamparmos contra as margens. Foi engraçado, até que a minha mãe, que não se ajeitou lá muito bem com as manobras, ser apanhada numa corrente em direcção a um tronco preso entre duas rochas. Quando reparou no que lhe ia acontecer, só teve tempo de sair da bóia e de mergulhar por baixo do tronco. Mas eu pensei que ela se tinha afogado e fiquei muito aflito. Mesmo quando ela reapareceu à superfície não fiquei muito descansado. Quando, no fim, depois de algum custo, consegui subir para o cais, nem me aguentei nas pernas. Caí, e só me levantei quando me vieram buscar.

Estava tão cansado que nem jantei, apesar de ter tentado. Fui direitinho para o quarto e ferrei-me no sono. Mais tarde, a minha mãe foi a um passeio na selva, para ver os animais que apareciam de noite. Ela disse-me que também não tinha perdido grande coisa, só viu aranhas venenosas e gafanhotos inofensivos. Ao menos isso!

Os pequenos almoços aqui são excelentes. Aliás, ainda não estive num hotel em que não gostasse dos pequenos almoços. O mesmo não posso dizer das outras refeições, pois, apesar de estar com muito sono ontem, ainda tentei comer alguma coisa do jantar, mas não me pareceu grande coisa....

Amigos, era uma vez                     E se querem saber mais
Uma ida ao Paraíso.                     Não procurem nos jornais,
Eu voltarei outra vez,                     Esperem pela outra parte.
E até lá tenham juízo.                     Tudo contarei com arte.

continua....