DIÁRIO DE UMA VIAGEM AO PARAÍSO
(2ª PARTE)
Kuala Tahan (T. Negara), 16 de Fevereiro de 1999 (3ª feira)
13h30- SCRRRUUNNNCHH! NHOP! NHOP! BRRIIIPPPP! Que almoço excelente! Soube-me tão bem! Também, tudo me parece bom, depois da enorme caminhada que fiz debaixo de um imenso calor! Mas foi um passeio interessante!
Saímos cerca das 10h00 e penetrámos na selva, atrás de um guia. Primeiro seguimos por caminhos mais ou menos planos, onde ele nos mostrou muitas plantas interessantes. A que achei mais engraçada foi uma que muda de cor quando a vemos de um ângulo diferente. De uma maneira era verde - clara mas, se a virávamos um bocadinho, parecia logo verde - escura ou até azul acinzentada!
Quando começaram as subidas é que foi o problema! Daí a bocadinho já estávamos estafados e ainda tínhamos muito para andar! Pelo caminho ouvimos tucanos a fazerem um barulho infernal. Na Malásia chamam-lhes "Hornbills", pois "Horn" quer dizer corneta, e eles parecem mesmo cornetas a tocarem!
Apesar do cansaço, a minha mãe dizia que aquilo tudo era lindo. Quando chegámos a uma aberta na vegetação, que era um miradouro, onde parámos, caí num banco e já não podia com um gato pelo rabo. Então a minha mãe... nem com uma formiga! Mas, pelos vistos, isso não a impediu de tirar fotografias àquela paisagem maravilhosa. À nossa frente desdobravam-se colinas sobre colinas cobertas de densa vegetação, de árvores de grande porte e de variados tipos. E no vale, lá em baixo, corria o Tembling, rio muito movimentado, devido às imensas tribos indígenas que ali habitam. Contemplávamos a terceira floresta mais antiga do Mundo, e lá ao fundo, na linha do horizonte, avistava-se a que dizem ser a mais velha do Globo!
Depois de descansarmos um pouco, prosseguimos por outro carreiro, durante uns quatrocentos metros, até outro miradouro não menos bonito do que o primeiro. Isto foi o mais adiante que chegámos. Depois descansámos um pouco e fizemos o caminho de regresso, que foi outra canseira, pois apesar de se fazer menos esforço para descer, é preciso ter muito cuidado com as ramadas mais baixas das árvores, o chão escorregadio e as raízes salientes. É muito difícil andar depressa naquele solo!
Quando já estávamos quase a chegar a Kuala Tahan, onde é o hotel, fizemos um desvio para outro caminho que ia dar ao Canopy Walkway, a maior ponte pênsil do seu género: são quatro árvores ligadas por cinco pontes suspensas por cordas grossas, numa distância total de 240m, a uma altura que provoca vertigens se tivermos a ideia de olhar para baixo. Em duas palavras: IM- PRESSIONANTE! E divertido também! Uma excelente maneira de acabar uma manhã !
20h30- Como se a manhã já não tivesse sido suficientemente boa, a tarde também foi uma beleza !
Vieram buscar-nos depois do almoço e partimos de barco por um afluente do rio Tembling, o Tahan. Este rio é mais pequeno do que o anterior e também menos profundo, de tal maneira que, por vezes, tínhamos de ir aos ziguezagues para não encalharmos. Mas, em contrapartida, é muito mais bonito! As árvores altíssimas fazem arco por cima do rio e alguns ramos, muito finos, inclinam-se e chegam a tocar ou mesmo mergulhar na água, formando autênticas cortinas. Ao navegarmos, tínhamos que nos desviar, ora das ramadas das árvores, ora das lianas, ora dos rápidos e das pedras do leito do rio. Vários riachos vêm ali desaguar, alguns de água de um verde tão transparente!... Enfim, parecia uma viagem no paraíso terrestre!
A uma certa altura, parámos numa pequena praia de calhaus. Saímos do barco, pois a partir daí o rio não é navegável, e fomos por um carreiro paralelo à corrente até chegar a uma bela cascata onde se forma uma piscina natural , óptima para tomar banho. A água não é castanha, ao contrário da dos outros rios que vimos. É transparente, mas tem um mineral que a torna vermelha, o que se nota especialmente quando nela mergulhamos alguma coisa (acho que se chama tanino o tal mineral).Tomei lá umas belas banhocas, mas em breve chegou a hora de nos virmos embora. A meio do caminho de regresso ao ancoradouro, encontrámos um réptil gigante, do qual a minha mãe ficou logo cheia de nojo e medo. O guia explicou que era completamente inofensivo, mas isso não chegou para a sossegar.
O jantar de hoje foi horrível ! QUERO VOLTAR PRÓ OUTRO HOTEL!
Kuala Tahan, 17 de Fevereiro (4ª feira)
9h30- Acordado para um dia excitante como o de ontem, espero eu ! E acordei tarde! (Eu não disse que quando me estivesse quase a ir embora é que me ia habituar ao fuso horário?)
10h00- Notícia! Notícia! Alteração no programa de hoje: de manhã, vamos no "Rapid Shooting", lutar contra os rápidos! Esta actividade estava prevista para a tarde, mas não nos agradou a ideia de rastejar por umas estreitas aberturas nas rochas, a que pomposamente chamam grutas, só para ver cobras. Acho que bichos desses até pagávamos para não os ver! Por isso não vamos ter nada que fazer depois do almoço. Espero que não seja uma tarde estragada.
17h00- AAAAAAAHHHHHHHMMMMMM ! Que aborrecimento! Não tenho nada para fazer! Mas ir tomar banho no rio Tahan é que não! Inicialmente era esse o nosso plano, mas ouvimos dizer que nos caminhos há sanguessugas e recusei a hipótese de ter encontros desses. A minha mãe até esteve a conversar com um companheiro da viagem de barco que foi mordido por uma, por trás da orelha! Parece que ele dormiu numa tenda, no parque de campismo, mas, pelo sim, pelo não... Por isso estou aqui a jogar cartas com ela...
Esqueçam, nem isso! Ela já adormeceu! Só me resta relembrar como foi a excursão da manhã.
Partimos de barco pelo Tembling acima e, durante meia hora ou talvez quarenta e cinco minutos, fomos passando deliberadamente pelos rápidos, fazendo a água espadanar à nossa volta. Quando chegámos a outro hotel mais acima, estávamos completamente encharcados. Ainda esperávamos que houvesse mais, mas infelizmente voltámos logo para trás, apanhando nova molha.
O almoço foi medíocre. E quando ouvi a minha mãe dizer que talvez fosse preferível ter menos um dia aqui e mais outro na ilha para onde iremos seguidamente, concordei. Sempre há-de ser melhor do que estar aqui especado a olhar para as moscas (na verdade as moscas é que olham para nós , para verem bem onde nos hão-de picar! ). Um dos males da floresta virgem é que os citadinos não se podem aventurar por ela sozinhos, sem correrem sérios riscos. A civilização afastou-nos de tal modo da natureza que nem ela nos reconhece como elementos seus, nem nós confiamos nela.. Disse o nosso guia indígena que, sobretudo à noite, é difícil, para quem não conheça os seus segredos, sobreviver na selva.
KLIA, 18 de Fevereiro de 1999 (5ª feira)
17h00- Aqui estou eu, no Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur (KLIA), à espera do voo que nos levará a Langkawi, uma ilha malaia onde passaremos os nossos últimos dias na Malásia.
O caminho de regresso até aqui não foi muito diferente do da ida, com excepção de virmos pelo rio abaixo na carreira normal (uma pena, gostava tanto do Jet-Boat!), e em vez de pararmos na mesma cidade horrível, termos descansado numa estação de serviço (Aleluia! Aquilo sim! Até comi um gelado!).
De regresso ao hotel Istana, o guia que nos levara a Malaca e feito os transferes trouxe-nos até aqui.
20h30- Langkawi de noite! Nada de especial. Desde que chegámos ao aeroporto e até ao hotel, mais precisamente aos quartos, uns bengalows, mais ou menos semelhantes aos de Taman Negara, a única coisa especial que vimos foi o edifício da recepção, onde existe uma sala de convívio e um restaurante. Isso sim, é bonito. O tecto é em abóbada e, cá em baixo, há um enorme repuxo rodeado de montes de plantas. É uma sala muito bem decorada.
Já dentro do quarto, deparámos com um estilo muito familiar. Não era nada mais, nada menos do que o sistema e decoração do New World Hotel, em Kuala Lumpur. As mesmas coisas: o mesmo tipo de candeeiros, botões para todas as luzes, e até o símbolo tinha o mesmo estilo de letra, sendo a única diferença o New World ter um «R» e este ter um «B».
Em cima de uma mesa estava um aviso para não deixar as janelas destrancadas, pois havia macacos que entravam nos quartos e roubavam coisas.
Ai os marotos dos macacos!
Vou-vos deixar outra vez | Que nos vai acontecer? | ||||||
Nesta viagem de encanto | Se querem mesmo saber | ||||||
Ela acabará de vez | Leiam lá a conclusão, | ||||||
Mas inda não por enquanto. | Vou contar com precisão. |