...A Cidade do Porto...

Pedro Gomes

24 anos Est. Arquitectura

Diz-se, e eu acredito, que é na Ribeira que pulsa o coração do Burgo. Em tempos uma paleta de cores vivas, hoje uma cidade de cores pardacentas. As fachadas sempre em festa no espelhar dos seus azulejos. A cidade estendeu os seus vigorosos braços para Norte e para Leste, entre abundantes manchas de verdura, já que o mar com suas praias convidativas, foi limite intransponível.

Entre a Sé e a Ribeira, as casas amontoam-se umas nas outras, as quelhas e os becos descem pelo morro, multiplicam-se em degraus e mais degraus, muitos escorregadios. Nas paredes escorre uma espécie de suor frio, e não é do nevoeiro, nem da sombra, a humidade vem das entranhas dos pardieiros, atravessa a espessura dos tabiques, extravasando para pátios e escadarias.

Há quem habite entre aquelas paredes sofrendo na pobreza, fazendo filhos e até sonhando; os olhos pregados ao postigo donde se avista o rio de pele suja e triste, ou uma, duas, três gaivotas; essas não faltam aqui no Douro, que é o nome do rio da minha Cidade...

 

 

Iva Sofia

22 anos Tradutora

Mudei-me para o Porto aos doze anos. Não sou sua filha carnal, mas esta cidade adoptou-me e sinto-me parte da família. No início não sabia explicar muito bem o motivo desta escolha incondicional. Hoje continuo a ter dificuldades em definir e qualificar esta cidade, não por falta de palavras, mas pela existência de uma miríade de adjectivos capazes de a caracterizar. É uma cidade fascinante, moldada pelos ideais do Liberalismo, pela força da união e pela união da força (cliché q.b.!). Não é simplesmente um aglomerado de pessoas. Os habitantes desta cidade assumem, colectiva e voluntariamente, a responsabilidade de ser "do Porto, carago", gente do Norte. É uma cidade com carácter. Não confundir com personalidade. A sociedade contemporânea está cheia de personalidades, isto é, pessoas que se distinguem das restantes por qualquer aspecto exterior. Pelo contrário, carácter é algo intrínseco, que resulta da interacção entre o pensar e o agir e resulta da formação cultural. E Cultura nesta cidade é coisa que não falta! As Lutas Liberais e todas as batalhas que conferiram ao Porto o título de "cidade invicta", os movimentos literários, os movimentos da Renascença Portuguesa, da Seara Nova e d’A Águia, a arquitectura, as figuras intelectuais e espirituais como Ramalho Ortigão, Almeida Garrett, Antero de Quental, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro e Eça de Queirós bastam para lustre e glória desta terra.

Esta não é a minha terra natal. Apesar disso foi cá que adquiri as mais fortes impressões que moldaram e formaram o meu carácter. De minha vontade, escolherei sempre esta a cidade para viver!

"O génio ousado e empreendedor, as faculdades de trabalho, a coragem, a energia, o espírito progressivo, altivo e independente, o ânimo forte, generoso, pundonoroso e tolerante, o sincero amor da Pátria, são as mais salientes e tradicionais qualidades da antiga e boa cidade do Porto."

 

 

Rui Gomes

53 anos Engenheiro

O meu filho pediu-me que escrevesse algo sobre a cidade do Porto.

É curioso, depois de 53 anos a habitar nesta cidade, pouco me recorda que valha a pena mencionar.

Significará este sentimento uma sensação de frustração ou desilusão quanto à região onde moro e trabalho?

Significará que provavelmente muito pouco tem sido feito em prol desta urbe?

Significará que este meu sentimento se estenderá a todo o país, quiçá a todo o mundo?

Significará que com o decorrer dos anos me tornei menos tolerante e aquele meu desejo de aproximação da perfeição se tem vindo a diluir em face da mole humana demasiada ingénua para que este meu desejo se alcance?

Significará que tudo é subjectivo e efémero?

Realmente pouco haverá a realçar na nossa cidade, excepto provavelmente o facto de nela morar.

 

 

Jorge Salgueiro

24 anos Biólogo

O Porto é uma cidade escura e suja. As ruas, de tão estreitas, parecem que nos vão esmagar e estão sempre mergulhadas em sombra, e os edifícios, apertados uns contra os outros e imundos de anos e anos de fuligem acumulada, parecem livros poeirentos esquecidos numa estante. No Inverno, chove constantemente, e o vento compete com o frio para nos fazer sentir miseráveis. No Verão, o vento desaparece para outras paragens e a cidade torna-se uma fornalha onde nem uma brisa sopra para nos aliviar. Acima de tudo, consegue ser terrivelmente deprimente. É uma cidade cinzenta.
Foi preciso ir morar, mesmo que por pouco tempo, para outra cidade para que eu percebesse que, por muitos defeitos que eu lhe ponha, o Porto será sempre o sítio a que eu chamo 'casa'.

 

 

Pedro da Silveira

22 anos Est. Arquitectura

"Quem vem e atravessa o rio

junto à Serra do Pilar

vê um velho casario

que se estende até ao mar"

In "Porto Sentido", Rui Veloso – Carlos Tó, 1986

Porto. o Rio Douro,... as pontes,

uma silhueta.

Da margem sul,

uma ponte de betão liga-nos à Faup,

uma outra,

de ferro a ir de encontro à Sé...

Os cinzentos do granito vs. um branco

premeditado.

Avenidas vs. becos e ruelas,

cada qual com uma magia própria,

um carácter único, a sua identidade...

As gentes e seus costumes, os pensamentos

e visões...

Andando pelo Porto encontram-se ilhas,

o velho casario, a Ribeira, tradições singulares,

a torre dos Clérigos, mas também o Museu de Serralves,

e o Teatro de S. João...

E tantas outras coisas dignas de referência...

A contemporaniedade e o passado de mãos dadas,

lado a lado, em cada centímetro percorrido desta cidade,

de uma forma única.

É difícil falar de algo que está tão perto e por vezes tão longe de nós...

 

 

Helder Vasconcelos

19 anos Designer

O Porto situado na margem direita do Rio Douro é a cidade que jamais alguém esquecerá, cheia de cor, hábitos e costumes, tradições e festas. Os seu edifícios altos e esguios compõem as ruas estreitas em paralelo antigo onde cada pedra já tem muito que contar. Histórias que remontam desde já há muito tempo quando o Porto era alvo de guerras e contrapartidas e só existia o que estava dentro da sua protecção. Protegido pela Muralha Fernandina com 3 mil passos de perímetro e 30 pés de altura, sobrevivia essencialmente da área portuária, por onde fazia chegar a sua cultura ao outro lado do mundo. Hoje com a evolução urbanística sempre em crescimento podemos ver ainda a mesma cidade com o mesmo espirito acolhedor e que sempre se fazia conhecer. E sendo Património Mundial e Capital da Cultura o Porto fica agora de muralhas abertas para todos aqueles que desejam saber e conhecer de perto toda a cultura desta zona histórica.

 

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