De
D. Afonso Henriques, que muitas vezes cá esteve, e em cujo
reinado apareceu - diz a lenda - a imagem de Senhora da Silva, nuns
silvados do monte da Sé, e foi começada a construir
a catedral, onde ainda há um altar em que a dita Senhora se
venera.
Dos
Cruzados do Norte que, em 1147, de passagem pela nossa costa, subiram
ao monte da Sé, e no adro da primitiva ermida que lá
havia, ouviram o famoso sermão de D. Pedro Pitões, incitando-os
à conquista de Lisboa aos Mouros.
São
coevas destes sucessos, embora pelas construções que
as orlavam tivessem outro aspecto, muitas das escuras e estreitas
ruelas e pouco vastos largos das imediações da Sé.
Necessidades
indiscutíveis de urbanização, obrigaram há
pouco tempo a alterar o aspecto de algumas dessas ruas e a fazer desaparecer
outras inteiramente.
Já
não existem pois o Largo do Colégio, o Largo do Paço,
a Rua de Nossa Senhora de Agosto; foram demolidas a Capela dos Alfaiates,
outra situada em frente da Igreja da Sé, e a casa brazonada
que lhe ficava próxima.
No
séc. XIV começaram a ser construídas as muralhas
que, abraçavam, muito por longe, o nome de Muralhas Fernandinas.
O Porto era já a cidade mais importante do norte do paíis,
e uma das mais activas e populosas de Portugal, embora não
chegasse talvez a contar, mesmo incluíndo o arrabalde mais
chegado, cinco ou seis mil almas.
Prosperara
enormemente. Dentro do seu novo âmbito ficavam agora a velha
e extensa Chã das Eiras; o Lugar do Carvalhos do Monte, onde
se ergueria o mosteiro de Santa Clara; O Monte da Cividade (alto do
Corpo da Guarda) - topónimo revelador da remotíssima
existência ali dum lugarejo pré-romano, que presumívelmente
viera depois a ser a romana Cale; ficavam ainda pela encosta abaixo
até ao Douro, as ruas que conduziam ao antigo bairro da Ribeira
núcleo demográfico de relativa importância, e,
do outro lado do Rio da Vila, o monte da Vitória em cujo cimo
se estabeleceria no fim do séc. XIV por ordem de D. João
I a Judiaria do Olival. Pertenceram a esta Judiaria, as Ruas de S.
Bento da Vitória, de S. Miguel e da Vitória; dos seus
primeiros habitantes, perdura ainda a recordação toponímica
nas Escadas da Esnoga (ou da Sinagoga).
Disse
no séc. XVI o Dr. João de Barros, na sua Geografia d’Entre
Douro e Minho e Trás-os-Montes:
-
"A Cidade do Porto, que he cabeça da Comarca... he hua
Cidade muito notável e das princípais deste Reino, pellas
cousas insignes que tem, a coal está iunto ao Rio Douro, hua
legoa do mar, onde chegarão todas as naos e navios que vem
de toda a parte a ella. Esta cercada de muro de cantaria mui forte,
que se fes em tempo del Rey Dom Fernando, deste Reino, no coal ha
trinta torres fortes e altas e dose portas e postigos por onde se
serue."
Na
Rua nova, futura dos Ingleses e actualmente do Infante D. Henrique,
que então se começou a abrir, em breve passaria a instalar-se
o "alto-tráfico, onde brotaram e vigoraram até
hoje - escreveu há cinquenta anos Ricardo Jorge - as instituições
duma sólida organização comercial marítima,
que tem sido a força prosperadora, sempre activa, do engrandecimento
da nossa terra".
Fora
das Muralhas Fernandinas, havia, desde longos tempos, antigos núcleos
de população, o mais importante e típico dos
quais, o de Miragaia, lhes estava contiguo.
Lá
existira a velha Judiaria, com a sua sinagoga, depois integrada no
Convento de Monchique, e ainda lá existe hoje o Monte dos Judeus
com a sua centenária Escada...
No
séc. XVII, o Porto, começando a não caber dentro
das suas segundas muralhas, lança para fora múltiplos
braços tentaculares. As zona circundante, então ocupada
por casais, olivedos, vimiais, laranjais e campos de cultura - O Largo
do Moinho de Vento atesta no seu nome a sua antiga situação
montesinha - vão-se abrindo ruas que rapidamente se povoam
de casas.
Constroe-se
o Recolhimento do Anjo, no local onde se erguia... O Mercado. No Campo
das Hortas estabelece-se em princípios do séc. XVIII
a Praça Nova. Na segunda metade do mesmo século o Governador
João de Almada, rasga a rua do Almada, e o seu sucessor, Francisco
de Almada e Medonça constroi ousadamente a Rua de Santo António.
Na Cordoaria instala-se o Hospício dos Capuchos de Santo António
do Vale da Piedade. Na Rua da Fábrica constroem-se mais edifícios.
Fez-se
o passeio das Fontainhas, Teatro de S. João, Praça de
Santo Óvideo e respectivo quartel, etc ...
As
lutas liberais da primeira metade do séc. XIX, fizeram suspender
esse notável surto do desenvolvimento material da cidade. Mas
depois, os progressos acentuaram-se vertiginosa-mente.
Até
1836 o Porto tinha sete freguesias: Sé, Vitória, S.
Nicolau, Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos e Cedofeita. Pelo Decreto
de 26 de Novembro do citado ano, foram-lhe anexadas Lordelo do Ouro,
Campanhã, e S. João da Foz, e por carta de Lei de 27
de Setembro do ano imediato nova anexação se fez; a
da freguesia de Paranhos.
Na
origem das cidades, é a função militar talvez
a mais importante, e por ela podemos fazer uma ideia do papel desempenhado
pelas acrópoles. O caso do Porto é incluido nesta categoria
pela sua situação antiga, de última terra da
Galiza. Hoje a importância desta função, é
mínima como se compreende.
A
função política é de facto uma função
muito importante de tal modo que só por si explica a graduação
existente entre uma simples comarca e a capital de um país.
Olhando o mapa da Europa, vê-se que as capitais são geralmente
as cidades maiores.
O
desenvolvimento duma capital, explica-se pela sua tendência
a centralizar todos os serviços públicos.
A
função económica pode subdividir-se em: agrícola
encruzilhada, comercial e industrial, estas duas últimas reflectem
o caso do Porto.
Toda
a cidade é, mais ou menos, um lugar de trocas; a cidade deve-se
aos comerciantes; o direito do mercado é um facto capital na
formação duma cidade.
No
Porto não se deu apenas o caso do comércio local, mas
também o caso do transo e portos francos, na sua exportação
de vinho para todos os continentes.
O
desenvolvimento da grande indústria moderna, teve como consequências
a emigração das populações das aldeias,
para as cidades.
O
grande desenvolvimento da indústria, teve, como consequências
já apontadas, o inconveniente da superlotação,
a baixa de salários e a dispensa de grande parte de mão
de obra. Foi esse o grande problema do séc. XIX.
Com
o crescente aumento de população, a cidade viu-se na
necessidade de alargar, para poder dar abrigo a todos esses emigrados,
e fazer, de certo modo, baixar o preço da habitação.
Na
evolução da cidade, os factores económicos não
tiveram menos importância que os factores políticos.
A
concessão dum direito comercial por uma autoridade política,
foi um factor de prosperida- de para o aglomerado; facto notável
o do desenvolvimento e influência das indústrias na expansão
das cidades.
Pouco
a pouco principiam as especializações: uma familia ou
indivíduo, produzem certos objectos que trocam por outros.
Com
a revolução nas funções antigas o impulso
acelerou-se: primeiro água, ar, homem e animal; depois a moderna
força, o vapor, uma concentração de operários
em volta da máquina. Se a máquina eléctrica tivesse
sido inventada antes da de vapor, as consequências para o urbanismo
teriam sido bem diferentes.
O
maquinismo é a característica da nossa época
e são infinitas as consequências motivadas por ela, que
abrangem o lado económico, político e até moral.
Sob
o ponto de vista de urbanistas, só temos um a reter; a concentração
da população, que é dupla: na cidade e à
volta da fábrica.
Fora
todos os mecanismos da civilização, o Porto teve também
uma grande indústria agrícola: o cultivo e preparação
dos seus afamados vinhos. A acompanhar esta indústria, veio,
forçosamente, o comércio.