OS
PADRINHOS
O Verão está próximo.
Na Casa de Donanzati, em San Giovani Valdarno di Sopra há muito que fazer.
Que o diga o feitor, Giusepe Francesco Nasoni. Ainda por cima, naquele
2 de Junho de 1691, a noite foi mal dormida. Mas valeu a pena o sacrifício.
A sua mulher Margaretta deu-lhe o primeiro dos nove filhos que hão-de
ter.
O padrinho já está escolhido, Messere Mário, dono
da propriedade. Um bom padrinho é meio caminho andado para um futuro melhor.
Giusepe não esquecerá este princípio quando chegar a vez dos outros filhos,
e não se há-de achar mal.
O pequeno chama-se Niccolo, mas um dia verá o seu
nome alterado, costumes de um outro país que adoptará como seu, será então
Nicolau.
É ainda jovem que vai trabalhar numa oficina de Siena.
Aprende pintura, decoração, arquitectura. Tem como mestres o pintor Nasini
, o arquitecto Franchim e Vicenzo Ferrati.
Aos 21 anos é o responsável pelo catafalco para a
Catedral de Siena, por ocasião das cerimónias fúnebres de Fernando de
Médicis. O trabalho parece ter sido apreciado, ou não nos tivesse chegado
a notícia da sua execução.
Nasoni, para melhor se inserir no meio, integra-se
numa academia de artistas - o Istituto dei Rozzi. Os colegas dão-lhe como
alcunha "Il Piangollegio" , o motivo não se sabe ao certo, talvez
seja um homem um pouco triste.
Em 1715 é nomeado o novo arcebispo de Siena. Figura
importante, ainda para mais sobrinho do Papa Alexandre VII. Os preparativos
são grandes. Deverá ser recebido com pompa - o Istituto dei Rozzi escolhe
Nasoni para fazer os trabalhos.
Uns anos mais tarde, por ocasião
da eleição do novo grão-mestre da Ordem de Malta, Nasoni trabalha no Carro
de Marte que desfila no Cortejo.
Sempre que participa nesta celebrações,
as obras de Nasoni causam sucesso, quer pela riqueza das decorações, quer
pela técnica da construção. Uma arte efémera mas que não passa despercebida
a muitos. Entre eles, o Conde Francisco Picolomini que decide relatá-la
a D. António Manuel Vilhena - o homem que passados dois anos será grão-mestre
da Ordem de Malta.
A influência das Ordens religiosas
faz-se ainda notar. O poder que tinham conhecido na idade Média não desaparecera,
apenas se transformara.
A Ordem de Malta, que tivera origem
nas cruzadas, tem ainda uma organização que abrange um vasto território,
dividido em várias zonas - as nações, representando cada uma determinada
região. O seu centro situa-se na Ilha de Malta.
Em 1723, é grão-mestre da ordem D.
António Manuel Vilhena, que conhecia já o trabalho de Nasoni. Decide então
convidar o artista para lhe entregar as obras de pintura de tectos e corredores
do Palácio de Malta.
Nasoni tem fama na pintura decorativa.
Utilizando a têmpera e a tela, domina uma técnica que cria através da
perspectiva a ilusão das formas e do espaço - pintura ilusionista - fazendo
surgir nos corredores e tectos jarrões, flores, panos e colunas.
O trabalho é apreciado, e o tempo
que permanece em Malta serve também para contactar com diversos fidalgos,
entre eles um português - Roque Távora e Noronha.
|