Um beijo só...
Não, não quero
um beijo só, agridoce...
Beijo é promessa, sela
uma união,
Um momento, um sentimento feliz...
Conjura o desejo de uma raiz
Selvagem expandido-se em galhos,
Folhas e mais flores nas clareiras
Sem atalhos de uma floresta
que manifesta
Lamentos solitários de
uma só cachoeira...
Uma só cachoeira, meu
amor, e faltam teus beijos,
Arpejos virtuosos na patética
composição de ofegos
De um choro de morcegos, no
antro dos suspiros...
Estremeço ao ver o beija-flor
carinhoso adejando
Por entre as copiosas emoções
do despertar,
Colhendo teus beijos-vestígios
na taça do prazer,
Que não sinto, por não
ousar voar e ali pousar...
Assim demoro nessa inânia
perturbadora e não vivo...
De repente sinos tocam, rastros
de claridade trovoam
Na surda negritude do statu
quo imposto...
Te adoro....
E devoro o silêncio de
tua voz, a noite de teu perfil,
Com ávidos bocados :
profiro intensos gorjeios...
Exalo versos que amas ouvir
e sentir...
"Feitiço, não
quero quimeras frondosas,
Não podes aquecer meus
lábios assim,
Partir, me abandonar no desejo-marfim,
Tumular as palavras trescalando
rosas.
Quero sensações
refogadas nas sublimes horas...
Dar-te-ei todos os hinos do
meu querer,
Nada menos que isso darei prá
te amar ;
Aquarelas desaguando no teu
doce mar
Nuanças rosa-azuis do
meu amanhecer...
Isso, por mais um rubro beijo
teu. Não te demoras..."
© Jean-Pierre Barakat,
28.08.2000